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Das internas
Terça-feira
mai182010

Transcrição ('djodja'!) automática da Google no YouTube

A Google implementou um ‘transcribilator’ automático no YouTube. É hilário, por enquanto. E isso é tudo o que eu tinha a dizer, o resto é só um comentário sobre a piada.

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Terça-feira
mai112010

O “ser ou não ser” de Hamlet

Recebi um mail de uma amiga comentando a tradução de Voltaire para o trecho do monólogo mais comentado / conhecido / famoso de Shakespeare, o “tubiornótitubi”, de Hamlet. Voltaire ‘meteu a mão no texto’ e traduziu-explicando assim:

“Arrête, il faut choisir passer a l’instant / De la vie à la mort ou de l’être ao neant”

… que é mais ou menos o seguinte:

“Pare, é preciso escolher neste instante / Entre a vida e a morte ou o ser e o nada”

Entendo a ousadia de Voltaire, entendo (mas discordo) do privilégio do RAP sobre o sentido, mas não gosto da tradução: não soa como Shakespeare. [1]

Nunca entendi, na verdade, por que este "To be or not to be, that is the question" é lido como se tivesse uma vírgula aí. Não tem, assim como não tem um ponto depois. Shakespeare-através-de-Hamlet diz que a questão de fato é essa – a questão ontológica do ser, de estar presente -, mas o foco me parece estar, sobretudo, no que vem depois do " : ", naquilo que quase ninguém sabe citar. O "ser ou não ser" é uma espécie de preâmbulo para situar o que vem depois:

To be, or not to be: that is the question:
Whether 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune,
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them?

… que, se eu fosse traduzir, funcionaria assim:

Ser ou não ser: eis a questão:
Nos parece mais nobre sofrer
As dores da ultrajante fortuna
Ou confrontar um mar de problemas
E, enfrentando-os, resolvê-los?

A “questão” é o que vem depois; o “ser ou não ser” é um resumo prévio, é um aviso de que ele vai falar sobre algo que está relacionado a como vivemos, àquilo que decidimos ser [2].

Para mim, a questão de Hamlet re-enuncia a questão central do Zen, ou ainda a questão de fazer ou não análise, ou ainda a versão diluída disso tudo que encontramos, hoje, em inúmeros livros desse gênero disperso chamado de “auto-ajuda”: é a questão de como se colocar frente à vida, de escolher agir e saber que iremos sofrer por isso ou, muito pelo contrário, não agir, como se fosse possível fugir à dor.

Me parece que, ao menos neste trecho, Shakespeare-Hamlet quer apontar para uma possibilidade de que, quando alguém decide se opor ao “mar de problemas”, é possível solucioná-los. Seria olhar apenas para um fragmento de uma obra profundamente filosófica (e literária, e teatral, e poética, e simplesmente bela) e já seria muito.

Não tenho conclusão, aqui. Só queria anotar que me parece que “a questão” é um pouco mais específica e mais profunda do que dizer apenas “ser ou não ser”, até porque “não ser”, a rigor, implica em morrer.

E daqui eu poderei partir, em outro momento, para o “ser” do pungente e lírico filme argentino O segredo dos seus olhos e o “não ser” do arrasador e nada lírico Um homem sério, dos irmãos Cohen. Juntos, os dois têm muito a dizer sobre confrontar problemas ou sofrer as estocadas de um destino ultrajante, dos desígnios de Ha Shem.

E o resto é silêncio. [3]

 

[1] Soa como algo que Sartre pode ter lido e de que pode ter se lembrado, ainda que vagamente, ao dar título a seu ensaio filosófico de 1943, “O ser e o nada”.

[2] Não dá para deixar de notar duas aproximações enormes, aqui e talvez em toda esta peça, mas eu nunca tive tempo – ou conhecimentos, na verdade – para pensar por este caminho, que, contudo, me parece ótimo: a aproximação que existe entre Hamlet e o pensamento muito posterior de Heidegger (que fala sobre o “ser-no-mundo” e o “ser-aqui”) e de Sartre (muito obviamente, o livro-ensaio “O ser e o nada” e seu existencialismo).

[3] Abusando da minha citação favorita de Hamlet, que não é o “ser ou não ser”, é o que Hamlet diz pouco antes de morrer no Ato V, Cena II, e que dá um ensaio à parte.

Quarta-feira
mai052010

“O Sistema está fora do ar …”

Vamos falar sério: O Sistema é uma entidade mitológica, uma fábula contemporânea. Dizer que “O Sistema” está fora do ar tem a mesma função de dizer que você não deve entrar na floresta porque os Duendes vão raptar você. “O Sistema” é um troço abstrato no qual todos põem a culpa por coisas que são mais complicadas, chatas e duras de dizer ou explicar: projetos feitos sem levar em consideração os humanos que dependem (cada vez mais) dos Sistemas.

