a distância infernalmente tranquila entre nós [poesia]
d.C. 2011/2
Carlos Irineu da Costa in Poesia, aqui dentro, poesia

ela me diz “não poderá passar impune” quando eu digo

“a distância infernalmente tranquila entre nós”

e respondo com um conto, respondo improvisando à noite ao piano,

entre paredes nuas, intervalos harmônicos soturnos

iluminados esparsamente pelas luzes da rua

a fumaça sobe do cinzeiro pousado ao lado, vodca,

no improviso eu digo “me beija, e nada terá passado impune”.

 

mas o beijo se perderá na distância infernal,

a tranquilidade forçada dos dias se manterá

nossas vidas assombradas por desejos

(estes, muito próximos, e me acordam à noite)

passaremos outra tarde esperando a noite depois daquela

dando vida às Musas com nossas paixões

exceto que Musas não beijam;

 

escritores, músicos, podem fazer surgir dos dedos

desejo universo dos infinitos caminhos

(ficcional é aquilo que bifurca os percursos do real)

mas escritores, frente à telateclado

ao final do último ponto se deparam

com a mesma distância infernalmente

vazia.

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