Michael Jackson: No início
d.C. 2009/1
Carlos Irineu da Costa in Improbabilidades, música, pop

Não sou fã de Michael Jackson. Ou melhor: sou fã da época em que o cantor/dançarino era “tutelado” por um dos maiores gênios da música black, soul, funk, jazz, pop – da Música, como um todo, tirando Clássico e Heavy Metal, acho – do século XX, Quincy Jones: instrumentista, produtor, compositor, arranjador. Gênio em todas essas coisas.

Quincy estava ao lado de MJ em seus grandes momentos: ele é ‘o cérebro’ por trás de “Off the Wall”, um disco genial (pouco ouvido, mas todo mundo reconhece imediatamente o riff de “Don’t Stop ‘til You Get Enough”) que contou, entre seus compositores, com Stevie Wonder e Paul McCartney, além de MJ, com os grooves e sacadas genais de bateria / baixo / produção em geral de Quincy Jones. 

Vinte milhões de cópias vendidas no mundo inteiro, numa época em que ganhava-se dinheiro com música e pessoas sérias tinham condições de entrar em estúdios sérios para trabalhar (música não é diversão, música era o trabalho de muita gente até poucos anos atrás).

Quincy estava ao lado de MJ no disco mais vendido do planeta: Thriller, com seus 110 milhões de cópias vendidas. MJ ganhou mais de U$ 2o0 milhões só com este disco.

Além do sucesso de Thriller, impulsionado pelo na época caríssimo vídeo-quase-filme para a MTV dirigido por John Landis, no ápice de seu sucesso pelo “Lobisomem Americano em Londres”, na época em que lobisomens era lobisomens de verdade, e não a coisa EMO de hoje.

Ainda em Thriller: “Billie Jean”, Beat It” e “Wanna Be Starting Something”.

O som e a forma de criar ritmos secos, sincopados, com baixos fortes, definidos e fáceis de gravar que impulsionavam as músicas o tempo todo definiram “o som” de Michael Jackson.

É difícil explicar a quem nunca acompanhou a gravação de um disco em estúdio o quanto o produtor “dá forma” não só às músicas, ao som, mas ao projeto musical de um disco em si. Inúmeras bandas e cantores devem seus maiores sucessos em grande parte aos produtores que escolheram, encontraram ou com quem trabalharam, por bem ou por mal.

O que veio depois destes dois discos não importa: é uma repetição do mesmo. “Smooth Criminal”, uma boa música, reutiliza todos os elementos típicos que Quincy Jones havia colocado no repertório de Michael. Funciona, mas não tem mais surpresas.

O que Michael sempre teve – e isso era, me parece, só dele – além da garra para fazer isso tudo funciona e a voz, na época poderosa, funky, black e pop ao mesmo tempo, com um ritmo e uma pegada extraordinárias, era a forma única de dançar. O corpo de Michael inventou movimentos que todos logo começaram a copiar mas, vendo os vídeos “da época”, ninguém dançava como ele.

Se eu tivesse que definir duas marcas únicas para o pop mundial dos anos 80 à virada do século, para mim seriam Michael Jackson e Madonna, sobre quem escreverei em breve.

Madonna continua sendo uma deusa que se reinventa o tempo todo. Michael morreu, e já estava morto antes, depois de todos os escândalos e das bizarrices de sua vida pessoal que atropelou a profissional.

Por isso foi deprimente e constrangedor ver, hoje, o “documentário colado às pressas” This Is It, onde ficou bem claro que havia um grupo de gênios – dançarinos, músicos, diretores, iluminadores, produtores – cercando, no final, uma estrela que havia implodido.

Mas isso é outro post.

by Carlos Irineu

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