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Sábado
dez252010

As Crônicas Australianas 8 – Sydney, a Luz e fotografias

Quando viajo, fico especialmente atento à luz. Em geral não temos tempo de nos preocupar com ela “em casa”, estamos presos no trânsito ou estamos “fora do instante”, pensando nos problemas anteriores, avaliando problemas futuros, resolvendo coisas em nossas mentes. Não é Zen e, por mais que isso – revisar, repensar, avaliar, prever – possa ser muito útil para nosso cotidiano profissional & pessoal, isso nos retira do instante presente e paramos de prestar atenção ao que está em volta. Como a luz, por exemplo.

Não sou um fotógrafo profissional: não ganho dinheiro com isso, não tenho uma ‘meta’ ou preocupações estéticas sérias. É diferente de escrever (vocês não têm idéia de quantas críticas cada um destes textos recebe, e de quanto eu odeio quando sei que, temporariamente, não posso me dedicar à Forma, preso, como estou agora, a tentar falar sobre uma quantidade enorme de coisas novas que me prendem e me puxam; A Forma requer um despreendimento, requer dias, semanas, meses, requer retornos e revisões; isso aqui é “jornalismo”, tão impressionista quanto possível, mas é para comunicar, mais do que refletir; e, não, nem sempre há uma distinção clara entre as duas coisas, mas eu sempre sei o quanto minha linguagem está mais para o lado “poético” (forma) do que para o lado fático (função)).

Não sou um fotógrafo profissional, mas sou um amante da Luz. Tenho muito a dizer sobre minha relação entre aprender a “olhar as cidades” (olhar as coisas, olhar as paisagens) e em como isso se relaciona com me aprofundar na fotografia (fotografo “a sério como hobby” desde os 15 anos, com pretensões de saber o que faço, entender a técnica, observar o trabalho dos outros, aprender o possível, ler a respeito, experimentar diferentes coisas e, mais recentemente, discutir o que há de bom, o que há de ruim e o que pode haver de interessante nessa passagem do analógico para o digital, seja em música, em fotografia ou nos textos – e, sim, vocês vão ler outro artigo depois com algum pensamento meu sobre o que é “analógico” em um texto e o que é um texto “digital”) e, mais recentemente, em como eu passei a “procurar a luz certa”, a amar a luz e a observar a luz.

IMG_7762 Vejam a foto ao lado. Faz parte de uma série de imagens que tirei olhando para “dentro” de Sydney a partir do Jardim Botânico, que é belíssimo e me faz pensar por que o nosso, do Rio, é tão ingênuo, tão “chato”, tão sem cor (verde, verde e verde: temos muito mais cores que isso no Brasil!). Não quero falar do Jardim Botânico agora, contudo. Quero falar sobre esta foto, assim como as outras que não vou colocar neste texto mas estarão no meu Flickr em breve.

Eram quase 16h quanto estávamos caminhando perto deste ponto. Havia uns 20 minutos que eu olhava para o “cityscape”, como chamo as paisagens urbanas, e via esses prédios “Matrix”, imponentes, espelhados, com uma bela arquitetura, perfeitamente alinhados daquele ponto de onde eu olhava (já fotografei os mesmos prédios de dois outros pontos, não é a mesma coisa) MAS eu tinha um problema impossível de resolver: a luz aqui, num dia de sol, nesta latitude baixa, é um azul chapado que torna o céu muitas vezes desinteressante e tira a profundidade das coisas. Em outras palavras, estava tudo perfeito, menos o céu – e o céu era meu pano de fundo e, sem pano de fundo interessante, não haveria foto.

Eu brinco muito com minha esposa (atéia fervorosa!, enquanto eu tenho uma tendência a me dizer “agnóstico não praticante”) sobre eu manter Deus na minha folha de pagamentos, sobretudo durante nossas viagens. Na Itália, em 2008, foi formidável: eu tive aquela luz mediterrânea de outono, perfeita, que me fez entender, sem teoria alguma, por que as pinturas francesas que eu conheço tão bem eram completamente diferentes das italianas de períodos próximos – a luz é outra! E Deus estava lá, na Itália, me acompanhando e me dando desde tardes fabulosas até nuvens dramáticas que surgiam em momentos essenciais. Deus recebeu muitas moedas, que eu dava toda vez que entrava em uma igreja, para perplexidade e diversão de minha esposa, sabendo ela que eu obviamente não acredito que poderia “comprar” os favores de deus algum com moedas mas que, paradoxalmente, aquele era meu ato simbólico de entregar um pouco dessa “riqueza dos homens” (ou um símbolo de [suposta] riqueza) frente à riqueza do deus-universo-acaso.

Voltando à foto do cityscape de Sydney visto do Jardim Botânico: pouco depois da minha decepção sobre quão “chapadas” as fotos iriam ficar, e enquanto eu pensava a respeito de usar o algoritmo “melhorador de céu” do Photoshop (muito o que falar sobre “Transmutações do Corpo via Photoshop”, um ensaio futuro), bom, Deus se fez presente e lançou sobre nós uma frente fria que, como costuma acontecer aqui em meio / fim de tarde, vem de dentro da cidade (mais quente) em direção ao mar (mais frio e mais úmido). Venta muito, a temperatura em geral cai entre 5 a 10 graus e, neste dia, isso seria acompanhado de nuvens dramaticamente cinzas e, eu sabia perfeitamente, chuva forte. Avisei à família que teríamos chuva em 15 minutos (aprendi a entender a velocidade das nuvens, aqui, que é muito diferente daí) mas não me deram muita bola. Casaco “impérvido” (sério, é impressionante, dá para tirar gotas d’água dele como se fossem folhas) em mãos, comecei a olhar atentamente as mudanças nas nuvens e procurar o lugar certo para estar quanto a frente de tempestade passasse por cima de mim, em direção ao outro lado da Baía.

Essa foto é resultado disso – não tem manipulação digital alguma, aí. Minha Canon viu isso ou, mais exatamente, “coagi ligeiramente” o fotômetro da Canon para que ele me retornasse o que estava frente a meus olhos e dentro de mim.

Há uma outra foto ainda mais impressionante – acho eu –, um panorama de 180 ~ 270 graus tirado com a máquina apontada para a direção oposta, onde é possível ver a linha perfeita formada pela frente de tempestade. Essa, contudo, precisa que o Photoshop crie o “stitch”, a união das várias fotos que tirei para compor os tais 180 ~ 270 graus. Fica para quando eu voltar, então, mas prometo colocar no Flickr assim que tiver um pouco mais de tempo ( www.flickr.com/photos/carlosirineu ).

Faltou dizer um monte de coisas, mas espero que a foto diga parte delas por mim!

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    As Crônicas Australianas 8 – Sydney, a Luz e fotografias - Improbabilidades - Doppelgänger

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