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Das internas

Entries in Austrália (4)

Domingo
jan092011

Retornos e partidas

Imagino que você esteja na Austrália. Embarco no avião para a Espanha agora, dia 14, depois de um longo calvário envolvendo mais documentos do que qualquer ser vivo deveria ter, mas estamos felizes e animados com essa mudança de vida. É curioso se livrar de praticamente tudo o que você tem, reduzir sua vida a duas malas e bagagem de mão e mudar de continente. Acho que São Kerouac ficaria orgulhoso.
, leio no iPad pela manhã o mail de um amigo, já tendo eu chegado da Austrália e não tendo ele partido para a Espanha.

Voltar (ainda sem ter acabado de “estar lá” ou, ao menos, de escrever os textos que espero poder escrever sobre enquanto estive lá) tem esse impacto “anti-Kerouac” - voltei com mais coisas do que levei (costuma acontecer), comprei mais um computador (se for o único de 2011 está tudo bem, é meu primeiro Mac), mas fiquei um pouco assustado (estou assustado) com a volta

:  tenho uma infinidade de coisas aqui. Voltando, dá vontade de pensar que não é nada disso, que preciso de muito menos, que não quero os CDs os DVDs os livros os muitos HDs com coisas digitalizadas (que já reduziram em muito o volume físico do que me cerca, mas continuam pesando - “quando vou ver a versão em japonês dos 37 Ronin”? ). Kerouac largou isso tudo, ele e John Fante e os outros beatniks, mas era outra época, meu caro, apesar do programador bicho-grilo Jason Rohrer que consegue programar jogos (não dá para fazer isso sem lidar com informação) e manter-se longe dos gadgets, da tentação do excesso de tudo e que vive uma ‘vida natural’ (alguém consegue, a sério, uma definição filosoficamente sustentável do que é ‘natural’, hoje? eu não concebo nenhuma que seja sustentável e única, mas entendo que várias são possíveis; o ‘natural’ se perde, mas a vida não).

Voltar é uma trajetória com perguntas, assim como as duas malas de bagagem, a mudança de continente, a distância ao mesmo tempo boa e ruim dos parentes e amigos (novos amigos se fazem; parentes não mudam; Moiras e Karma estão em nós e Clotho, Lachesis e Atropos - as três Moiras - definem quem somos e quanto “duramos” aqui; um continente só muda onde estamos).

Zeus apenas trazia aos Homens o que lhes cabia, mas assim como Chronos é pai de Zeus (o Tempo vem antes de tudo), as Moiras determinavam o que nos cabe. Zeus era um executivo (vontade de dizer “Zeus era um CEO que sabia que não lhe cabia determinar os destinos da Corporação, mas apenas implementá-los e segui-los”. se eu de fato disser isso e depois escrever o livro “Zeus, CEO”, provavelmente fico bem de vida com outra das minhas idéias insanas, mas perfeitamente coerentes).

Boa viagem, amigo: espero que você descubra, na Espanha, muitas coisas que o espantem. A pior coisa numa viagem é que tudo em volta seja apenas o esperado.

Sábado
dez252010

As Crônicas Australianas 8 – Sydney, a Luz e fotografias

Quando viajo, fico especialmente atento à luz. Em geral não temos tempo de nos preocupar com ela “em casa”, estamos presos no trânsito ou estamos “fora do instante”, pensando nos problemas anteriores, avaliando problemas futuros, resolvendo coisas em nossas mentes. Não é Zen e, por mais que isso – revisar, repensar, avaliar, prever – possa ser muito útil para nosso cotidiano profissional & pessoal, isso nos retira do instante presente e paramos de prestar atenção ao que está em volta. Como a luz, por exemplo.

Não sou um fotógrafo profissional: não ganho dinheiro com isso, não tenho uma ‘meta’ ou preocupações estéticas sérias. É diferente de escrever (vocês não têm idéia de quantas críticas cada um destes textos recebe, e de quanto eu odeio quando sei que, temporariamente, não posso me dedicar à Forma, preso, como estou agora, a tentar falar sobre uma quantidade enorme de coisas novas que me prendem e me puxam; A Forma requer um despreendimento, requer dias, semanas, meses, requer retornos e revisões; isso aqui é “jornalismo”, tão impressionista quanto possível, mas é para comunicar, mais do que refletir; e, não, nem sempre há uma distinção clara entre as duas coisas, mas eu sempre sei o quanto minha linguagem está mais para o lado “poético” (forma) do que para o lado fático (função)).

