Imagens & Tópicos
Das internas
Quinta-feira
jul012010

Como usar “ao invés de” e “em vez de”

Da série “Sendo Sensato com a Língua Portuguesa”.

Todos nós, escritores ou não, profissionais da indústria editorial ou não, temos (suponho, mas suponho com razoável certeza) pontos cegos. Coisas que nunca conseguimos lembrar ou, mais precisamente, talvez coisas que não nos interessem o bastante para merecerem ser lembradas.

Eu sou quase incapaz de lidar com “regras” sintáticas. Ênfase no sintáticas. Para mim, quase toda a gramática funciona com bases semânticas. Eu tenho a gramática semântica da língua portuguesa de Mário Vilela e Ingedore Koch, uma colaboração Portugal – Brasil editada pela Almedina.

E toda vez que minha filha, agora com dez anos, me pede ajuda para estudar português eu fico atrapalhado, porque fui treinado para identificar problemas nas ‘regras’, mas criar uma ‘boa regra’ para uma criança de 10 anos não é trivial. Espero poder melhorar isso, um dia.

Por enquanto, posso resolver esse dilema completamente sem sentido, para mim, existente entre “em vez de” e “ao invés de”.

Dizem que “em vez de” significa “no lugar de” e que “ao invés” tem sempre um sentido de “oposição”, como se fosse um “ao contrário de”. Tentar diferenciar “oposição” de “substituição” numa frase normal, contudo, em geral é muito difícil ou impossível.

E, enquanto alguns manuais de normas (editoriais ou não) dizem que são coisas diversas, o “Guia de Uso do Português”, de Maria Helena Neves [Unesp] – um guia que eu acho particularmente bom e sensato e que não tem a arbitrariedade dos “manuais de redação” publicados por alguns jornais – diz o seguinte: “A expressão em vez de significa: […] ‘ao invés de’, ‘ao contrário de’ ”.

As duas expressões são iguais? Depende do ponto de vista, como tanta coisa em gramática.

Mas, como dá confusão quando alguém ‘resolve’ que são diferentes, eu resolvi usar apenas “em vez de”.

A vantagem é que “em vez de” sempre - sempre –pode ser usado ao invés de / em vez de “ao invés de”.  Brincadeiras à parte, é isso mesmo: em vez de usar ao invés, use em vez. Ah, bolas!, estou sendo irônico de novo!  ~;0)

Em vez de sair, entrei. Em  vez de me irritar, achei divertido. Em vez de chover, fez sol. Em vez de vetar a medida, aprovou-a.

Ainda não encontrei um exemplo em que ficasse realmente estranho usar “em vez de”.

Não é regra, mas é o que me parece mais sensato.

CDC

Quarta-feira
jun232010

Regências bizarras no jornal 

A manchete d’O Globo de hoje é: “Aumenta a dependência do Brasil ao capital estrangeiro”. Eu paro na cozinha, perplexo, e fico pensando: como alguém depende ao alguma coisa?

Não pode. Não sou gramático, sou sensato - o que talvez me torne meio cruel, às vezes, porque acho que a semântica - ou a “lógica dos sentidos” daquilo que falamos e escrevemos - vem antes de qualquer regra obscura que alguém possa invocar para publicar uma manchete dessas.

Se você diz “dependência ao”, do jeito que está lá, então poderia dizer “estou muito dependente ao cigarro”, “acabei me tornando dependente à Coca-Cola”. Alguém diz isso? Pois é.

Se diziam em maio de 1935 e foi parar na edição não revista e não atualizada de algum dicionário raquítico de Regência Nominal, eu lamento. Em 2010, temos os usos válidos em 2010 e não há motivo para publicar um ‘toiso’ desses na primeira página.

Minha próxima pergunta é: como resolver o problema. Óbvio que não dá para dizer “Aumenta a dependência do Brasil do capital estrangeiro”. Fica ambíguo.

Não escrevo manchetes de jornal, eu sou sensato. Teria dito “Brasil depende cada vez mais do capital estrangeiro”, o que teria evitado os dois problemas.

Pessoas sensatas têm problemas insanos.

E este é um post curto só para manifestar minha dependência “à” lógica no idioma português (e nos outros também).

