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Das internas
Quinta-feira
abr012010

Dos carros voadores, teletransportes e a mágica do '102'

Quando eu era pequeno, me prometeram que eu teria 3 coisas até o ano 2000:

1. Carros voadores

2. Mochila-jato voadora

3. Teletransporte.

E uma longa lista da qual acabo de me lembrar que envolvia bases submarinas, uma estação orbital, vôos da Panam para a Lua, ao menos um posto avançado em Marte e um trabalho em que eu só apertasse um botão mas ganhasse o suficiente para pagar a ração do cachorro, que eu demiti há pouco para cortar custos e continuar pagando a conexão de internet de velocidade “quântica” (tendendo a zero).

Essas são as coisas que não funcionam, mas não é só aqui - os estadunidenses declararam há pouco que, para não ter que demitir os cachorros no país inteiro, iam cortar um ou dois dos foguetes projetados para ir à Lua e talvez Marte e talvez manter a precária Estação Internacional lá onde ela meio que tenta ficar.

O que funciona mesmo é o 102 - Serviço de Auxílio à Lista.

Tá, é “reconhecimento de voz”, e daí? Daí que coisas simples são complicadas de implementar. Esse reconhecimento de voz foi saudado hoje, pela manhã muito cedo (não eram nem 14h), por minha voz de baixobarítonosubwoofer dizendo algo como “primeira circunscrição civil”. Esperei que aparecesse alguém na linha ou que o sistema dissesse: “entendi. não entendi. não sei o que é. o senhor tem o endereço, o CEP e o CNPJ?”

Em vez disso “o sistema” (tenho que comentar sobre essa coisa mítica que criamos, “o sistema”) me deu o número e, enquanto eu olhava em volta procurando um troço de anotar, prosseguiu: “disque 2 para completar essa ligação; disque 7 para repetir o número”. Apertei 2 e WOSH!, lá estava eu, do outro lado da linha, falando com uma pessoa da Primeira Circunscrição!

Profundos agradecimentos para todos aqueles que tomaram as decisões que resultaram neste sistema específico. É muito impressionante.

Vamos ficar ricos na hora em que pararmos de vender batata e minério de ferro e importar pringles e carros e começarmos a vender sistemas para o atraso de vida que é a NorteAmérica, terra de infinitos atrasos técnicos onde acham, entre outros mitos estranhos, que as urnas eletrônicas são mais falcatruáveis do que aquela recontagem de votos que levou o AmBush à presidência.

Terça-feira
mar302010

Supermercados, marketing e ‘brand awareness’

Quem faz as compras da casa sou eu.

Quem traduz alguns livros de marketing e lê uns outros tantos também sou eu. Ou porque leio coisas muito diversas ou porque boa parte de meu tempo profissional é dedicado a traduzir.

Soltar um “pensador da cultura” cheio de Heidegger e Benjamin na cabeça, entupido de conceitos sobre arte conceitual e munido de Torpedos Lógico-Teóricos dentro de um mercado é cruel. Para ambas as partes. Agora resolvi que vou começar a devolver parte do que me fizeram engolir até aqui.

Vamos lá.

Dizem por aí, em livros diversos, que criar “brand awareness” (percepção de marca) é ultra-importante. Tem até um Culto, em marketing, que fala sobre “Posicionamento”. O que eu tenho a dizer sobre o quê, exatamente, é o tal “posicionamento” tem teor pornográfico, requer termos de baixo calão e deve ser evitado em sites familiares como este.

A outra coisa que tenho a dizer é mais simples: Senhores Operários das Indústrias de Marketing: saiam dos escritórios e passem ao menos uns 2 dias dentro de um supermercado. Vocês iriam atingir a Iluminação. Garanto, e ainda vendo para vocês uns livros a respeito assim que eu arrumar uma palavra-chave bodosa e, de preferência, intraduzível.

Supermercado. É a chave.