Não sou um fotógrafo profissional, mas sou um amante da Luz. Tenho muito a dizer sobre minha relação entre aprender a “olhar as cidades” (olhar as coisas, olhar as paisagens) e em como isso se relaciona com me aprofundar na fotografia (fotografo “a sério como hobby” desde os 15 anos, com pretensões de saber o que faço, entender a técnica, observar o trabalho dos outros, aprender o possível, ler a respeito, experimentar diferentes coisas e, mais recentemente, discutir o que há de bom, o que há de ruim e o que pode haver de interessante nessa passagem do analógico para o digital, seja em música, em fotografia ou nos textos – e, sim, vocês vão ler outro artigo depois com algum pensamento meu sobre o que é “analógico” em um texto e o que é um texto “digital”) e, mais recentemente, em como eu passei a “procurar a luz certa”, a amar a luz e a observar a luz.

IMG_7762 Vejam a foto ao lado. Faz parte de uma série de imagens que tirei olhando para “dentro” de Sydney a partir do Jardim Botânico, que é belíssimo e me faz pensar por que o nosso, do Rio, é tão ingênuo, tão “chato”, tão sem cor (verde, verde e verde: temos muito mais cores que isso no Brasil!). Não quero falar do Jardim Botânico agora, contudo. Quero falar sobre esta foto, assim como as outras que não vou colocar neste texto mas estarão no meu Flickr em breve.

Eram quase 16h quanto estávamos caminhando perto deste ponto. Havia uns 20 minutos que eu olhava para o “cityscape”, como chamo as paisagens urbanas, e via esses prédios “Matrix”, imponentes, espelhados, com uma bela arquitetura, perfeitamente alinhados daquele ponto de onde eu olhava (já fotografei os mesmos prédios de dois outros pontos, não é a mesma coisa) MAS eu tinha um problema impossível de resolver: a luz aqui, num dia de sol, nesta latitude baixa, é um azul chapado que torna o céu muitas vezes desinteressante e tira a profundidade das coisas. Em outras palavras, estava tudo perfeito, menos o céu – e o céu era meu pano de fundo e, sem pano de fundo interessante, não haveria foto.

Eu brinco muito com minha esposa (atéia fervorosa!, enquanto eu tenho uma tendência a me dizer “agnóstico não praticante”) sobre eu manter Deus na minha folha de pagamentos, sobretudo durante nossas viagens. Na Itália, em 2008, foi formidável: eu tive aquela luz mediterrânea de outono, perfeita, que me fez entender, sem teoria alguma, por que as pinturas francesas que eu conheço tão bem eram completamente diferentes das italianas de períodos próximos – a luz é outra! E Deus estava lá, na Itália, me acompanhando e me dando desde tardes fabulosas até nuvens dramáticas que surgiam em momentos essenciais. Deus recebeu muitas moedas, que eu dava toda vez que entrava em uma igreja, para perplexidade e diversão de minha esposa, sabendo ela que eu obviamente não acredito que poderia “comprar” os favores de deus algum com moedas mas que, paradoxalmente, aquele era meu ato simbólico de entregar um pouco dessa “riqueza dos homens” (ou um símbolo de [suposta] riqueza) frente à riqueza do deus-universo-acaso.

Voltando à foto do cityscape de Sydney visto do Jardim Botânico: pouco depois da minha decepção sobre quão “chapadas” as fotos iriam ficar, e enquanto eu pensava a respeito de usar o algoritmo “melhorador de céu” do Photoshop (muito o que falar sobre “Transmutações do Corpo via Photoshop”, um ensaio futuro), bom, Deus se fez presente e lançou sobre nós uma frente fria que, como costuma acontecer aqui em meio / fim de tarde, vem de dentro da cidade (mais quente) em direção ao mar (mais frio e mais úmido). Venta muito, a temperatura em geral cai entre 5 a 10 graus e, neste dia, isso seria acompanhado de nuvens dramaticamente cinzas e, eu sabia perfeitamente, chuva forte. Avisei à família que teríamos chuva em 15 minutos (aprendi a entender a velocidade das nuvens, aqui, que é muito diferente daí) mas não me deram muita bola. Casaco “impérvido” (sério, é impressionante, dá para tirar gotas d’água dele como se fossem folhas) em mãos, comecei a olhar atentamente as mudanças nas nuvens e procurar o lugar certo para estar quanto a frente de tempestade passasse por cima de mim, em direção ao outro lado da Baía.

Essa foto é resultado disso – não tem manipulação digital alguma, aí. Minha Canon viu isso ou, mais exatamente, “coagi ligeiramente” o fotômetro da Canon para que ele me retornasse o que estava frente a meus olhos e dentro de mim.