Quarta-feira
jun162010

O que é ‘Traduzir’ - parte 1 de infinitas outras

Acho que é hora de eu retomar minha idéia de escrever sobre tradução, não do ponto de vista mais técnico, falando sobre práticas e preços e formas de fazer as coisas, mas pensando em algo um pouco mais amplo e tentando, talvez, ajudar o famoso “público geral” a entender um pouco melhor o que é feito durante uma tradução.

A primeira coisa a dizer é que traduzir palavra por palavra não funciona. A segunda coisa a dizer é que traduzir literalmente, frase a frase, continua não funcionando. A terceira coisa a dizer é que não há uma única forma de traduzir, não há uma única tradução possível e, na maioria das vezes, tradutores discordam de outros tradutores quanto às soluções encontradas.

Mas isso vale também (de outras formas) para medicina, consultoria, programação e tantas outras coisas, não é?

Tradução é um aprendizado constante, uma tentativa de superação a cada livro. Tradução é procurar, dentro de um livro, aquilo que é O Livro (nele), e tentar colocar isto para fora da melhor forma possível, deixando todo o resto (aquilo que não é O Livro) em segundo plano.

Se soa confuso, basta pensar em algo ainda mais confuso: nem sempre os autores sabem o que querem com uma palavra, uma frase, um parágrafo. Nem sempre os autores são bons ou seguem uma lógica razoável ou explicam algo de forma compreensível ou dominam realmente bem seu idioma. Ainda assim, e sobretudo nesses casos, o tradutor é obrigado a completar as lacunas, a encontrar um sentido vago, que seja, mas que ‘encaixe’ no texto e que, na melhor das hipóteses, seja tão aberto / vazio / ilógico / ambíguo quanto o original.

Como leitor, nunca se esqueça de que nós, tradutores, partimos deste ponto de partida já cheio de muitas limitações, que é O Original. Logo em seguida temos que lidar com uma segunda coisa complexa: todas as referências sócio-culturais filosófico-existenciais pop-internéticas etc. que um autor tem em seu idioma e que nós, aqui, em português do Brasil, não necessariamente temos.

Como tradutor, a primeira coisa que você precisa esquecer, ao começar uma nova tradução, é que existe um “autor” que precisa ser respeitado. E há uma coisa de que é preciso se lembrar, a cada livro: ele é único, ele precisa ser entendido e traduzido como algo único, ele não é “igual” ou “parecido” com quase nada que você já fez (infelizmente, hoje, isso não é mais verdade, mas seria um outro longo assunto). Além disso, o texto em sua tela só tem uma chance no mercado e depende, em grande parte, de você para viver e para poder chegar às pessoas que desejam ler aquelas palavras.

Devemos fazer uma pirueta paradoxal e, enquanto  apagamos essa figura autoritária do Grande Autor que é preciso respeitar, precisamos ter dentro de nós a idéia de que uma pessoa, um escritor (ou supostamente um escritor…) colocou seu tempo e (mais uma vez, supostamente) deu o máximo de si para criar aquele livro.

A arte da tradução está em ser capaz de apagar completamente o autor enquanto encontramos a voz mais próxima daquele autor, o tom mais harmônico para aquele livro. Uma tradução precisa ser transparente mas, para chegar a tal ponto, ela precisa antes encontrar a voz do autor em seu idioma original e transcriá-la no idioma de destino: no nosso caso, o português.

E precisa ficar fluente e natural. Uma das coisas que mais me irrita é quando pego um livro em português, começo a ler e uma buzina começa a tocar na minha cabeça dizendo “isso é uma tradução”. Não deveria ser assim: um texto traduzido deveria ser fluente a ponto de se parecer com o original.

Claro, nos casos em que o original é feito de cacos de sentido, ou sem sentido…. O melhor que podemos fazer é arrumar um pouco as coisas, mas arrumar demais seria “melhorar” o autor.

Traduções são desmontagens / remontagens de um livro, palavra por palavra, linha a linha. E, para cada trecho relativamente mal resolvido no original que um leitor poderia pular sem nem perceber, nós, tradutores, precisamos encontrar um sentido.

