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Domingo
jun132010

Um artigo cheio de pós-escritos

Este é um texto com todas as remissões e mais um monte de observações sobre "Eu tenho um sonho...". Poderia igualmente ser sobre "A Vida de Brian".

- - - NTs do texto "Eu tenho um sonho ..."

[1] Dizer “o dicionário define…” como se isso fosse verdade absoluta, como se fosse explicar tudo, nem sempre é útil ou razoável. Contudo, algumas vezes nos faz pensar sobre como pensamos sobre as palavras que usamos, e porque as usamos assim. O Houaiss não define “vigília” como “estar acordado”, embora provavelmente devesse. Ele diz, contudo, que é o “estado de quem age com precaução para não correr risco” e, na 5a acepção, diz também que é a “capacidade de concentração sobre um campo definido de objetos durante períodos relativamente longos de tempo”. Como eu disse há pouco, estas são duas formas pelas quais tradicionalmente definiríamos “estar acordado”: ficamos concentrados e evitamos correr riscos. Sonhar necessariamente envolve riscos.

[2] “Living the dream, baby” - “vivendo meus sonhos”, disse o personagem de Tom Cruise em Vanilla Sky, Cameron Crowe, 2001. Embora ache que este filme fala sobre coisas profundas, ele não foi levado muito a sério – talvez por contra de Tom Cruise? Convido os leitores a assistirem a versão original do diretor espanhol Alexandro Almenábar, “Abre los ojos”, com Penelope Cruz no mesmo papel, mas sem Tom Cruise, sem “efeitos” e sem o “final explicadinho de Hollywood”. É um chute no saco da Realidade, ou da nossa noção de que sempre sabemos o que é isso, “Realidade”.

[3] “A Resistência” é uma idéia-conceito que é, para mim, o ponto forte de um livro de Seth Godin que será lançado aqui em breve, “Linchpin”. Devo um crédito a Seth Godin porque, durante os dois meses que passei traduzindo Linchpin, pensei muito sobre a resistência e sobre o uso que ele fez do conceito. Contudo, me sinto livre para falar sobre a resistência porque Seth Godin retomou o conceito de outro autor – ele reconhece isso – e expandiu-o em um sentido específico. Eu tenho o conceito em mim há pelo menos duas décadas – até onde me lembro, desde que fui fazer análise, mas certamente desde que resolvi que “Guerra nas Estrelas” (é, “Star Wars” mesmo, já assisti mais de 10 vezes ao longo de muitos anos) poderia servir como grande metáfora para a vida, o universo e tudo mais.

- - - PS's que saíram aleatoriamente da minha cabeça

PS – Aviso rápido: se você acha que seu sonho tem a ver com férias permanentes numa praia paradisíaca bebendo um drinque enfeitado e com belas mulheres (ou homens, ou pequenas criaturas verdes de Alpha-Centauri) em volta, acho melhor eu dizer logo que esse provavelmente não é seu sonho, mas sua forma de fugir dele. Seja qual for o seu sonho, na prática você provavelmente o sente como um pesadelo. Por outro lado, se você acha que pesadelo é quando você está caindo em um precipício ou quando um monstro persegue você … bom, também não é assim que funciona, embora a Psicanálise de Botequim diga que, se você está sendo várias vezes perseguido e devorado por tubarões, provavelmente tem algum medo por baixo disso e é hora de levantar o tapete e olhar embaixo dele.

