doppelgänger
d.C. 2009/4
Carlos Irineu da Costa

é impossível escrever como você mesmo, após algum tempo.
a pessoa que escreve não é bem a pessoa que está sentada com o teclado sob os dedos.
o texto da pessoa que escreve não é bem o que a pessoa que digita estava pensando.
coisas se desviam, coisas mudam, o texto encontra uma voz própria
e deixa isso bem claro para seu autor.
o que é um texto? é algo que um autor escreve.
o que é um autor? alguém que escreve textos.
ciclos.
mas para poder escrever de fato – dizer coisas, não apenas rabiscar pixels –
é fundamental se tornar Um Outro, aquele que já não é mais você,
que está um pouco fora da sua vida.

e o que você vai dizer sobre esta pessoa, ou o quê esta pessoa vai dizer
(e você transcreverá, paciente) ?

para poder escrever de forma livre é preciso antes criar um doppelgänger,
um outro si-mesmo, um "heterônimo", supondo que eu concorde com esta idéia,
alguém que é o si-mesmo mas também está fora dele.

estes são relatos de meu doppelgänger, de uma Realidade Ampliada,
de alguma outra densidade,
por vezes alternativa, por vezes completamente estranha.

Charles K., Veneza, 15 de outubro de 2008

Article originally appeared on Doppelgänger (http://www.doppelganger.com.br/).
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