carros: design cut & paste
d.C. 2011/4
Carlos Irineu da Costa in Improbabilidades, Tecnologia & Hardware, carros, tecnologia

não conseguia mais olhar para os carros sem ver outros carros em cada um deles. saíam modelos novos, mas aquilo que ele começou a chamar de “escola de design frankenstein”, ou “multiplicação do Mesmo”, se espalhava.

a frente de um carro era claramente copiada do modelo de sucesso de outra montadora. os faróis e lanternas tinham “modas”, e colocá-los mais para fora - onde quebrariam mais facilmente, dando retorno nas peças de reposição - ou mais para dentro - onde não contribuiriam tanto para o design, me contou alguém, mas era um lugar muito mais sensato … isso virou moda.

ficava imaginando: “na passarela, o novo modelo XPTo 2009 - notem o retorno dos detalhes em cromo na traseira, a tendência mundial de vidros recurvados, as rodas com porte esportivo e a frente bem curvada, última tendência em Milão”.

era quase assim.

e as linhas - todas roubadas. a tal ponto que não dava mais para saber o que tinha sido roubado de quem: estava ficando tudo igual ou, pelo menos, reduzido a quatro ou cinco tipos básicos, “categorias”, sei lá: SUVs monstruosos (“meu pau é do tamanho do meu carro”, ou “qualquer coisa menor que isso e fico inseguro nessa violência urbana”), ultra-sedans com preços de apartamentos (“olha, um Volvo S900, ele é mais caro que um apartamento de dois quartos em qualquer lugar menos o Leblon!”), compactos (“eu até tinha mais dinheiro, sabem?, mas acho que não preciso de nada maior que isso e também não sei parar muito bem nas vagas”), versões esportivas de tudo o que está aí em cima (é importante ser esportivo nos engarrafamentos, as pessoas vão olhar) e uns troços realmente baratos, que ele jurava que eram projetados por estagiários com base nas embalagens de leite.

ficava pensando quando é que voltariam a ter apenas um carro, igual para todos - um Modelo T v2010. algo como o ultracapitalismo mundial realizando o sonho do utilitarismo equalitário do antigo Bloco Comunista.

“mais cinco anos e chegamos lá”, pensou, avançando mais 10 metros em seu Modelo T, cinza-padrão.

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