PS2 - Márcia, acho que já te disse isso mas é sempre engraçado dizer aqui de novo: desde que você se mudou para São Paulo, não acho nada razoável que você continue tendo pesadelos com tubarões que vem tirá-la da cama para depois devorá-la. Tubarões não voam (onças também não, e isso em grande parte garante que os seres humanos tenham chegado até aqui e se transformado nos verdadeiros Tubarões Voadores do planeta) e, já te disse, qualquer tubarão que por acaso vivesse no Tietê já teria morrido intoxicado. Se você ainda não trocou de pesadelo, acho que deveria, pelo menos para se ver livre de minhas brincadeiras a respeito disso!  ~;0)

PS3 - Sobre "Monty Phyton's Life of Brian", há muitas coisas a dizer, mas fico com duas delas. Primeiro, duas frases sobre o filme, no melhor estilo Monty Phyton. Primeiro: "Assista o filme controverso, sacrílego e blasfemo. Mas, se este não estiver em cartaz, assista 'A Vida de Brian' ". Segundo: "Um filme destinado a ofender quase dois terços do mundo civilizado. E também a chatear seriamente o outro um terço".

PS4 - Sobre A Vida de Brian, é um filme fantástico que relativamente pouca gente com menos de 40 anos viu mas provavelmente se divertiriam se vissem. Um dos momentos cruciais (ou seja, "momentos da cruz"; vide “Eu tenho um sonho", que remete de volta a este texto) no filme é quando Brian, que odeia os romanos, se envolve com a "Frente Popular da Judéia", uma das muitas facções beligerantes separatistas que passam mais tempo brigando entre si do que contra os romanos (mas é "só uma comédia", lembram?). O líder da Frente manda Brian pintar, no muro do palácio do governador (esse seria Poncius Pilatus), a frase "Romanes eunt domus", péssimo latim para "Romanos, vão para casa" ("Romans Go Home" - mas é só uma comédia, lembram?). Um Centurião passa, fica revoltado com o péssimo latim de Brian e, como punição, manda que escreva 100 vezes "ROMANI ITE DOMUM", a forma correta. Os muros estão cobertos com a frase no dia seguinte, a Guarda muda e tentam prender Brian. Muitas coisas se sucedem e quase todos morrem de rir.

A Vida de Brian é uma comédia tão escrachada que leva um tempo (e é preciso ver o filme várias vezes, até controlar os ataques de riso mais sérios) para entender as mensagens políticas, filosóficas e espirituais que existe nela, até porque em geral pensamos no Monty Python como "non-sense". Muitos esquetes deles são definitivamente non-sense, mas diria que este filme é "yes-sense". Humor pode ser uma forma de filosofia, uma que é particularmente densa, que penetra sem que as pessoas percebam e que, como não pode ser "refutada" (como diabos alguém "refuta" uma piada sobre deus?), é especialmente incômoda para quem se incomoda. Tenho certeza que Deus riu muito com o filme e, supondo que Ele exista, o que deve deixá-Lo perplexo é por que o Vaticano não produz filmes assim, já que um Deus bem-humorado e disposto a rir de si mesmo, além de uma religião baseada na idéia de perdoar, rir e sempre olhar para o lado mais alegre da vida seriam uma Salvação e tanto para a Humanidade! (Mas, não, em vez disso vamos nos vestir com roupas cinzentas de lã ruim e dizer que se auto-flagelar é "bom", enquanto quase tudo o que nos dá prazer é "ruim". E vamos nessa!)


PS5 - Chega de PS's, por enquanto!

Reader Comments (1)

Posso deixar meu depoimento pessoal de q "A Vida de Brian" é o filme mais engraçado a q assisti? A primeira vez foi na televisão, numa madrugada, sem saber do q se tratava. Foi como conheci Monty Phyton, há anos atrás. O elemento surpresa tornou tudo ainda mais divertido. O filme é muito bom, acho o melhor do grupo e concordo contigo: Deus deve ter rido muito com aquele filme. (E olha q eu acredito pacas em Deus, diga-se de passagem). Ofendidas, só mesmos as religiões; qto mais dogmáticas, mais atingidas.
Além da cena de q vc falou, a outra de q mais gosto é a da cerimônia de apedrejamento do cara q disse o nome de Jeová em vão. É hilária.

d.C. 2010/1 | Unregistered CommenterAna Lúcia

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