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Sexta-feira
jul312009

Concorde: Paris, Charles de Gaule

Charles K. me escreve de Paris.

 

“Concorde. colocado em meio às pistas de trânsito interno do infindável aeroporto de Charles de Gaulle.
fica ali, suspenso em concreto, como uma enorme (e cara) escultura futurista em um museu improvável.
monumento a uma engenharia cujo tempo passou, um tempo que admitia coisas que não admitimos mais hoje.
memória de um futuro que não foi: mais veloz, mais aerodinâmico, mais caro.
na época do Concorde não se otimizava operações e companhias aéreas serviam mais do que uma porção de amendoins no jantar.
os homens sonhavam com outras coisas. tentavam superar limites.
penso nos artefatos que foram, em seu tempo, revolucionários, radicais, o ápice de uma engenharia, de um processo de construção, a soma de conhecimentos de muitos estudiosos.

como o Mecanismo de Antikythera. 

Concorde. veículo por excelência, máquina de velocidade, agora um objeto estático. paradoxo gritante.

por algum motivo não nos serve mais e, não fosse o fato de que somos muitos, hoje, e temos meios para preservar quase tudo, hoje, com o tempo ele acabaria reduzido a um monte de lata sem nexo que algum arqueólogo futuro teria que tentar modelar, repensar, entender e, muito perplexo, descobriria que nós, futuros neandertais do século 20, sabíamos construir aviões supersônicos de passageiros.

mas, assim como aconteceu com o Mecanismo de Antikythera, nossa civilização julgou que não precisava daquilo, não mais. deixou um ou dois exemplares soltos por aí, jogados como esculturas ornamentando as pistas de algum aeroporto, testemunhos de um tempo em que nossas crenças tecnóides eram outras.”

 

Charles K., Paris, outubro de 2008