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Quarta-feira
set012010

Evento da Apple, iTunes 10, nova Apple TV

Acho curiosa essa coisa de poder ver a transmissão ao vivo de um evento sem precisar de TV - estou vendo parte da apresentação de Jobs, fisicamente em São Francisco, no meu iPad, fisicamente no Rio.

As TVs a cabo estão mortas, eu já disse antes, e DVDs em Blu-Ray se tornaram uma piada cara (para os fabricantes) porque nasceram fora de época, e nasceram mortos. Não me entendam mal: o formato de vídeo HD vai viver, em grande parte porque a qualidade de vídeo em HD é muito melhor, mas também porque as Corporações Transnacionais não conseguem nos vendem TVs de LED caras sem que haja um formato HD para elas. A mídia, contudo, tornou-se irrelevante: “disquinhos” ocupando espaço, pegando mofo e arranhando? Nah… para o lixo!

Assim como ninguém mais precisa de CDs físicos - pen-drives e HDs são muito mais práticos -, ninguém precisa de DVDs físicos. Hoje, é possível fazer streaming de quase tudo pela Web e a questão é ter uma banda de internet “larga” o suficiente para que o streaming possa ser feito em tempo real ou, se for necessário armazenar algo localmente - em um HD -, que isso não demore séculos.

A Apple acabou de jogar uma pá de cal muito séria ao lançar, hoje (1 de setembro de 2010), a Apple TV decente a U$99. Estará disponível nos EUA em 4 semanas - portanto, em início de outubro. 

A idéia bacana da Apple foi entender que a Web é a mídia e que aquele HD interno bizarramente caro e idiotamente quente que havia na Apple TV antiga era irrelevante nos sistemas domésticos distribuídos atuais onde tudo fala com todo o resto via WiFi, e onde qualquer computador da rede de casa pode transmitir um filme por WiFi para o LCD da sala.

Faltava, justamente, tirar o maldito computador da sala. O conceito de “entertainment PC” era completamente inadequado, ninguém precisa de uma CPU e, pior, um sistema operacional de PC (ou Mac - enfim, de “computador”) rodando para dar play em um vídeo e, para os que jogam, é bem melhor ter um Playstation ou um XBox ou um Wii. Sem discos-rígidos, sem sync e sem “repositório” na sala, então.

O novo (dispositivo) Apple TV fará streaming de vídeo da Web a $0.99 para seriados e também filmes. Pode passar vídeos transmitidos de um iPad ou de qualquer computador da casa (o que faz todo o sentido do mundo) e pode pegar conteúdo do Netflix. Quando e como os acordos de distribuição vão chegar no Brasil, não sei - ainda nem resolvemos a parte de música, por atraso mental do que sobrou da indústria musical, por contratos arcaicos e por sei lá qual motivo burocrático que realmente desconheço.

Voltando.

A nova Apple TV - facilmente imitável como dispositivo, então o que está em questão é a conveniência do novo iTunes e os acordos da Apple para distribuição de conteúdo - acaba com o besteirol do “sync” e, talvez mais importante, o modelo financeiro passa a dar ênfase ao aluguel de conteúdo, e não às vendas. Parece que nem todos os estúdios aderiram ainda, segundo o que ouvi Steve Jobs dizer, mas não aderir me parece tolo e insensato, embora seja a cara retrógrada da indústria cinematográfica, que ainda pensa em “vender disquinhos” e, ao pensar assim, corre rápido para o mesmo precipício em que afundou a indústria musical.

O modelo comercial de tudo mudou agora que existe a Rede. Gostando ou não, vive quem entender isso, desaparece quem não funcionar dentro disso. (As regras não são minhas - a Rede, assim como o resto da Realidade, apenas “é”. Podemos mudá-la, mas ela existe como existe porque nossa sociedade pensa como pensa.)

Por que eu acho o novo modelo vantajoso para os produtores de conteúdo? Porque reduz a pirataria. Qualquer modelo baseado em streaming, não permite - ou, na prática, ao menos dificulta - gravar um filme. É, assim, muito melhor para os produtores de conteúdo, já que seu custo industrial cai a zero, a distribuição fica concentrada na Web (está é uma parte essencial de entender - estamos frente a um processo terrível de concentração de distribuição de bens culturais e isso não me parece nada bom) e estúdios, produtoras, “canais” de TV passam a lucrar mais com múltiplos aluguéis. Ao mesmo tempo, dificultam a cópia dos arquivos nas redes P2P, já que não haverá mais arquivos - apenas streaming.

Não dá para falar, agora, sobre o evento da Apple que acaba de acontecer, dos novos iPods e do novo iTunes 10 e ainda fazer uma análise das implicações disso para osistema de produção e difusão de conteúdo, mas eu retomo o assunto assim que ler um pouco o que ainda vai ser publicado na web americana hoje e puder pensar.

Noto, contudo, que a Netflix ganha cada vez mais força e vai, eventualmente, acabar com as locadoras de vídeo, que estão na lista de “futuros bichos extintos”. Não lamento pelo lixo que a Americanas fez com a Blockbuster aqui no Brasil e desejo que eles partam em paz para o éter. Lamento, contudo, pela simpática locadora pequena e muito bem suprida de filmes de arte aqui do meu bairro - neste momento, me parece que a locadora desaparece assim que as pessoas conseguirem dar conta de colocar suas redes de casa para funcionar direito. Não é para a semana que vem, mas não deve demorar mais do que 5 anos, se tanto.

Retomo tudo isso mais tarde.

CDC