Imagens & Tópicos
Das internas
« HP comprou a Palm – Slate vs. iPad ? | Main | A música que (insiste em) viver »
Sábado
abr242010

Lady Gaga é 'segura' porque é careta, mas não parece

Isso vai ficar para depois, tem ‘projetos’ desabando binariamente em cima de mim neste exato momento. Foi algo que compreendi no almoço, pensando em um monte de coisas (não tem projetos no almoço).

Uma amiga querida me escreveu dizendo que a sobrinha, de 10 anos, tinha pedido que o ‘tema’ da festa de aniversário dela fosse Lady Gaga [1]. E ela disse, no mail: não é Xuxa e não é High School Musical (HSM), é Lady Gaga.

Ouvi e prestei atenção. Também prestei atenção ontem quando uma colega tradutora > 30 me disse, no Twitter, que gostava da Lady Gaga. Fiquei pensando (é o que eu faço, desde sempre; estou tentando apenas fazer isso profissionalmente e ser pago).

A conclusão é que Marilyn Manson… “não”, sabem? Porque ele leva a sério, porque ele faz aquilo que prega, porque ele canta expressando cada palavra que ele pronuncia, porque ele não está num cos-play, ele assume o personagem que criou para si. E retoma o mito pinkfloydiano do astro rock como ditador & deus. Com as devidas consequências também já detalhadas em The Wall. 

Mas Lady Gaga …. poxa, brincar de achar que você é fetichista é ‘ousado’. Mas você não é de fato. Brincar de ter sua roupa rasgada é ‘ousado’ … mas ninguém rasga nada de fato. Brincar de levar a sério uma paródia de tudo o que é o imaginário pop atual … é divertido, mas você se machuca bem menos se aquilo tudo for só de mentira e você puder deixar a roupa estranha, a maquiagem bizarra e sua ‘persona’ do The Sims Get Real para trás, e daí … você vai cuidar da vida, vai ter 10 anos, vai fazer suas coisas tendo vivido aquela ousadia fake, para consumo.

E, sim: enquanto o Marilyn e a banda detonam nas guitarras distorcidas e nos vocais rasgados, tem uma moça com melodias pop ultra-pensadas, que não tem nem mais os famigerados ‘quatro acordes de todas as músicas pop’, só tem um e uma variação do um, a batida … Vengeance Sound, o som está pronto, já foi definido, testaram em Ibiza, sabem que funciona - compre os loops da Vengeance, use o baixo sem graves do Access Virus… é assim que se faz pop, hoje.

Com ousadia de boutique. 

Retorno.

 

[1] Na minha época, corríamos e brincávamos. Se tanto, tinha mágico. Hoje, festas infantis são mais uma indústria capitalista bizarra, com ‘temas’, decoração, bolo com imagem fotográfica, animadores *e* o mágico, som estupidamente alto dos animadores para uma geração de futuros surdos-funcionais, ‘barraquinhas’ de junk food para uma geração de obesos e … ah, sei lá, ia só dizer que as crianças continuam gostando de correr e brincar; nós, adultos, é que parecemos ter perdido o saco / tempo de deixar que elas façam isso. Pagamos quanto nos cobram, mas a conta real vem mais tarde.

Reader Comments (2)

Eu admiro muito a Lady Gaga, ela é como uma virtuose em se aproveitar do mercado fonográfico atual. Chama atenção sem expor sua vida pessoal. Ela parece sempre fazer o que é ótimo ao sucesso dela sem ser prejudicial a si mesma, se ela decide sair de cena, ela vai embora sem levar nenhuma seqüela.

d.C. 2010/5 | Unregistered CommenterFroyd

Não vejo Lady Gaga fazendo nada que a Madonna não tenha feito- há 20 anos atrás (aliás, no clip Alejandro, Gaga, em vários momentos, lembra demais a Madonna) e por isso, me espanta esse ar de novidade com que a coisa é encarada. Naquela época, sim, ainda era ousadia usar elementos fetichistas. Ainda no início dos 90 era ousado lançar um livro como o Sex. Hoje em dia... Independente disso (de ser over ou não), é péssima a erotização precoce. Era antes, é hoje, será. É, no mínimo, preocupante e, levando isso em consideração, o visual Gaga acaba sendo mais hardcore do que foi o da Madonna, até porque os clips hoje em dia são mais "realistas", mais cinematográficos, impactantes e menos teatrais e paródicos do que eram os dos anos 80/90- em muitos casos, de uma rebeldia bastante ingênua. Gaga é entretenimento pra adultos. Ninguém perde o bonde da história (coletiva e individual), nem vira um e.t. por esperar a hora certa em que corpo e mente estão preparados para vivenciar (e escolher racionalmente) determindas experiências.
Já que comparei as duas, Gaga ganha de Madonna no quesito "canto de início de carreira". No início, Madonna tinha voz de patinho e/ ou gás Hélio (Borderline, p. e.). A voz de Gaga é mais encorpada. Depois, conforme o tempo foi passando, a voz da Madonna melhorou muito e o trabalho dela em Evita foi bastante digno (não desbancou a Julie Covington, do original, é claro, até porque a Covington era uma cantora experiente em musicais, tinha formação clássica etc). Quanto ao futuro, ninguém sabe, Gaga pode melhorar, estacionar ou até piorar. Por último, o pop da era Madonna era mais rico, inclusive em termos estruturais (harmonia e melodia).
Verdade, antes corríamos, brincávamos, era um sacrifício juntar a garotada mesmo pra comer bolo e tomar refrigerante. Parece que a simplicidade ficou pra trás. As festas estão muito cerimoniais, daqui a pouco vai ser necessário fazer curso de teatro ou workshop sobre "como festejar" ou "como se portar em festas".

d.C. 2010/3 | Unregistered CommenterAdrian

PostPost a New Comment

Enter your information below to add a new comment.

My response is on my own website »
Author Email (optional):
Author URL (optional):
Post:
 
Some HTML allowed: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <code> <em> <i> <strike> <strong>