Masters of the Air - um livro sobre os B17 na 2a Guerra

O subtítulo sério, em inglês, é “America’s Bomber Boys who Fought the Air War against Nazi Germany”. Editorialmente, acho que bastava algo como “Life Stories of America’s Bomber Boys”, mas editorialmente não me perguntaram nada.
Para quem não sabe, do meu “período Revell” (não sei o que vão ser essas crianças de hoje sem montar aviões da Revell, a Humanidade está perdida etc etc), ficou uma paixão por bombardeiros. Que isso seja uma incoerência profunda em alguém que é pacifista (enquanto possível), é, pode ser, mas sou amante de aviões de guerra: Spitfires, Mustangs, P47 Thunderbolts, P38 Lightnings, Zeros e Messerschmitts exercem um fascínio sobre mim, seja pela aventura humana (demasiado humana) que foi criar belas e complexas máquinas com o objetivo único de matar e/ou destruir, seja porque há uma estética nelas, em suas formas bem resolvidas, na conjunção de funcionalidade, restrições e recursos mínimos do início da aviação de guerra.
Quando tive oportunidade, trouxe um livro sério sobre os B17, as Fortalezas Voadoras. O livro tem 670 páginas de texto puro. Retire-se disso 140 páginas (que não vou ler) de Notas, Referências e Índice. É mais do que uma tese e é mais aprofundado do que a maioria das teses que passam por mim. O autor, Donald L. Miller, é professor de história e, embora não tenha parado para ver a Google Life dele, suspeito que parte dos outros 8 livros que publicou seja sobre a 2a Guerra. Ele claramente sabe do que está falando e passou muito tempo pesquisando.
O livro não é ruim, mas está longe de ser “bom”. Mr. Miller precisava de um editor, uma figura cada vez mais rara em um mercado editorial que vive “com pressa”, como se os livros fossem se desmanchar. Há mil trechos interessantes, mas está longe de ser o que chamo de “um livro” - algo com um projeto claro, uma intenção definida e uma organização ou conceito. Como está, é uma “reunião de escritos sobre um tema”.
Entre relatos detalhados sobre as condições de produção industrial, os objetivos militares do bombardeio tático, a vida e as missões dos que combateram em Fortalezas Voadoras …. algo se perde. É impossível achar um trecho no livro (tentei, para este post, e desisti bem rápido) e constamente o leitor é jogado de um relato de missão para um panorama da política militar dos Aliados. Confuso.
Não sei se vou largar o livro: estou na página 170, li coisas interessantes que desconhecia completamente. Uma coisa mudou dentro de mim, contudo: achava que os combates em terra tinham sido terríveis e que o Marine Corps tinha sofrido as piores baixas. Não é verdade. O livro deixa claro que, apesar de ser uma “fortaleza”, o B17 era algo bem próximo de um caixão voador com bombas.
As perdas humanas e materiais foram enormes e, se a campanha de bombardeios estratégicos diurnos teve sucesso, isso deveu-se mais a enormidade da máquina militar americana funcionando a todo vapor contra os limites da insanidade do Reich de querer lutar contra todos em toda parte ao mesmo tempo.
Fica minha admiração (e gratidão) frente àqueles que, por motivos diversos, se dispuseram a subir num bombardeiro muito impressionante, em termos de construção, mas muito indefeso contra os caças da Luftwaffe e o massacre da artilharia de solo até que a predominância dos Aliados na Guerra começasse a mudar as coisas.
PS - Continuo pensando que jogar coisas que explodem na cabeça dos outros é uma idéia insana mas, naqueles anos cruéis, era uma necessidade, até porque “o outro lado” também estava explodindo tudo o que podia, no ar, na terra e na água.
“Quem venceu” talvez importe para nós, descendentes dos vencedores e crédulos na possibilidade conceitual de uma “democracia”.
A resposta à outra pergunta, “quem estava moralmente justificado”, contudo, me parece ser “ninguém”, e foi ruim para (quase) todo mundo.
CDC
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