Há uma outra foto ainda mais impressionante – acho eu –, um panorama de 180 ~ 270 graus tirado com a máquina apontada para a direção oposta, onde é possível ver a linha perfeita formada pela frente de tempestade. Essa, contudo, precisa que o Photoshop crie o “stitch”, a união das várias fotos que tirei para compor os tais 180 ~ 270 graus. Fica para quando eu voltar, então, mas prometo colocar no Flickr assim que tiver um pouco mais de tempo ( www.flickr.com/photos/carlosirineu ).

Faltou dizer um monte de coisas, mas espero que a foto diga parte delas por mim!

Terça-feira
dez212010

As Crônicas Australianas 6 – O trânsito pirado pirante da Austrália

Quando cheguei à Austrália, uma das primeiras coisas que me disseram foi: “toma muito cuidado ao atravessar a rua”, porque aqui é mão inglesa e, se você morar num local careta, como os EUA, você de fato vai ter problemas até se acostumar a inverter o reflexo antes de atravessar as ruas.

Mas eu venho do Rio. Sabe para que lado olho? TODOS. O que é ótimo, porque o trânsito aqui deve ser uma das coisas mais esquisitas do planeta (elaborei uma teoria sobre estarem todos bêbados em um pub quando fizeram o código de trânsito local, mas é só uma teoria) e as pessoas podem fazer tudo. Por exemplo: você está no cruzamento da Rio Branco com Presidente Vargas (ou duas avenidas muito grandes, genéricas, para quem não mora no Rio) e resolve que “vai entrar à esquerda”. Balão? Retorno? NÃO!, você pára o carro no meio da rua, espera não vir ninguém na contra-mão e você se joga para o outro lado.

Então cada sinal aqui tem uma espécie de “matriz de modulações”, com 12 combinatórias, sei lá, e alguma hora, quando ouvimos o que apelidei de “som da galinha feliz” - todo sinal, TODO mesmo, tem dois sons, para auxiliar os deficientes visuais, o que acho fantástico; mas que é um som de galinha feliz, bom, é sim… – você atravessa.

Você está de carro e quer parar num restaurante, mas só tem vaga do outro lado da rua. Simples: você vira no meio da rua, faz quem estava vindo na outra mão esperar enquanto você termina de fazer o “U turn” (curiosamente permitido nos EUA, mas várias vezes não) e coloca o carro na vaga.

Ah: os ônibus se comportam mais ou menos como no Rio, exceto que só abrem e fecham portas no ponto, e os taxistas andam bem mais devagar, sempre com GPS – porque, ao contrário de Londres, eles não sabem nem quais são as ruas de 5 quarteirões à frente do lugar onde fazem ponto – só que alucinados. Hoje um ficou parado na rua fechando o caminho de um ônibus daqueles articulados, enorme, e eu não entendo como não sai briga. (Alguém xingou alguém, contudo, só não sei dizer quem estava “certo” porque os dois estavam fazendo besteira…)

É insanamente impossível entender as regras, é esquisitíssimo ver os caras dirigirem e eu nunca vi gente tão atolada para colocar carro em vaga. Tudo bem que americano acha o tal “parkeamento paralelo” super-difícil, e nós aí no Brasil colocamos uma jamanta em qualquer vaga onde caiba um Fusca sem problema algum. Aqui, tendo andado em carros de amigos apenas três vezes, já me pediram para descer e ajudar a entrar em vagas duas vezes. Pergunta se eu, com meu poderoso inglês de tradutor veterano, sei como se diz “vai, desfaz o jogo, agora vira tudo e vem reto”.

Agora eu preciso partir para um tema bacana que tem a ver com esse: carros esportivos fantásticos com motores enormes, preços normais e mulheres incríveis dentro deles.

Próximo post! 

 

Sexta-feira
dez172010

Conexão Austrália 3 – WOK!

Ou “WAK!”, se preferirem, que é o som produzido na minha cabeça quando penso no número insano de coisas sobre as quais quero escrever, exceto que não tenho tempo (quando chegar no Brasil, o pirlimpimpim pára de fazer efeito e eu me esqueço de tudo, já sei como essas coisas ‘de escritor’ funcionam).

Então vamos lá, 250 por hora, ainda prometendo voltar e desenvolver tudo.

Sydney é tudo o que o Rio deveria ser mas não deixamos, ou deixamos que deixasse de ser. Não acho que Sydney seja mais bonito que o Rio, acho apenas que Sydney é infinitamente mais amigável, limpo, seguro e, para usar um termo técnico, muito bodoso.

