Imagens & Tópicos
Das internas

Entries in escrever (6)

Terça-feira
out182011

coloque-se frente a uma tela em branco

Coloque-se frente a uma tela em branco. Sob seus dedos, você tem todos os textos possíveis – é uma combinatória, uma sequência de sequências finitas de teclas pressionadas. Escrever é trazer para Dentro parte do que está Fora.

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Quarta-feira
abr062011

escritores e contadores de história (um ensaio sobre a Escrita)

digo que escrever é uma procura constante da Forma. separo aqueles que escrevem em duas ‘categorias’: os contadores de histórias e os escritores. nunca é tão simples, mas é um começo. (e todo começo é melhor que nada.)

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Quarta-feira
fev232011

to die for

IMG_0041você senta numa mesa. qualquer. você é freqüentador daquele lugar, o que torna o espaço conhecido. as pessoas, claro, mudam sempre. janta, mais por fome do que por prazer, algo razoável mas que não chega a ser interessante. pensa num texto que está escrevendo, refaz detalhes, tenta entender como é a estrutura. (textos têm estruturas cristalinas: quanto mais coesas, mais belo será o cristal.)

pelo menos vinte coisas cruzam sua mente. importantes. idéias e tarefas de um fim de dia. qualquer.

à sua frente há agora uma mousse, talvez o mais interessante da noite. acompanhada por um expresso. o Deus do Café está de bom-humor com você hoje e você lhe dá g raças: o expresso está perfeito. quando você olha de novo para cima, uma moça se sentou à sua frente. é uma Musa e você sabe disso: parte do treino para se tornar Escritor e fazer parte do Sindicato dos Escritores, Ilimitado, é aprender a reconhecer e lidar com as Musas. (como um Escritor poderia criar sem elas?)

cada uma tem seu jeito. esta tem beleza extraordinária, o tipo de beleza que as Mortais não têm. me parece vinda da Itália renascentista – penso se foi ela que posou para Bernini, mas não creio, são outras linhas. a Sabina de Giambologna, em Florença? não, ela é mais esguia, mais leve que as Musas de Bernini e Giambologna. Atenas, período clássico? findo & ao fundo, não uso mármore, uso palavras. 

possui lábios grossos, não-botox, apenas o suficiente para sabermos que estão lá, os lábios. o nariz é grande demais, tem uma pequena ‘quebra’ na forma: beleza imensa, penso na falácia da cirurgia plástica que, de tanto procurar uma Perfeição, acaba tornando tudo plástico, uniforme, chato. cabelos muito escuros, me parecem grossos. alta e muito magra, mesmo que não fosse Musa – portanto,  intocável – nela não pensaria na cama: a blusa preta com uma faixa larga apertada em torno da cintura não é bom prognóstico.

os olhos são. intransitivamente e sem complemento. os adjetivos para olhos se esgotaram e todos sabemos disso. ainda assim me soam como sinos que se desdobram num coral da Nona de Beethoven antes de se abrandar num tutti de cordas, em tom maior, em seguida se voltando para baixo, ondas oceânicas de mar aberto recobrindo ilhas de palavras.

ela me olha: Musas ficam curiosas quanto ao que seus Artistas criam sobre elas mas sabemos, ambos, que ela não lerá o que escrevo. eu nunca perguntarei o que ela achou.  __ : intocáveis, ambos.

deixo-a aqui, reclinada sobre estas palavras, para a eternidade digital pós-humana até que o último bit se apague.

era tudo o que eu tinha a fazer lá e sei disso. levanto-me, pago a conta, entro no carro. ponto final.  

Quarta-feira
ago252010

A falácia da Googlewikiobjetividade

Lembrou-se de que os sonhos dos homens pertencem a Deus e que Maimónides escreveu que são divinas as palavras de um sonho, quando são distintas e claras e não se pode ver quem as disse.

