Conexão Austrália 4 – Tron 2: boink! [uma resenha direto de Sydney]
d.C. 2010/3
Carlos Irineu da Costa in Cinema & Vídeo, Crítica, Web & WebLore & iNet

Como já disse antes, uma das coisas legais de viver na Austrália (temporariamente) é que estou sempre no futuro – enquanto vocês, nobres concidadãos, estão acordando tranquilamente, meu dia já está acabando e estou partindo para o dia seguinte! Acho muito legal isso, pensar que sexta aqui já acabou mas, se eu mandar mails para o banco, o advogado e meus contatos profissionais, estão todos na manhã de sexta, com um dia inteiro de produção pela frente!

Vim falar sobre Tron 2, após ter escrito “WOK!”, que nem terminei, na verdade.

Recapitulando: 1982, alguém ficou animado com “Pong” (!!) e resolveu fazer um filme que tivesse a ver com “esse negócio de computadores”. Velha história de cara bom, cara malvado, poder corporativo, hackear mainframes e ir parar dentro de um deles. Há uns 5 filmes mais ou menos no gênero (acho que a versao séria de Tron é, muito obviamente “13o Andar”, um clássico em muitos sentidos – um tecnonoir, inclusive - que não me parece ter sido cultuado da forma como mereceria) …. e a história de Tron era, pelo que lembro, interessante apenas para meu “eu” que tinha lá seus 15 anos na época.

Única coisa interessante do filme: a “light race” de motocicletas na Grid que se tornou um clássico dos games de fliperama mais tarde, e depois Commodore, Amiga, PCs primitivos etc.

Márcia, minha amiga, diz uma coisa muito séria sobre filmes: se a premissa é ruim, para que assistir? Não foi bem o que ela disse, mas é quase, e eu incorporei a coisa quando digo que os livros que leio, como editor, têm que ter “questões”. Se você não tem questões, você não consegue dizer por que uma trama é relevante. Não consegue criar conflitos para os personagens, fica tudo meio vazio, sem sentido, saindo de nada e indo para lugar algum.

Isso é Tron 2: um filme que não tem questão alguma, cujos personagens parecem ter saído das teorias meio toscas do “percurso do herói” escritas lá pelo Campbell em 70 e poucos (e outros, acho, mas sempre lembro do Campbell por causa da sopa e porque nunca tive saco de ler o livro dele!), com diálogos que são sucessões de clichês (“me conta como é o nascer do sol”, diz a “13” do House, linda como morena channel fetiche neste filme) e …. pouco depois do início do filme, um personagem diz uma frase que explica – em uma só frase, curta – como vai acabar o filme. O resto do filme é uma espera tediosa para aquilo acontecer. Tensão? Nenhuma, você sabe que “os do bem” ganham no final. Em dúvida? Quem é “do mal” está usando neon laranja, quem é “do bem” essencialmente está usando neon azul.

Daí supostamente tem os efeitos 3D blablabla. Um saco. Eu hoje fico impressionado quando vejo o realismo do GT5 rodando no Playstation 3. Um bando de “bonecos” meio duros num mar de neon, neon, neon … é fácil demais. Legal, os light cycles melhoraram, os jogos na Grid agora têm discos e são 3D. Mas pegaram a dinâmica essencialmente do Super Mario Worlds (ou algo assim, meu filho tem) do Wii, pegaram coisas de jogos diversos (Mario Kart me vêm a mente, curiosamente) e juntaram tudo com neon e um visual high tech sem nenhuma surpresa – clichês visuais, clichês nos efeitos.

O final é tão incrivelmente previsível que, na onda atual de “viradas” nos finais de Hollywood, eles me saem com dois “deus ex-machina” completos (outra hora explico), o que é tecnicamente conhecido como “putz, essa cena vai ferrar tudo!, mas, ah!, tem uma coisa aqui que eu vou mudar, sem motivo interno algum, e aí resolvo, pronto”.

Inovação? Hum. Não, nenhuma.

Mas eu devo deixar uma coisa clara: eu SEI que meus amigos menos chatos com gráficos e os que são vidrados em ação vão dizer que o filme tem “adrenalina”. Novamente, eu ficaria em casa jogando qualquer jogo, o filme é uma perda de tempo completa. MAS (eu sei: o segundo no mesmo parágrafo) acho que é importante pagar para ver numa boa tela (em 2D, em casa, em DVD, juro que vai ser uma catástrofe) porque, durante uns 30 minutos, coisas interessantes acontecem.

Melhor parte do filme, para mim: os stunts ‘reais’ com pessoas fazendo coisas diversas e uma Ducatti sendo pilotada a toda, como deve ser, com as Ducatti.

Aguardo comentários…. 

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