Há muitos outros sentidos para discutir e conversar quanto a traduções mas, para não ficar insensatamente longo, este texto interrompe o assunto aqui. [Como sempre, “Continua mais tarde…”]

Domingo
jun132010

Um artigo cheio de pós-escritos

Este é um texto com todas as remissões e mais um monte de observações sobre "Eu tenho um sonho...". Poderia igualmente ser sobre "A Vida de Brian".

- - - NTs do texto "Eu tenho um sonho ..."

[1] Dizer “o dicionário define…” como se isso fosse verdade absoluta, como se fosse explicar tudo, nem sempre é útil ou razoável. Contudo, algumas vezes nos faz pensar sobre como pensamos sobre as palavras que usamos, e porque as usamos assim. O Houaiss não define “vigília” como “estar acordado”, embora provavelmente devesse. Ele diz, contudo, que é o “estado de quem age com precaução para não correr risco” e, na 5a acepção, diz também que é a “capacidade de concentração sobre um campo definido de objetos durante períodos relativamente longos de tempo”. Como eu disse há pouco, estas são duas formas pelas quais tradicionalmente definiríamos “estar acordado”: ficamos concentrados e evitamos correr riscos. Sonhar necessariamente envolve riscos.

[2] “Living the dream, baby” - “vivendo meus sonhos”, disse o personagem de Tom Cruise em Vanilla Sky, Cameron Crowe, 2001. Embora ache que este filme fala sobre coisas profundas, ele não foi levado muito a sério – talvez por contra de Tom Cruise? Convido os leitores a assistirem a versão original do diretor espanhol Alexandro Almenábar, “Abre los ojos”, com Penelope Cruz no mesmo papel, mas sem Tom Cruise, sem “efeitos” e sem o “final explicadinho de Hollywood”. É um chute no saco da Realidade, ou da nossa noção de que sempre sabemos o que é isso, “Realidade”.

[3] “A Resistência” é uma idéia-conceito que é, para mim, o ponto forte de um livro de Seth Godin que será lançado aqui em breve, “Linchpin”. Devo um crédito a Seth Godin porque, durante os dois meses que passei traduzindo Linchpin, pensei muito sobre a resistência e sobre o uso que ele fez do conceito. Contudo, me sinto livre para falar sobre a resistência porque Seth Godin retomou o conceito de outro autor – ele reconhece isso – e expandiu-o em um sentido específico. Eu tenho o conceito em mim há pelo menos duas décadas – até onde me lembro, desde que fui fazer análise, mas certamente desde que resolvi que “Guerra nas Estrelas” (é, “Star Wars” mesmo, já assisti mais de 10 vezes ao longo de muitos anos) poderia servir como grande metáfora para a vida, o universo e tudo mais.

- - - PS's que saíram aleatoriamente da minha cabeça

PS – Aviso rápido: se você acha que seu sonho tem a ver com férias permanentes numa praia paradisíaca bebendo um drinque enfeitado e com belas mulheres (ou homens, ou pequenas criaturas verdes de Alpha-Centauri) em volta, acho melhor eu dizer logo que esse provavelmente não é seu sonho, mas sua forma de fugir dele. Seja qual for o seu sonho, na prática você provavelmente o sente como um pesadelo. Por outro lado, se você acha que pesadelo é quando você está caindo em um precipício ou quando um monstro persegue você … bom, também não é assim que funciona, embora a Psicanálise de Botequim diga que, se você está sendo várias vezes perseguido e devorado por tubarões, provavelmente tem algum medo por baixo disso e é hora de levantar o tapete e olhar embaixo dele.

PS2 - Márcia, acho que já te disse isso mas é sempre engraçado dizer aqui de novo: desde que você se mudou para São Paulo, não acho nada razoável que você continue tendo pesadelos com tubarões que vem tirá-la da cama para depois devorá-la. Tubarões não voam (onças também não, e isso em grande parte garante que os seres humanos tenham chegado até aqui e se transformado nos verdadeiros Tubarões Voadores do planeta) e, já te disse, qualquer tubarão que por acaso vivesse no Tietê já teria morrido intoxicado. Se você ainda não trocou de pesadelo, acho que deveria, pelo menos para se ver livre de minhas brincadeiras a respeito disso!  ~;0)

PS3 - Sobre "Monty Phyton's Life of Brian", há muitas coisas a dizer, mas fico com duas delas. Primeiro, duas frases sobre o filme, no melhor estilo Monty Phyton. Primeiro: "Assista o filme controverso, sacrílego e blasfemo. Mas, se este não estiver em cartaz, assista 'A Vida de Brian' ". Segundo: "Um filme destinado a ofender quase dois terços do mundo civilizado. E também a chatear seriamente o outro um terço".

