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Domingo
jan092011

Retornos e partidas

Imagino que você esteja na Austrália. Embarco no avião para a Espanha agora, dia 14, depois de um longo calvário envolvendo mais documentos do que qualquer ser vivo deveria ter, mas estamos felizes e animados com essa mudança de vida. É curioso se livrar de praticamente tudo o que você tem, reduzir sua vida a duas malas e bagagem de mão e mudar de continente. Acho que São Kerouac ficaria orgulhoso.
, leio no iPad pela manhã o mail de um amigo, já tendo eu chegado da Austrália e não tendo ele partido para a Espanha.

Voltar (ainda sem ter acabado de “estar lá” ou, ao menos, de escrever os textos que espero poder escrever sobre enquanto estive lá) tem esse impacto “anti-Kerouac” - voltei com mais coisas do que levei (costuma acontecer), comprei mais um computador (se for o único de 2011 está tudo bem, é meu primeiro Mac), mas fiquei um pouco assustado (estou assustado) com a volta

:  tenho uma infinidade de coisas aqui. Voltando, dá vontade de pensar que não é nada disso, que preciso de muito menos, que não quero os CDs os DVDs os livros os muitos HDs com coisas digitalizadas (que já reduziram em muito o volume físico do que me cerca, mas continuam pesando - “quando vou ver a versão em japonês dos 37 Ronin”? ). Kerouac largou isso tudo, ele e John Fante e os outros beatniks, mas era outra época, meu caro, apesar do programador bicho-grilo Jason Rohrer que consegue programar jogos (não dá para fazer isso sem lidar com informação) e manter-se longe dos gadgets, da tentação do excesso de tudo e que vive uma ‘vida natural’ (alguém consegue, a sério, uma definição filosoficamente sustentável do que é ‘natural’, hoje? eu não concebo nenhuma que seja sustentável e única, mas entendo que várias são possíveis; o ‘natural’ se perde, mas a vida não).

Voltar é uma trajetória com perguntas, assim como as duas malas de bagagem, a mudança de continente, a distância ao mesmo tempo boa e ruim dos parentes e amigos (novos amigos se fazem; parentes não mudam; Moiras e Karma estão em nós e Clotho, Lachesis e Atropos - as três Moiras - definem quem somos e quanto “duramos” aqui; um continente só muda onde estamos).

Zeus apenas trazia aos Homens o que lhes cabia, mas assim como Chronos é pai de Zeus (o Tempo vem antes de tudo), as Moiras determinavam o que nos cabe. Zeus era um executivo (vontade de dizer “Zeus era um CEO que sabia que não lhe cabia determinar os destinos da Corporação, mas apenas implementá-los e segui-los”. se eu de fato disser isso e depois escrever o livro “Zeus, CEO”, provavelmente fico bem de vida com outra das minhas idéias insanas, mas perfeitamente coerentes).

Boa viagem, amigo: espero que você descubra, na Espanha, muitas coisas que o espantem. A pior coisa numa viagem é que tudo em volta seja apenas o esperado.