poesia a seco
d.C. 2010/5
Carlos Irineu da Costa in Poesia, literatura, poesia

[produzido em 2000; prazo de validade indeterminado]

te deixei entrar,
ainda quando soubera
que trouxeste na língua
veneno que me mataria.

coloquei-me exposto em vitrine
para que levasses o que fosse
porquanto já seria mesmo teu:
pelo contrato, registrado
em ofício de notas, seria minha
contrapartida por jus e de direito
deixar-te estar comigo
sem prazos ou revogação.

tempo passado,
mudanças de continente
ponte em escombros
recebo no presente
teu silêncio e descaso:

não, nada; hora alguma.
passe depois, talvez?

daria meus restos aos cães
se me livrassem da irritação de viver
mas se foram contigo, eles também,
farejando no ar uma alegria
que não soubera lhes dar.

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