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Terça-feira
mai042010

iPad: 1 milhão de unidades vendidas

Um milhão de iPads vendidos até 3 de maio. 1,5 milhões de eBooks para iPads. 12 milhões de aplicativos. Cadê o pessoal que dizia que o iPad não ia dar em nada?

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Quarta-feira
abr282010

HP comprou a Palm – Slate vs. iPad ?

Numa notícia não muito surpreendente, nesta quarta, 28 de maio, a HP e a Palm anunciaram que a Palm agora é parte da HP.

A pergunta mais óbvia, além da que eu sempre me faço – quando é que as fusões vão acabar? as pessoas precisam de emprego e o mundo precisa de alternativas, não de um cenário OCP [1] – é: se temos um Android (um sistema) e se temos o iPad (um sistema e um dispositivo) e se ainda existe, no que é um nicho crescente de mercado, leitores de documentos dedicados como o Kindle (outro sistema e outro dispositivo)… Bom, entendo qual é a briga, consigo explicar qual o terreno, mas por que a HP vai se meter no meio do mato, num charco, armada com uma baioneta e à noite?

Chamo de mentalidade do “eu também”. Se a Apple faz, se a Lenovo faz, se a Dell faz, a HP pensa (deve pensar) “eu também” tenho que fazer. Eles têm um projeto? Acho que não. Eles têm um diferencial de mercado? Duvido – alguém sabe qual é o ‘mercado’, na verdade? TODOS os analistas que li a respeito do suposto mercado para o iPad erraram. Muito.

Retomo: a HP está vendo um mercado de nicho? Não é a deles, a HP faz produtos para as massas, a margem de lucros é mínima e precisam vender muito. Podem aprender com a experiência da Apple e lançar algo melhor? Não, de jeito nenhum – em parte porque é cedo, em parte porque a Apple está anos à frente porque o iPad parte do enorme legado / aprendizado do iPhone.

Acho que era uma excelente oportunidade para deixar a Palm morrer em paz.

Surge outra pergunta: por que comprar a Palm se o Android é grátis e se nenhum dispositivo atual da Palm é competidor sério no mercado de smartphones?

Essa é mais fácil: por que a Palm tem 1600 e poucas patentes. “Propriedade intelectual”, hoje, vale mais do que “máquinas”. Máquinas você compra ou manda fazer. Propriedade intelectual … é outro jogo. Não tenho como julgar quanto as patentes da Palm valem, para uma HP completamente de fora do mercado de smartphones e querendo começar a competir com a Apple, a Google, a Amazon, a Nokia, a Motorola, a HTC e a LG.

Você entraria nesse mar de tubarões? Eu não.

A outra razão parece ser o WebOS que a Palm estava desenvolvendo. Eu diria que a HP está querendo comprar um “passe livre” que a deixe longe da bomba que é o Windows (i)Mobile e do problema que é se tornar escravo do Android. Talvez essa seja, para a HP, uma boa razão.

Queria apenas falar uma última coisa, que é o mais importante, a meu ver: vi recentemente uma tabela comparativa dos recursos do Slate da HP versus os recursos do iPad. Achei curioso que a HP, ou quem elaborou aquela tabela, não tenha entendido que “especificações de hardware”, nesse jogo, não importam em quase nada.

O iPad é uma “appliance” - um dispositivo-utensílio, no mesmo sentido que sua televisão é um dispositivo-utensílio: você liga e funciona. Sem driver, sem codec, sem instalação de programas. O iPad não tem um “OS” e isso é bom [2].

Usuários querem devices que eles possam usar, não um sistema como Linux (ou XP) em que você precisa passar sua vida ‘configurando’ e ‘instalando’.

Por último (é, eu sei – disse antes que já era o ‘último’), mas não menos importante: a Apple tem a Apple Store. E tem aplicativos bem resolvidos, bem feitos, muito baratos e testados há anos no iPhone e no iPod. Agora vão começar a surgir as evoluções de tudo isso para o iPad.

Estratégia brilhante até aqui. E HP, Google e Amazon querem competir com isso, no mercado de smartphones. Boa sorte, porque quem definiu as regras desta batalha foi a Apple.

CDC

 

[1] “Cenário OCP” – termo cunhado por Carlos Irineu, em referência à já não tão fictícia Omni Consumer Products (latim de americano para “Totalidade de Produtos para Consumidores”) que apareceu pela primeira vez no filme RoboCop. A idéia geral é que, se as fusões não pararem – se não surgir um fenômeno emergente de fragmentação e segmentação, até onde penso, hoje -, no final teremos uma MegaCorporação que controlará todo o resto.

[2] Claro que, por definição, tem um OS ali. Mas é transparente e o iPad, como o iPhone e o iPod, são “appliances”, que eu traduziria como dispositivos-utensílios.