PS4 - Sobre A Vida de Brian, é um filme fantástico que relativamente pouca gente com menos de 40 anos viu mas provavelmente se divertiriam se vissem. Um dos momentos cruciais (ou seja, "momentos da cruz"; vide “Eu tenho um sonho", que remete de volta a este texto) no filme é quando Brian, que odeia os romanos, se envolve com a "Frente Popular da Judéia", uma das muitas facções beligerantes separatistas que passam mais tempo brigando entre si do que contra os romanos (mas é "só uma comédia", lembram?). O líder da Frente manda Brian pintar, no muro do palácio do governador (esse seria Poncius Pilatus), a frase "Romanes eunt domus", péssimo latim para "Romanos, vão para casa" ("Romans Go Home" - mas é só uma comédia, lembram?). Um Centurião passa, fica revoltado com o péssimo latim de Brian e, como punição, manda que escreva 100 vezes "ROMANI ITE DOMUM", a forma correta. Os muros estão cobertos com a frase no dia seguinte, a Guarda muda e tentam prender Brian. Muitas coisas se sucedem e quase todos morrem de rir.

A Vida de Brian é uma comédia tão escrachada que leva um tempo (e é preciso ver o filme várias vezes, até controlar os ataques de riso mais sérios) para entender as mensagens políticas, filosóficas e espirituais que existe nela, até porque em geral pensamos no Monty Python como "non-sense". Muitos esquetes deles são definitivamente non-sense, mas diria que este filme é "yes-sense". Humor pode ser uma forma de filosofia, uma que é particularmente densa, que penetra sem que as pessoas percebam e que, como não pode ser "refutada" (como diabos alguém "refuta" uma piada sobre deus?), é especialmente incômoda para quem se incomoda. Tenho certeza que Deus riu muito com o filme e, supondo que Ele exista, o que deve deixá-Lo perplexo é por que o Vaticano não produz filmes assim, já que um Deus bem-humorado e disposto a rir de si mesmo, além de uma religião baseada na idéia de perdoar, rir e sempre olhar para o lado mais alegre da vida seriam uma Salvação e tanto para a Humanidade! (Mas, não, em vez disso vamos nos vestir com roupas cinzentas de lã ruim e dizer que se auto-flagelar é "bom", enquanto quase tudo o que nos dá prazer é "ruim". E vamos nessa!)


PS5 - Chega de PS's, por enquanto!

Domingo
jun132010

“Eu tenho um sonho…” (e isso pode mudar tudo)

Acordei de um sonho particularmente profundo esta noite. Acordar não foi fácil, porque eu me lembro de muito daquilo que sonho; porque sonho de forma muito intensa; porque aquilo que sonha em mim tem acesso pleno a meus desejos, meus medos e a coisas que, em “estado de vigília”, não me permito pensar. Ênfase na palavra “medo”. Sobre os sentidos de “vigília” [1], basta dizer que vigília e vigiar têm uma raiz comum:

Vigília é o que fazemos durante o dia, vigiando as coisas e vigiando a nós mesmos para não correr riscos.

Sonhar é exatamente o contrário.

Quando escrevo isso, fico me perguntando por que a insistência do Budismo sobre a realidade – a vida da maioria de nós – ser “maya”, um sonho, do qual devemos despertar pela Iluminação.

E se disséssemos que o problema é o contrário?

Se disséssemos que nossa realidade é aquilo com o que sonhamos e que o problema é que nos falta a percepção de que, toda vez que nossa realidade se afasta demais de nossos sonhos, toda vez que não vivemos o sonho [2], perdemos algo, deixamos um pedaço de nossas vidas para trás (vivemos menos, vivemos menor) e algo em nós morre.