Borges, Ficções [5]

 

O que me importa, nessa citação de Borges, além de ser incrivelmente bela (e o resto do conto potencialmente irrelevante face à potência da escrita de Borges nestes momentos de clarividência sobre o Universo, o Imaginário, o Sonho e a Escrita), é esta passagem extrema: são divinas as palavras de um sonho, quando […] não se pode ver quem as disse.

Meu ponto sendo que a Web, ou o que vou começar a chamar de “pensamento googlewikipédico” – um ultrarreferencialismo hiperabrangente -, assim como o conceito de referencialidade na escrita acadêmica em Humanas [7] e, no final, todos os sistemas de referência a que a Escrita por vezes se vê submissa são uma redução dessa divindade, uma tentativa de aniquilação do sonho, do imaginário e do ficcional. Para escrever, para transcender a escrita imediata dos autômatos da googlewikiobjetividade, é preciso praticar esse “não ver quem disse as palavras de um sonho”.

Assim como o Sonho precisa da escuridão (temporária) da Noite, o Imaginário precisa da escuridão (temporária) do Real.

Voltando ao início, porque nem comecei.

O maior problema de terminar um texto é que, quando eu começo, já tenho tantas idéias e ‘caminhos que se bifurcam’ empilhados na cabeça que é quase necessário que eu não termine. Tento resolver o que Borges nunca resolveu e experimento uma escrita necessariamente incompleta (não “aberta”, embora também o seja, mas francamente incompleta) e “em grafo”, para não voltar à coisa batida e nunca resolvida do “hipertexto” [1][3].

O que decidi, agora, foi que este texto nem tentaria terminar, mas provavelmente, nos próximos dias, vou repartir este texto em fragmentos que se bifurquem e espalhá-lo pelo site. Enquanto isso, deixo um pequeno mosaico de coisas para o leitor que quiser passear comigo.

CDC

[1] Tudo é “hipertexto” [3][8], hoje, porque a Web existe e a Web é uma representação do mundo mas é também o mundo-em-si. (De onde o projeto do meu próximo livro.) Achar que existe um “cyberespaço” que não é mais o mesmo que o aqui-agora (suponho que seja como definimos “espaço”) é uma ilusão um pouco perigosa [2].

[2] De onde eu insistir tanto que podemos continuar falando de “ciberespaço” ou de “internet banking” (vulgo “banco na internet”) e que certamente on-line faz sentido e é oposto a off-line. Mas quase nada é “virtual” e continuo não entendendo por que insistimos nesse termo-conceito. [2b]

[2b] A notar que “virtual” se opõe a “real” e a “concreto”. Não sei bem o que faço com o Imaginário, ele parece ter um estatuto a parte ou, pelo contrário, ser algo problematico dentro dos topoi criados por virtual / real / concreto. Preciso retomar isso. [6]

[3] O lugar mais patético para ‘vivenciar’ isso é a Wikipedia. Depois que se perderam completamente (IMHO) do que pudesse ser um projeto interessante de, digamos, um neo-Iluminismo que viesse comentar o mundo, para se tornar uma tentativa tacanha e necessariamente impossivel e falha de mapear o mundo e todas as palavras e conceitos e coisas do mundo [4], bom, um artigo sobre uma série de TV tinha 95 referências [9]

[4] Vide Borges, naquele conto que não lembro mais qual era nem onde está sobre os Cartógrafos de ___, onde havia um mapa que era tão exato que precisava (e pretendia) ser maior e mais amplo do que a realidade em si. A Wikipedia é a mesma coisa, exceto que alguém por lá se esqueceu que o conto era ficcional, potencialmente uma crítica irônica e certamente apontava para uma impossibilidade e um paradoxo. Alguém mande mail para a “Chefia” da Wikipedia, por favor, e peça para que eles retornem a essa coisa desagradável que é o deserto do Real.

[5] Editorial Teorema / Bibliotex, provavelmente: 2000; provavelmente: Tradução de José Colaço Barreiros.

[6] Leitores atentos terão notado que eu intencionalmente não estou falando do livro “O que é o Virtual?” de Pierre Lévy, trad.de Paulo Neves, do qual fiz a revisão técnica e, sei lá, talvez um pouco de revisão da tradução.