Se eu fosse listar as 10 cidades mais legais para se morar, viver, trabalhar, comer e pirar à noite (não que eu possa pirar à noite no momento, mas é só olhar, com certa inveja, pela janela do ônibus voltando de um concerto na Opera de Sydney que, digam o que disserem, é só “muito boa”, mas não fiquei ‘extasiado’ com a acústica e o interior, no estilo de “concreto brutalista”, tem toques lindos de madeira mas o resto, já disse, é brutal; mas, sim, WOW!, uma sala de concertos com ampla área de vidro dando para uma magnífica baía? por que não fizemos isso no Rio, em vez de afundar aquele porta-aviões medonho que é a tal “cidade da música”, que eu queria muito que implodissem, em vez do Fundão) …. Se eu fosse listar as 10 mais, Sydney estaria dentro.

Você pode andar de ônibus. Tem mais gente nas ruas à noite do que de dia – não, é sério, digo, de dia tem gente esparsamente dispersa pelas ruas, à noite é como se o Baixo Leblon, antes de acabarmos com ele, fosse até o Baixo Gávea, antes de acabarmos com ele, e tivesse gente nas ruas durante todo o trajeto e, em Ipanema – a Bondi Beach local – estariam todos na rua, bebendo, saindo, andando em gangues de moto Kawasaky, Yamaha e Suzuky (quando eu tiver minha própria gangue de motos, tipo, depois que eu souber pilotar uma, vai ser uma gangue de Ducati – e, aliás, os poucos stunts com Ducati no início do novo Tron, que assisti 5 da manhã de quarta para quinta aí no “passado” – aqui é sempre futuro, um barato saber como vai ser o dia seguinte! – são o melhor do filme todo – o filme deveria se chamar “Socorro! O Roteirista sumiu e o diretor foi junto!”).

Pensem num lugar onde o Leonardo DiCaprio passaria meio despercebido por ser baixo demais, comum demais, tolo demais. Pense num lugar onde há clones de Russel Crowe soltos em todas as ruas – não há gente gorda aqui, nem barriguda, mas não me perguntem quantas horas por dia eles todos malham para tirar do sistema a cerveja que tomam aos montes, como os ingleses – … e todas as mulheres da Califórnia com todas as mulheres da Tailândia com os melhores cruzamentos transgênicos entre oriente, ocidente, inglaterra, montes de brasileiros (isso é a cara do Rio como o Rio deveria ter sido em um universo alternativo, já disse) e você fica absolutamente deslumbrado nas ruas, com MUITA gente bacana, seja qual for sua preferência sexual.

Até os sapos verdes, para quem curte sexo com sapos verdes (se você não experimentou, não sabe o que está perdendo!, mas não me pergunte porque eu também não sei !!), são incrivelmente verdes, parecem de brinquedo, tipo plástico japafosforescente, mas eu vejo que estão respirando, nos museus-aquários de bichos vivos.

Ah, passavam tubarões e arraias enormes sobre minha cabeça no Aquarium, e QUE DIABOS O RIO TEM QUE NÃO TEM UM AQUARIUM!!!, o nosso ia ter mais peixes, seria mais bacana, teríamos muitas espécies coloridas, por que não perdemos o que Ariadne um dia definiu como “complexo de precariedade terceiromundista” (Ariadne, darling, te devo um ensaio sério sobre isso, mas aquelas noites todas de conversa não foram em vão) …. e daí simplesmente FAZEMOS?

Olha só: o post vai acabar. É, assim, no meio do nada, no meio da noite, no meio das imagens de pubs cheios e gangues de motos Kawasaky e eu saindo de Tron 2 decepcionado até a quinta geração e os adultos tirando fotos zoadas com papai-noel no shopping e Carolus Linnaeus, saindo do HMS Bagel e vindo aqui continuar sua notória obra “Da Origem das Peruas”, tendo encontrado os primeiros exemplos de adaptação de espécies (as belas moças superproduzidas mas esquisitamente vestidas e over the top “a nivel de” ultraperuas que entraram no 333 – sério, é o ônibus que me traz do Centro para Bondi Junction! – eram brasileiras, mas já mutagenicamente transformadas em ultraperuas semivagabas (qual o termo técnico para quem é só “cheap”, mas nao chega a ser “bitch”, mas está quase lá, mas não é “rich bitch”?) …. eram brasileiras.

Melhor parar aqui, Overload sensório e falei menos do que registrei em um único dia nos Topoi internos.

Eu volto.