Acordei pensando nas coisas difíceis que eu disse ontem numa conversa íntima e pessoal. O que eu disse me incomodou a tal ponto que tive um sonho duro, cruel e incrivelmente lúcido sobre minha vida. Fiquei profundamente feliz e agradecido por este sonho-quase-pesadelo porque, entre algumas dezenas de coisas difíceis de sentir sobre meu passado, presente e futuro que estavam neste sonho, eu estava me dizendo duas coisas muito claras.

A primeira é que não basta sonhar: é preciso viver o sonho.

Viver um sonho de certa forma é “sonhar acordado” ou, melhor dizendo, é ter a coragem de enfrentar a Resistência (interna e externa) e viver os sonhos.

A segunda coisa que entendi, observando o sonho – não pensando sobre o sonho, mas observando o sonho, ou meditando sobre o sonho – foi que, para mim, escritor resistindo à própria escrita, uma tarefa importante é ultrapassar minha resistência quanto a ser um “ficcionista sério” para falar sobre “sonhos”. Não de forma completamente ficcional, complexa e combinada com elementos “literários”, mas como aquilo que eles representam para mim e como influenciam minha vida.

Preciso deixar algo claro, desde o início: nunca “conversei com Deus”. Nenhum anjo encostou em mim, tirando todas as mulheres que amei e aquela que escolhi amar mais que todas as outras. Não “vi a verdade”, eu tenho muitas dúvidas. Não sou guru nem profeta e a única coisa que “prego” é que as pessoas deixem de ter muitas certezas e aceitem suas dúvidas como uma forma plena de viver. Nada caiu sobre minha cabeça, nunca estive próximo da morte, não ‘vejo pessoas mortas’  e não converso com espíritos. Não sou “guru” de nada – a não ser Informática, se tanto, e ainda assim como uma grande brincadeira - e não tenho uma “profunda visão espiritual”.

O que eu tenho é uma vida rica em angústia, dúvidas, tentativas, pensamento. Tenho desejos, sonhos, idéias. Passo um tempo enorme pensando e aceito pensar sobre quase qualquer coisa, o que enche o saco de algumas pessoas que gostariam que eu pensasse sobre uma única coisa e diverte as pessoas que podem compartilhar de meus pensamentos mais estranhos (como quem lê este site, por exemplo). 

Devo a mim mesmo escrever um livro sobre os sonhos, sobre o sonhar, sobre o reino de Sandman; sobre as dúvidas, sobre como viver com a angústia sem se tornar um Filósofo Existencialista (o que pode ser bom, mas não é para todo mundo). E devo fazer tudo isso ainda que tenha um medo profundo de que termine se parecendo com um livro de auto-ajuda porque, na verdade, seja como for que eu consiga escrevê-lo, será exatamente isso.

A imagem mental seguinte é muito significativa e vou terminar o texto com ela: ouvi uma parte de mim dizer: “É como Martin Luther King, não é? Você tem uma idéia para mudar o Mundo, mesmo que essa mudança possa ser apenas com mudar a si mesmo, e em seguida você estará liderando milhões de pessoas e fazendo um discurso começando com “I have a dream…” - eu tenho um sonho” … e todos sabemos o que eu me disse em seguida, não é? Martin Luther King foi assassinado por muitos motivos, mas podemos sempre resumir e dizer que ele foi assassinado porque escolheu viver seus sonhos. “A Resistência” [3] não gosta disso, melhor silenciá-lo.

A outra coisa que eu me ouvi dizer é que Jesus Cristo também foi um grande sonhador. E, claro, foi parar na cruz. Apesar do final de “A Vida de Brian”, do Monty Python, em que os Brian & os crucificados cantam e assobiam “veja sempre o lado alegre da vida”, todos sabemos que ser crucificado é tão ruim que virou expressão corrente para servir de Cristo ou, mais coloquialmente, “ser detonado”.

Apesar destes dois avisos fúnebres, cortesia do meu lado vigilante, resolvi seguir em frente com meu sonho, com todas as dificuldades que sei que ele contém. O que estou fazendo agora, ao escrever o meu livro – e ao decidir que irei terminá-lo de fato, e entregá-lo de fato para que seja publicado de fato – é começar a viver meu sonho.

PS – Sobre as [NTs] deste artigo e outras coisas que não deu para escrever aqui, leia “Um artigo cheio de pós-escritos” – está tudo lá, exceto o que eu tiver esquecido.