HP comprou a Palm – Slate vs. iPad ?

Numa notícia não muito surpreendente, nesta quarta, 28 de maio, a HP e a Palm anunciaram que a Palm agora é parte da HP.
A pergunta mais óbvia, além da que eu sempre me faço – quando é que as fusões vão acabar? as pessoas precisam de emprego e o mundo precisa de alternativas, não de um cenário OCP [1] – é: se temos um Android (um sistema) e se temos o iPad (um sistema e um dispositivo) e se ainda existe, no que é um nicho crescente de mercado, leitores de documentos dedicados como o Kindle (outro sistema e outro dispositivo)… Bom, entendo qual é a briga, consigo explicar qual o terreno, mas por que a HP vai se meter no meio do mato, num charco, armada com uma baioneta e à noite?
Chamo de mentalidade do “eu também”. Se a Apple faz, se a Lenovo faz, se a Dell faz, a HP pensa (deve pensar) “eu também” tenho que fazer. Eles têm um projeto? Acho que não. Eles têm um diferencial de mercado? Duvido – alguém sabe qual é o ‘mercado’, na verdade? TODOS os analistas que li a respeito do suposto mercado para o iPad erraram. Muito.
Retomo: a HP está vendo um mercado de nicho? Não é a deles, a HP faz produtos para as massas, a margem de lucros é mínima e precisam vender muito. Podem aprender com a experiência da Apple e lançar algo melhor? Não, de jeito nenhum – em parte porque é cedo, em parte porque a Apple está anos à frente porque o iPad parte do enorme legado / aprendizado do iPhone.
Acho que era uma excelente oportunidade para deixar a Palm morrer em paz.
Surge outra pergunta: por que comprar a Palm se o Android é grátis e se nenhum dispositivo atual da Palm é competidor sério no mercado de smartphones?
Essa é mais fácil: por que a Palm tem 1600 e poucas patentes. “Propriedade intelectual”, hoje, vale mais do que “máquinas”. Máquinas você compra ou manda fazer. Propriedade intelectual … é outro jogo. Não tenho como julgar quanto as patentes da Palm valem, para uma HP completamente de fora do mercado de smartphones e querendo começar a competir com a Apple, a Google, a Amazon, a Nokia, a Motorola, a HTC e a LG.
Você entraria nesse mar de tubarões? Eu não.
A outra razão parece ser o WebOS que a Palm estava desenvolvendo. Eu diria que a HP está querendo comprar um “passe livre” que a deixe longe da bomba que é o Windows (i)Mobile e do problema que é se tornar escravo do Android. Talvez essa seja, para a HP, uma boa razão.
Queria apenas falar uma última coisa, que é o mais importante, a meu ver: vi recentemente uma tabela comparativa dos recursos do Slate da HP versus os recursos do iPad. Achei curioso que a HP, ou quem elaborou aquela tabela, não tenha entendido que “especificações de hardware”, nesse jogo, não importam em quase nada.
O iPad é uma “appliance” - um dispositivo-utensílio, no mesmo sentido que sua televisão é um dispositivo-utensílio: você liga e funciona. Sem driver, sem codec, sem instalação de programas. O iPad não tem um “OS” e isso é bom [2].
Usuários querem devices que eles possam usar, não um sistema como Linux (ou XP) em que você precisa passar sua vida ‘configurando’ e ‘instalando’.
Por último (é, eu sei – disse antes que já era o ‘último’), mas não menos importante: a Apple tem a Apple Store. E tem aplicativos bem resolvidos, bem feitos, muito baratos e testados há anos no iPhone e no iPod. Agora vão começar a surgir as evoluções de tudo isso para o iPad.
Estratégia brilhante até aqui. E HP, Google e Amazon querem competir com isso, no mercado de smartphones. Boa sorte, porque quem definiu as regras desta batalha foi a Apple.
CDC
[1] “Cenário OCP” – termo cunhado por Carlos Irineu, em referência à já não tão fictícia Omni Consumer Products (latim de americano para “Totalidade de Produtos para Consumidores”) que apareceu pela primeira vez no filme RoboCop. A idéia geral é que, se as fusões não pararem – se não surgir um fenômeno emergente de fragmentação e segmentação, até onde penso, hoje -, no final teremos uma MegaCorporação que controlará todo o resto.
[2] Claro que, por definição, tem um OS ali. Mas é transparente e o iPad, como o iPhone e o iPod, são “appliances”, que eu traduziria como dispositivos-utensílios.
Reader Comments (2)
confissao:
nao acompanho as novidades na área, só troco o computador qd pifa de uma vez; ainda me assombro ao pensar como a web mudou a face do mundo, porque sou do tempo em que se vivia e se trabalhava sem ela; ignoro totalmente os meandros da técnica, e mais ainda as sutilezas mercadológicas
mas tô adorando essa coisa, revolucionária aqui, das notas de rodapé!!!
[NT] Então divulgue a URL das NTs, já que o cara que as escreve por vezes se diverte mais com elas do que com o artigo em si. Pretendo aumentar, mas estou dando uma chance para as pessoas se 'adaptarem'. :o) Tks!