[22 nov 2010: título corrigido; revisão ortográfica e pequenas alterações no texto]
Acordei lentamente da minha “soneca da tarde” numa quinta. Odeio dormir à tarde, mas estava sendo uma semana difícil. Tive um daqueles sonhos quando já se está quase acordado mas, como estava muito (muito) cansado, não conseguia levantar e meu cérebro quase-consciente resolveu se meter no sonho e discutir assuntos. Foi divertido – e mostra um pouco por que alguns dentre nós têm a opção de escrever ou escrever ou enlouquecer. ~;0)
Formalmente, para quem se interessar, é um texto sobre as relações entre as premissas dos textos ficcionais e o desenvolvimento de uma trama. Mas é também uma viagem completa – vocês, leitores, decidem o que querem tirar daqui. Eu estava só sonhando as coisas que sonho.
O Cérebro pegou um roteiro de filme de ação já interessante (meu sonho imediatamente anterior) e criou novos elementos em cima disso.
No primeiro sonho, o planeta todo era monitorado por computadores, satélites e câmeras, mas as corporações, os governos e as máquinas precisavam de pessoas especiais, sobre-humanas, munidas de implantes de GPS e câmeras de visão ampliada, para conseguir “ver” em lugares ou situações difíceis: nuvens atrapalhando os satélites, tempestades de neve e ainda aquelas vezes em que é preciso entrar dentro de cavernas ou mergulhar em mar revolto, por exemplo. Diria que parte disso pode ser feito por aviões-robô, e foi quando eu comecei a discutir comigo sobre essa premissa ter problemas de desenvolvimento.
Eu tinha criado um personagem que seria um “superagente” (bleargh de recauchutagem ortográfica!), equipado com um bote “inafundável”, e que ia se meter numa tempestade marítma para ver algo que os satélites não conseguiam ver – descobrir o que estava havendo com um plataforma de petróleo no Mar do Norte, por exemplo.
Claro que a próxima questão é: mas e se o bote inafundável for atacado por uma orca, a baleia assassina que não é baleia?
O Sonho passou um tempo pensando nisso. Nem discutiu se há orcas no Mar do Norte ou não, mas é uma questão importante. O problema d’O Sonho era se ele poderia criar um material e uma construção que uma orca, tendo aqueles dentes de orca e mandíbulas de orca, não conseguisse detonar nem destruir dando aquelas pancadas de orca com o corpo.
Foi quando O Sonho teve outra idéia legal, porque o Cérebro obviamente começou a se encher de pensar sobre como construir “botes à prova de orca” (a baleia assassina que não é baleia, acho que já mencionei), embora a indústria de plataformas de petróleo do Mar do Norte talvez gostasse de saber das conclusões a que cheguei. (Eu talvez ainda desenvolva a idéia como conto, porque gosto de um ser humano ‘no limite’ que sirva para fazer aquilo que, hoje, desejamos que as máquinas façam. É uma boa inversão de idéias, merece ser explorada.)
O Sonho resolveu então se lançar sobre uma nova hipótese e teorizar sobre o que iria acontecer se, numa “Hipótese Gaia”, os seres marinhos desenvolvessem uma civilização. De forma ficcionalmente coerente, deveria ser completamente diferente da nossa, e lembrei da minha neurocientista predileta dizendo que nosso Imaginário é limitado por nosso conhecimento do Real, então resolvi (ainda sonhando) que puxaria a coisa até o ponto em que o Imaginário tivesse que extrapolar sobre o Real e, modulando parâmetros, tentasse chegar a algo plausível, mas não existente ainda.
Ao menos não ficaria óbvio, entendem? Não seria uma trama do tipo “Atlântida” ou “os golfinhos na verdade são extra-terrestres” (embora Douglas tenha se saído bem com isso, mas, claro, a intenção de Douglas era ser non-sense). Foi o que O Sonho pensou, ao menos.
Para onde foi tudo isso? Para não ficar enorme, respostas & uma grande trama para Hollywood dentro de um ou dois dias, aqui no site.