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Quinta-feira
set232010

Drogas (de albuns de figurinhas) vendidas na porta da escola

Estou revoltado com o 'esqueminha' de 'distribuição gratuita' de álbuns de figurinhas para menores na porta das escolas. Quero muito que haja uma lei proibindo isso, mas não tive tempo de falar com meu advogado ainda.

Não vou falar o nome da editora nem do álbum de figurinhas de uma das muitas franquias japonesas de desenhos animados que funcionam como merchandising de bolinhas que abrem ou bonequinhos ou o que for. Considerem que é "um álbum de figurinhas" e que foi distribuído, hoje, na porta da escola, 'de graça', para meu filho de 7 anos. Claro, ele agora quer que compremos as 200 e poucas figurinhas.

As 200 e poucas figurinhas, mas duplicatas, não são grátis nem são distribuídas alegremente na porta da escola para menores ainda sem percepção de 'dinheiro', essa coisa realmente estranha com a qual lidamos o tempo todo quase sem notar.

Eu acho peculiar porque temos leis severas contra vender drogas na porta de escolas nesse mesmo esquema, de "pusher" ("pusher" é o nome dos anos 70 para os traficantes que tentavam fazer o que hoje o marketing chama de "aquisição e fidelização de clientes") – leva um grátis, vicia, depois eu vendo o resto.

Álbum de figurinha para crianças no Ensino Primário Básico de Primeiro Grau pode? E aspirina, posso distribuir aspirina grátis na porta das escolas? E depois da aspirina, posso dar amostra grátis de prozac ou lexotan? O que mais é possível 'dar' na porta de uma escola, antes de ser crime?

Drogas viciam, drogas matam, drogas geram prejuízos materiais ... um monte de coisas. Vamos deixar essa parte de lado, não quero começar um debate sobre legalização, os fatos ruins sobre drogas são fatos, não questões; a questão é como lidar sócio-econômico-politicamente com os fatos (e acho que muita gente têm dificuldade em entender esta separação, entre fatos e questões).

Voltando: "álbum de cromos colecionáveis" não matam. Fazem buracos em contas bancárias mas não matam. Contudo, me sinto ultrajado e entendo que um espaço público – a calçada – foi invadido por uma pessoa muito indesejável.

Pelas últimas contas que fiz, um álbum de figurinhas custa umas 80 pratas. Em geral vai para o lixo logo depois, ou mofa, inútil, ocupando espaço na estante.

Oitenta pratas é o preço de um belo livro ilustrado e, se ele quisesse 80 pratas para comprar o livro dos "1001 Bonecos Japoneses de Ação", tudo bem – eu compro livros sobre cinema, automóveis, outras pessoas compram sobre luminárias ou jardins ou fotografia.

O problema é o direito de escolha e o fato de que adultos têm defesas um pouco melhores frente ao lixo que certas empresas imorais tentam nos empurrar. Crianças não.

Essa coisa na porta da escola me soou, hoje, como algo muito errado que está acontecendo e que escolhemos deixar acontecer. Se não escolhemos, se há uma lei contra isso, então eu preciso descobrir qual é a lei e tentar fazer com que seja cumprida.

Isso é só um desabafo, mas sei que outras pessoas com filhos vão entender. Não sei o que fazer a partir disso, embora entenda que faz parte de um pensamento crítico mais amplo que eu tenho sobre esse marketing pervasivo, invasivo, indesejável e nocivo que faz de tudo para nos vender qualquer coisa.

Por hoje é isso. Ficaria feliz de ouvir comentários sobre este assunto, especificamente, mas também fico feliz se mais pessoas começarem a pensar sobre as 'ofertas' que recebem sem nunca ter pedido nada, e quanto espaço, tempo e energia de vida isso nos rouba.

PS - Esse álbum, assim como qualquer outro que surgir aqui por esquemas similares, vai para o lixo, por uma questão de princípios que eu levo muito a sério.

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Ah, eu tb acho um saco isso! Vc ainda tem q rezar pro(s) melhor(es) amigos do seu filho não resolver(em) colecionar os álbuns pq senão o dele foi pro lixo pq 1)vc é um tirano e ele ficou de fora da troca de figurinhas na hora do recreio ou 2) vc é compreensivo e tem q pagar pelo álbum q não quis nem de graça. Até agora, tive 99% de sucesso em persuasão. Mas não escapei da febre dos Gogo's...menos pelo álbum, mais pelos bonequinhos. Foi uma fortuna ali.
Qto às ofertas q recebemos sem pedir, quer ver coisa q me irrita? Qdo a pessoa (o marketeiro) entra em contato com vc, dizendo da sua sorte em ter conseguido a vantagem tal, pela qual vc não se interessa e ele diz coisas do tipo "todos estão aproveitando essa escolha inteligente"...pq vc é burro, certo?, por não escolher igual.
Acho q devia existir um código de ética qualquer pro marketing. Se vc faz careta, o cara não insiste. Se vc sorri e diz "obrigado", não insiste tb. Se diz "não tenho interesse", tb. Pq daí pra adiante, vc parte pra ignorância em graus cada vez menos educados até desligar o telefone na cara ou deixar o cara falando sozinho. Isso só leva ao empobrecimento de alma. E me deixa ranzinza assim. :o)

d.C. 2010/4 | Unregistered CommenterAna Lúcia

Eu fui assombrado durante um tempo por um vendedor que queria me oferecer a assinatura de um jornal. Talvez a insistência seja uma estratégia criada por algum "gênio" do marketing. Comigo não cola, eu me irrito não só com o vendedor, mas com o produto, o fabricante, a mãe do fabricante etc. No caso do telefone, poderiam criar algo semelhante ao filtro de spam. No caso das escolas, é mais complicado. Pensei num guarda que pudesse ficar rondando cada escola. Mas aí esbarramos com a falta de pessoal mais as dúzias de outras mazelas que tem que ser combatidas. No caso das escolas particulares, poderiam ao menos contratar um inspetor só pra isso, mas o melhor mesmo seria criar uma lei que proibisse a venda ou a distribuição de qualquer coisa nas portas das escolas.

d.C. 2010/5 | Unregistered CommenterAdriano

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