Sabem quantas marcas de amaciante temos, hoje? Eu não sei mais. Qual amaciante eu quero? O que minha empregada / faxineira usar. Qual amaciante minha esposa prefere? O que eu comprar para a empregada usar. Qual o amaciante que eu compro? Confort – com ‘n’ ou ‘m’, não importa, não ‘retive’ essa parte da marca.

Sabe quantos tipos de Confort temos hoje numa prateleira? Mais de um. Sabe de quantos um ser humano normal, dotado de uma máquina de lavar roupa, precisa? UM. Sabe qual é o bom? O que eu tenho comprado até agora.

Querem incluir “aloé vera” ou “um novo composto orgânico que reordena as fibras do tecido durante a lavagem”? Boa sorte. Não estou interessado. Quero o Confort, azul, tradicional, quero uma embalagem prática, normal e sem firulas, e sobretudo – por favor entendam isso, é um ponto crítico – eu não tenho tempo nem disposição de pensar a respeito de amaciantes.

Nem de detergentes. E odeio quando a embalagem dos biscoitos que meus filhos gostam muda, porque me obriga a mudar minha rotina de varredura visual para achar uma embalagem “nova”, que não me interessa a mínima, sabendo que, ainda por cima, vou chegar em casa e ouvir “por que o biscoito mudou?”.

Deus. Tenho uma dissertação de Doutorado sobre o quanto vocês, de marketing, lêem as bíblias sobre posicionamento e brand awareness e depois parece que trabalham com muito afinco para impossibilitar qualquer consumidor de reconhecer a marca.

Isso é só o início – vocês não merecem paz porque vocês não nos dão paz.

 

Quinta-feira
mar252010

Os Jardins de Akademos

De onde vem a idéia de que uma “academia” é um lugar de estudos? (Ou, melhor dizendo, vamos supor que uma academia seja um lugar de estudos - é onde se malha também; com duplo sentido.)

Ainda estou em busca dos famosos Jardins de Akademos, onde encontrarei Platão e tantos outros pensadores gregos; beberemos a coisa realmente forte que Pitágoras bebia antes de criar seus pitagorismos bem diferentões, falaremos sobre estrelas e Musica Universalis [a Harmonia do Cosmos], sobre o tempo que Pitágoras passou no Egito.

Não é exatamente comentado nas escolas, mas Pitágoras e tantos outros gregos foram buscar sabedoria, filosofia, ensinamentos e misticismo no Egito. Boa parte do que hoje acreditamos ser sabedoria, física e filosofia “gregas” se originaram na Babilônia ou no Egito. Os gregos deixaram mais registros escritos - até porque os gregos já tinham um sistema de escrita alfabética - e figuras como Aristóteles se preocuparam em reunir e formalizar o que antes eram escritos dispersos. 

[Aguardem meu tratado a respeito: “O Lendário Legado Perdido dos Egípcios”, previsto para minha quinta encarnação!]

É possível que Pitágoras de fato acreditasse que os números eram a Realidade Final, retomando várias idéias dos babilônios… Além de seu trabalho em geometria e matemática, era um místico e alguns episódios de sua vida dão um excelente tema para um artigo divertido. Filosofia e pensadores gregos são divertidos, eram pessoas & pensamentos vivos, eram movimento e controvérsia e disputas, algo bem distante dessa coisa congelada e engessada e dura e dividida em “escolas” que, atualmente, alguns espalham por aí.

Akademos - dono do jardim que levava seu nome - talvez tenha sido um grego lendário que lutou na igualmente lendária guerra de Tróia. Em alguma delas. E há cinco nomes usados para distinguir, de maneira peculiar, cinco escolas importantes da filosofia grega: o Jardim, o Liceu, o Pórtico e algo que parece ser “a Banheira”, mas eu talvez deva ler um pouco mais porque, apesar das brincadeiras como a famosa Escola da Sauna Grega, a Banheira é nova para mim.

Academia: Platão. (socráticos; platonistas; platonismo ….)

