Imagens & Tópicos
Das internas

Entries in Ensaio (12)

Quinta-feira
dez082011

o q nunca foi nem será só seu

vou me desdobrar em várias respostas. uma coisa me ocorre muito de cara: a contracapa do (meu livro de poesias) “Sala de Espelhos”:

vou escrever este livro inteiro para você, entretanto
vc sabe q será lido por todos e
q nunca foi nem será só seu; q nada do q digo aqui
é dirigido a vc, pq isto não é uma carta, pq
nada tenho para vc, é tarde demais. mas queria q soubesse,
pq agora q estou vivo tenho tanto a dizer, ainda qdo vc não venha
a me dizer as coisas q quisera ouvir. ainda qdo olhar se veja projetada
aqui não me venha pedir explicações não interprete
palavras, all that is seen
or seems is just a dream
within a dream, isto é
apenas uma sala de espelhos
num circo de vidas
ceci n’est pas une pipe
e nem mesmo representa um.

“comunicação”, vc me diz, no entanto este texto ressoa
apenas tuas próprias palavras: nada do q eu disse, nada
do q quisera dizer: nenhum som foi
possível aqui.
tenho um comentário sobre o que não está escrito nesta poesia.

a primeira parte é ao mesmo tempo uma carta de despedida para um amor perdido
(como eu teria escrito agora, se estivesse inspirado como estava naquela época)
mas é também o paradoxo que eu acho que quase todo texto tem:
eles (textos) existem, na cabeça do autor, em função de alguma coisa,
são (por vezes) dirigidos a alguém ou provêm de algum ‘fato’,
por mais que tornemos as coisas ficcionais, por mais que seja um fato imaginado;
além disso, sei que cada um terá uma leitura própria mas, paradoxalmente,
o livro publicado não ‘pertence’ mais ao autor nem a um leitor - ele é a soma de tudo
o que quiserem ler nele, e as leituras transcendem qualquer ‘desejo’ do autor quanto a dizer isso e aquilo;

daí a ideia seguinte, de que cada leitor se projeta na leitura, e os textos viram espelhos,
então, de certa forma, o “sentido original” do que eu possa escrever
fica sempre “por trás” daquilo que cada um vê ali, fica oculto pelas palavras,
embora só elas existam - palavras - e só elas ‘falem’ num livro.
mas não é a mim que cabe explicar nada, eu só disse aquilo que disse,
e eu só disse aquilo que você possa ter lido.

o que vem depois não é mais nem carta nem está falando com o leitor,
é minha tese de doutorado escrita em umas 6 estrofes,
quando eu cito ao mesmo tempo Poe e Magritte e, citando os dois,
com umas poucas palavras no meio eu falo sobre
minha teoria de que a linguagem não pode ‘representar’ nada,
que há uma distância intransponível entre a coisa-em-si (lá na Filosofia)
e nossa representação dessa coisa, e que, dream within a dream,
estamos para sempre presos nessa cadeia de remissões,
nessa (outra) sala de espelhos.

o quadro de Magritte é aquele famoso, em geral chamado mesmo de “Ceci n’est pas une pipe”,
http://en.wikipedia.org/wiki/File:MagrittePipe.jpg
mas Magritte o chamou de “A traição das imagens”, e, até onde consigo pensar,
ele olhava para a mesma coisa que eu olho (como teórico) :
o quadro é só a representação do objeto, nunca o objeto em si,
e aquela representação não contém *todo* o objeto - há muitas variações possíveis
em torno do cachimbo.

(incidentalmente, Magritte gostava muito de Poe, mas ninguém nunca vai saber
se foi por isso ou não que eu citei Poe junto a Magritte na poesia;
na verdade, uma vez que existe uma remissão, não me cabe dizer se
fiz de propósito, se só percebi depois ou se, como Magritte, eu também vejo ecos de Poe
aqui e ali)

e a ‘tese’ termina enunciando o paradoxo que em geral se coloca:
se um leitor só vai encontrar no texto aquilo que ele traz consigo,
se o texto é incapaz (no limite) de enunciar algo distinto da leitura,
então o que chamamos de “comunicação” é falso.

como no quadro de Magritte, contudo, o paradoxo da poesia (e do livro)
está no fato de que Magritte obviamente pintou um cachimbo e eu
obviamente
escrevi um livro.

(deixo vocês com a imagem do Gato de Alice, bem Schrödinger…)
Terça-feira
out182011

coloque-se frente a uma tela em branco

Coloque-se frente a uma tela em branco. Sob seus dedos, você tem todos os textos possíveis – é uma combinatória, uma sequência de sequências finitas de teclas pressionadas. Escrever é trazer para Dentro parte do que está Fora.

Click to read more ...

Quinta-feira
jul072011

desbundante

não estou aqui por conta de sua bunda - disse o escritor para a Musa, ele sentado na frente de seus muitos monitores, pensando que a Igreja nunca admitiu as provas reais da existência de Deus (logo ele, tão agnóstico, pensando nisso): mulheres, bundas, seios, olhares, sexo, cheiros (antes, não necessariamente durante, depois), pizza, chocolate, mais pizza. e ainda tinha o argumento teológico sobre O Deus do Café.

Click to read more ...

Domingo
mai222011

no final, é a forma como fazemos as contas que define ...

Inútil olhar com tristeza. Nem mesmo crítica para aquele futuro, única distopia possível. Tudo já foi decidido, não pediram minha opinião. Nem a sua, por sinal. Prossiga em frente e faça o que deve ser feito.

Click to read more ...

Sexta-feira
mai202011

Jardins : Loteria : Biblioteca : Babel + Babilônia = A Forma

você sabe que, no fundo, o site todo é um livro.
você pensou nisso às 4h da manhã, acordando, incomodado, por coisas que nem pôde reparar.
você ignora os erros de português ou de digitação porque agora digita tão rápido que as idéias são só um borrão. musical, como notas de um saxofone tocado muito rápido. como uma passagem de Brahms.
continua firme enquanto o espaço mental de criação se desdobra infinitamente.
se a crítica maior é que Borges  se recusou a reconhecer A Forma, a deixar o texto se abrir e se desdobrar nos caminhos que se bifurcam (o Jardim é tão grande quanto a Biblioteca de Babel e o que determina os percursos é a Loteria de Babilônia, você escreveu num ensaio que não publicou ainda; mas é tão óbvio) …. então, às 4h da manhã, o que você nota é que precisa deixar o site e o texto e o livro que vem do texto que é o site, tudo isso, se abrir em caminhos e enveredar por onde achar que é razoável, ou insano.
você disse ontem que sua próxima empresa se chamaria _______. não, você não pode dizer o nome antes que seja criado, seria o mesmo que perdê-lo.
você apenas digita mais um texto, como quem planta outro arbusto e cria mais uma bifurcação no Jardim, como quem faz outra aposta na Loteria, como quem muda um trecho de um dos livros da Biblioteca.
sabe, Borges não escreveu - talvez não tenha notado - mas os livros da Biblioteca estão constantemente sendo reescritos, sem que ninguém veja.
é o que quebra a estrutura do conto - é o limite, de onde ele não passou.
isso continua.