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Quarta-feira
mar172010

‘Guerra ao Terror’ – pior filme dos últimos tempos a ganhar um Oscar?

Assisti, um pouco perplexo, à premiação do Oscar. Não sou fanático pelo Oscar, não sei os detalhes históricos, não entendo as sutilezas políticas & financeiras entre estúdios, as “lutas de classe” entre os 3 mil atores que votam e os 3 mil ‘alguma-outra-coisa-na-indústria’ que também votam… Eu acompanho com interesse.

Voltei a assistir às premiações depois que mudaram o formato, tornando-as mais rápidas e com passagens interessantes. Gosto de cinema e “acompanho” o Oscar como uma forma de tentar me aproximar da visão americana sobre cinema “mainstream” – o cinemão, como costumam dizer nos jornais daqui. Este ano, contudo, confesso que não entendi quase nada.

Ator, atriz, ator coadjuvante, atriz coadjuvante… Tudo bem.  Animação, óbvio, Pixar. Maquiagem: Star Trek, merecido. Figura mais Pedante da Noite: Sandy Powell, que ganhou Melhor Figurino, insuportável. Prêmios para curtas, para filme estrangeiro. Ok.

Vamos pular alguns prêmios e seguir para a coisa que me causa espanto: por que diabos The Hurt Locker / Guerra ao Terror ganhou prêmios?

Melhor filme??

Loucos, todos loucos… Mas qual o sentido desta loucura específica?

Rápido comentário sobre o bizarro título brasileiro para “the hurt locker”, literalmente “o armário das dores / feridas”. Segundo www.visualthesaurus.com, citando fontes primárias que me parecem confiáveis, a expressão era usada pelos americanos na Guerra do Vietnã com sentido similar a “world of hurt”: um mundo de dores, dor profunda, local onde se encontram todas as dores.

Do ponto de vista deste também-tradutor que, ao longo da carreira, já sugeriu uma boa dezena de títulos “intraduzíveis” para livros, por que não usar “Um mundo de dor”? Ao menos o título teria algo a ver com o filme!

Retomo. Assisti o filme ontem, 17 de março, já sabendo que era “o filme que ganhou o Oscar”.

Antes de ver o filme, tinha pensado que a Academia havia se rebelado contra James Cameron e o fato dele ter se tornado o profissional ultra-bem-sucedido que se tornou. Ou que os ‘estadunidenses’ estavam precisando de um pouco de reforço moral numa guerra ímpia (no sentido não religioso do termo).

Também pensei que, apesar de terem colocado 10 filmes na lista de candidatos a “Melhor Filme” (as regras mudaram neste Oscar: antes, eram no máximo 5 filmes), de cara a lista em si era um problema. Vamos a ela:

* dois filmes bons, mas “menores”: “Up in the air”e “An Education”;

* um filme polêmico: “Inglorious Basterds”;

* um filme que lamento ter sido lançado, por considera-lo estupidamente ruim: “District 9” ;

* dois filmes “liberais”, questionadores e “de esquerda”: “The Blind Side” e “Precious” … aí seria ir longe demais;

* a Academia / o mundo não está pronto para dar um Oscar de melhor filme para ‘uma animação’, então “Up” ficou com o Oscar de “Melhor Filme de Animação”.

 

Seguindo minha lógica, 7 filmes não tinham chances. Só três ‘podiam’ ganhar o Oscar: “A Serious Man”, “Avatar” e, vamos supor, “The Hurt Locker”. (Por que “Invictus” sequer entrou para a lista? Não sei.)

“Avatar” seria a escolha óbvia. Parece, contudo, que a academia detesta o óbvio, tirando “Titanic”.

“The Hurt Locker” ganhou o prêmio de Melhor Filme. Ganhou também Melhor Direção, Edição, Edição de Som (meu lado ‘produtor musical e engenheiro de gravação’ urrava na poltrona nessa hora) e “Mixagem” (gritava a plenos pulmões).

Então fui ver o filme, ontem. Afinal, podia ser como “Apocalypse Now”, do Coppola; ou podia ser como “Cartas de Iwo Jima” ou “Flags of Our Fathers”, do Clint Eastwood. No limite, podia até ser outra narrativa sarcástica, cáustica e crítica sobre esta mesma guerra, como “Three Kings”, um filme subestimado.

Mas “The Hurt Locker” não é nada disso. Nem de longe.

A meu ver, é apenas um filme muito ruim.

Curiosamente, do meu ponto de vista (o de “pensador da cultura”, nunca o de “crítico de cinema”, que não sou) é um filme ruim exatamente pelas características que alguns críticos viram nele como positivas: narrativa (inexistente), fragmentação (não se fragmenta o nada), impressionismo (só é possível ser impressionista quando há uma ‘impressão’ que se deseja transmitir). Tenho outro artigo a escrever sobre a recepção crítica ao filme, que me parece completamente bizarra. Roger Ebert, bem mais “notório” que eu, disse no The Chicago Sun Times que era “o melhor filme do ano e um dos melhores da década”. Wow!

O Le Monde [citando aqui o Walter Salles, ainda tenho que procurar a fonte] teria dito algo que considero uma completa asneira sem nenhuma fundamentação possível: que o filme é “essencialmente metafísico”.

É comum abusarem do que seja “metafísico”, mas, no contexto deste filme, vou entender metafísico da seguinte forma: “olha, nós, do Le Monde, fomos ver o tal filme dos yankees; sabemos que uns críticos de renome disseram que é bom mas não entendemos nada – e, aliás, não entendemos sequer que haja algo para ser entendido -, então vamos dizer que é ‘metafísico’ e tentar nos safar com essa porque, dizendo isso, vocês também não vão entender o que queremos dizer”.

 

Retomo o assunto em outro artigo (hoje, 17; talvez amanhã, 18) porque quero comentar meus “urros” na parte técnica e o que penso sobre “narrativa”, que é, formalmente, minha área de estudos.

Gostaria de comentar, também, o artigo honesto, ainda que meio curto para o que pretende dizer, que Walter Salles publicou no Globo nesta quarta, 17 de março: “O Oscar que quebrou tabus”.

Down and out,
CDC

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