Jardim: Epicuro (epicuristas)

Liceu: Aristóteles (aristotélicos, aristotelianismo)

Pórtico: Zenão & Os Estóicos (famosa banda de rock progressivo da época)

A Banheira (sério?): Antístenes & Os Cínicos (os cínicos eram darks ou estes seriam os céticos?)

Nada disso serve para nada mais a não ser achar divertido que alguém tenha agrupado as coisas desta forma. E ficar curioso para saber, por exemplo, qual a relação entre o conhecido Paradoxo de Zenão e o estoicismo. Ou o que separa estóicos de céticos.

Ou - vou escrever em breve - por que entendemos tudo errado quando falamos, hoje, em “hedonismo”.

Quinta-feira
mar252010

"Guerra ao Terror" em 6 linhas

(nova tentativa de formato)

Fui ver Guerra ao Terror. Violência do início ao fim e, para os que falam sobre narrativa, diria que não há o que falar.

Como tantos filmes de Hollywood, a narrativa segue o modelo videogame: HALO, FEAR ou qualquer jogo FPS (“jogo de atirar em 1a pessoa”). Especificamente, só duas coisas: correrias + explosão / cut scene (a “explicação” da coisa) e volta à correria. Repetir até encher o saco.

Se deram Oscar ao filme, ou foi medo de transformar o Cameron em deus ou foi porque os americanos não sabem mais o que fazer com essa guerra - cinco anos disso, acho.

Pena.

Quinta-feira
mar252010

Etimologias – Etymonline.com

Quem me conhece ou quem recebe meus tratados-por-mail ou quem lê algumas das coisas que publico aqui sabe que sou fã de etimologias.

Não concordo muito com quem acha que, para escrever um artigo acadêmico, precisa citar cada pequeno trecho direto do grego porque há formas mais acessíveis de resolver questões de fidelidade de tradução. E, sendo ao mesmo tempo tradutor ‘de mercado’ e formalmente um Acadêmico, devo poder dizer isso.

Não acho correto querer “explicar” algo pela etimologia. Palavras dizem aquilo que dizem hoje, no contexto que as usamos. Mas, se você se der ao trabalho de procurar as raízes em grego, latim, sânscrito, vai ter idéias novas. Vai olhar para as palavras de uma nova forma e, em muitos casos, vai conseguir entender quais os sentido possíveis para uma palavra sem nem olhar o dicionário.

Exemplo? Minha filha me perguntou o que era “apoteose” já que, como sabem, temos uma apoteose física instalada aqui no Rio. Bom, vamos lá: do grego apotheosis, de apotheoun = tornar alguém um deus, deificar. Tive que consultar esta, porque o prefixo apo é usado de forma um pouco diferente, neste caso com o sentido de “modificar”, e theos tem seu sentido usual: deus. “modificar” + “deus” = transformar em deus e, pelo que chamamos de ‘extensão de sentido’, vai dar em exaltação, momento sublime e qualquer outra coisa próxima o bastante disso.

A partir daí, como é sempre divertido pular de uma etimologia para outra (é incrivelmente lógico e muito produtivo, para quem trabalha com livros, textos, filosofia, pensamento… para quem quer pensar, no fundo: a etimologia é, para mim, um instrumento para aguçar o pensamento) eu lembrei de uma velha amiga, “entusiasmo”, bem fácil: en (dentro) + theos (deus, como acima) = “ter deus dentro de si” ou estar possuído (no sentido de “tomado”) por um deus. Alguém entusiasmado, portanto, é alguém tão feliz e pleno que, naquele momento, é como se tivesse um deus dentro de si.

Para quem quiser se divertir procurando outras raízes gregas, a dica que deixo aqui é a melhor fonte – também a mais simples – que conheço na web: www.etymonline.com , site que eu adoro e que, em geral, está mais correto e é mais completo do que nossos dicionários de uso geral.

E este foi um post curto, mas entusiástico!