repositório
d.C. 2009/1
Carlos Irineu da Costa

“o som da máquina de escrever era como um .38, só que mais rápido.”  e assim terminava o seu mais recente comcast, com um detetive típico dos antigos romances noir digitando, na última cena, a própria história em que estava incluído, aquilo que os consumidores teriam acabado de ver.

sono. olhando pela janela, ainda. impregnado com as imagens de muitos vídeos antigos que tinha visto durante aquela produção: o Repositório... tão estranho pensar que quase ninguém tinha acesso ao Repositório e que havia tantas coisas para se ver por lá. já não sabia se as pessoas se interessavam, se tinham tempo. e muita coisa tinha se perdido no Antes, quando a internet arcaica havia sido destruída, hordas de vírus mutantes invadindo sistemas, queimando bancos de dados, tudo... os vírus apagaram da memória humana tudo aquilo que não estava armazenado em mídia física nos Keiretsu. o Depois ficou com aquele buraco, um hiato entre o Primeiro Ciclo da Era Fora e o Antes.

já não era mais possível integrar os fragmentos. o que tinha sido era um passado estranho, tempo de uma outra Humanidade da qual restavam prédios, relíquias em museus, muitas peças soltas que se tornaram incompreensívels. alguns ainda pesquisavam, arqueologia do saber, mas já não era importante.

as mudanças eram importantes. o futuro seria sempre melhor. olhar para o passado era perda de tempo.

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