[7] A idéia de que as “Artes e Ciências Liberais”, como dizem os gringos, sejam “Ciências Humanas” é ainda pior do que ter esse “Ciências” junto de “Artes”. Que isso venha de uma antiga divisão dos tempos da fundação da Sorbonne, sei lá. Que isso tenha sido parte do ideário positivista dos sécs. 19 e 20, que seja. Que tenha sobrevivido ao final do século 20, deixado de notar o Legado de Brecht, passado impune pelo Surrealismo e pelo Modernismo e gerado os horores que gerou, em crítica literária, crítica, pensamento e Arte, como um todo … eu lamento.

[8] Quando fizemos a revista “34 Letras”, era comum acordo tácito e jamais explicitado, entre nós, projetistas, criadores, editores – “makers” – que a inexistência de qualquer vinculação (a nada) do nome da revista era nossa forma clara de falar sobre o que, na época, não podíamos, não queríamos ou não sabíamos dizer: o pensamento pós-moderno, e como construir dentro dele. O último número da revista, logo antes de ser detonada pelo Plano Collor, era sobre “O Lixo”, se bem me lembro. Mitológico, esse arquivo um dia existiu nos Macs que a revista então usava e, conta a lenda (isso e algumas conversas já antigas com a Bia Bracher), se perdeu em algum momento de não-backup. “O Lixo” tentava falar sobre, nas palavras dos Titãs (que não têm nem tinham nada a ver com isso) “o que não é o que não pode ser o que não é”. Tenho a impressão, por vezes, olhando para trás e tecendo conjecturas amplas, que foi naquela época que comecei a pensar sobre a teoria de topoi, “os lugares das coisas” [9], porque “o que não pode ser” não é um “não lugar”, como gostaria muito que fosse um certo Auger e uma tal Teoria da UltraSupraModernidade; “o que não pode ser” é muito mais antigo, remetendo tanto a Aristóteles, com seus topoi [10], mas também aos conceitos básicos do Estruturalismo, já que Saussure (vamos incluir L-Strauss aqui) fala o tempo todo sobre “o que não pode ser” quando estipula que determinadas formas não ocorrem num idioma porque não podem ocupar o mesmo lugar já ocupado por uma outra forma. É uma simplificação extrema, mas faz parte do pensamento Estruturalista. Causa-me espanto que possa haver uma teoria dos Não-Lugares [11] e que isso seja considerado qualquer coisa além de uma revisão do Estruturalismo, já fora de tempo e fora de lugar. De qualquer forma eu queria apenas fazer uma anotação sobre… é, sobre um monte de coisas que estão nesta nota.

[9] in, mas não exatamente lá, Topoi, Aristóteles. Gostaria de dizer que li o original em grego mas, na prática, li uma bela tradução em português da Casa da Moeda de Portugal.

[10] Embora Aristóteles não estivesse preocupado exatamente com isso, eu é que “remeto” a Aristóteles como se sequer fosse razoável fazê-lo, mais como imagem-sonho de algo que Aristóteles poderia ter dito do que como ‘referência’ – não há referência possível, aqui.

[11] Platão: o que é, é; o que não é, não é. Voltar, então, a discussão sobre o que seria um Ser que Não é? Eu diria o que acho que Platão disse: se um Ser Não É, então ele é da ordem do Falso. Mas, enfim, isso também é simplificar um longo debate sobre como funciona o Ser em Platão, e não acho isso nada trivial.

Domingo
jul042010

Sobre a Escrita (um divertimento)

Considere que é um exercício. Um ensaio.

.

A mão precisa desenhar pequenos símbolos de traçado vazado na superfície de uma folha de papel.
Outra vez de novo. Usando diversas cores canetas diferentes fontes.
Até (a mão) sangrar vermelho misturando-se com branco de 
palavras conformando matéria papel machê compondo
máscara que será a nova persona moldando minha
face.

Considere (que é) uma preparação sem fim

para aquilo que nunca virá:

Sala de Espera

para o fim do mundo.