Kindle vs. iPad vs. Android: iPad vence
d.C. 2010/4
Carlos Irineu da Costa in Tecnologia & Hardware, iPhone

Resumo executivo para apressados: No texto abaixo, procuro mostrar que o iPad é a melhor solução atual para quem precisa de um leitor de eBooks. Estabeleço uma comparação com o Kindle DX e especulo sobre as diferentes estratégias de mercado em jogo.

Continuo sendo um forte crítico da Apple - a postura arrogante de Jobs é injustificável e intolerável - mas mantenho minha posição de que, não importa que tipo de tablets venham a ser lançados, rodando Android ou MS Whatever, é difícil fazer algo mais interessante e mais simples de usar que o iPad.

Nunca publiquei meu artigo a respeito, mas achei tolice a Amazon ter partido para o mercado violentamente competitivo de devices (dispositivos) em vez de se entranhar naquilo que é seu foco de negócios, aquilo que realmente fazem bem: vendas on-line.

Ao criar o Kindle - e depois ao criar o Kindle que funciona de fato, o DX - Jeff Bezos talvez estivesse tentando solucionar um impasse, porque não havia, na época, nenhum leitor decente de eBooks a não ser o Sony Reader, um fracasso comercial por vários motivos.

Acho lógico pensar, como eu pensava na época, que um grande problema do Sony Reader, além do tamanho reduzido, era a falta de uma loja para vender ... livros. A Sony criou uma loja. Não foi bem sucedida porque nunca foi levada a sério. [1]

Então vamos pensar que a Amazon criou o Kindle para poder vender Kindle Books. Como um Kindle Book custa "quase zero" e é vendido pelo mesmo preço de um livro impresso, a margem de todo mundo nessa história, seja lá qual for o acordo atual deles com as editoras, é potencialmente muito alta.

A Amazon Kindle Store afirma ter, hoje, mais de 540.000 títulos.

O que há de errado com o Kindle, então? Nada. O DX tem um formato adequado para ler PDFs e, naturalmente, livros em formato Kindle. É chato não ter backlight, mas livros de papel possuem a mesma limitação.

A questão é que a Amazon, num ato que eu considero "suicídio comercial" [2] lançou o Kindle for PC e o Kindle for iPhone, e agora também o Kindle for iPad.

Comprando um iPad, pelo mesmo preço que um Kindle DX agora destinado ao lixão tecnológico, você tem um dispositivo que é colorido, sensível ao toque, bem acabado, serve para mil coisas [3] e ainda permite ao seu usuário ler livros no formato iBook que a Apple lançou...

Além disso, você tem acesso aos 540 mil livros Kindle da Amazon, graças ao Kindle for iPhone / iPad que mencionei acima.

Pergunto: por que alguém compraria um Kindle DX hoje, em vez de um iPad? Sei lá.

O Kindle é tecnologia morta. Para mim, a briga agora é entre o formato de vendas e ePublishing (e royalties!) da Amazon versus o formato da Apple Store. É aí que está o jogo.

E, para fechar meu artigo, é também aí que penso que o Android entra no terreno perdendo de lavada, porque não compreendeu o terreno.

De novo: a última coisa que eu quero no meu computador é um OS da Apple e tecnologia fechada da Apple.

MAS a última coisa que eu quero no meu dispositivo de surfar web, ler livros e ver filmes é saber qual o OS que ele usa. Assim como minha TV, espero que ele ligue e funcione.

E ponto final.

 

[1] A história de como a Sony deixou de ganhar mais uma batalha é longa e eu acho que já publicaram um livro sobre a sucessão de decisões empresariais ruins que a Sony tem acumulado. Eu tenho que escrever um artigo sobre o Sony Walkman. A Apple está indo muito bem com o iPhone, tendo vendido, até o abril de 2010, cerca de 50 milhões de unidades. Nos 20 ~ 25 anos que dominou o mercado de "tocadores de música" com o Walkman, contudo (1979 ~ 1999, embora a marca continue existindo), a Sony vendeu 100 milhões de aparelhos. E, claro, não podemos comparar vendas de dispositivos eletroeletrônicos dos anos 80 e 90 com as vendas atuais, num mercado muito mais propenso não só a comprá-los, como também a ter 3 ou 4 de cada. Eu ficava bem feliz, quando tinha meus 18 anos, de ter UM Walkman, e achei o máximo quando pude comprar meu primeiro Discman e ouvir CDs em vez de fitas!

[2] Se não for suicídio é, ao menos, uma tentativa impossível de ter o melhor dos dois mundos: venda de hardware Kindle e venda de livros Kindle. Eles vão perder na arena do hardware, a menos que façam uma parceria improvável com a Google e lancem um Kindle Android, o que seria enfiar os pés pelas mãos – Amazon não fabrica devices, a Amazon não entende o que é o mercado de devices… Mas, sim, eles têm dinheiro suficiente para bancar uns 10 anos desse jogo até entender como mudar as regras do jogo.

[3] A lista completa é tão longa quanto a variedade de aplicativos disponíveis, hoje, na Apple Store. Para um usuário básico, eu diria … o básico: navegar pela web, ler e responder mails, interagir com o Twitter / Facebook, ver vídeos do YouTube, criar e ler documentos, planilhas e apresentações, ver filmes e séries de TV, ouvir música, fazer música e jogar.

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