Uma noite com o iPad

[este aqui vai ser escrito em partes, então voltem dentro de uns poucos dias - amanhã é feriado etc etc, devo ter mais tempo, há fotos e links externos - mas este é o início.]
Sou um fã bastante condicional mas ardoroso do iPad desde que o Reverendo Jobs apresentou a versão final ao mundo. Li críticas e artigos. Fiquei meio espantado - muitas eram negativas. E tolas.
Finalmente, no domingo agora [18 abril 2010] eu pude usar um iPad na casa de amigos. Digitei um pouco no teclado da tela, vi trechos de filmes, baixei para ele o iElectribe e ouvi os sons com um fone ultra-preciso (BeyerDynamics DT770), interagi bastante com a interface do iElectribe, vi umas páginas de quadrinhos e li um trecho de livro da iBook iTunes iStore (esses caras são muito “iLoveMyself”, não?).
“Deixa eu colocar isso curto”, como diriam os estadunidenses: é do karalho. Numa avaliação de 0 a 10, eu daria pelo menos 18.
Eu não vejo, hoje, como trabalhar a sério com ciência, tecnologia ou humanas e ter uma biblioteca grande sem ter muitos PDFs. É ainda melhor quando você pode levar suas obras completas de Platão, todos os seus poetas clássicos preferidos, Shakespeare e, se essa é sua inclinação sexual, os livros de Vampiros EMO da Stephanie Meyer também estão lá.
Tive um Sony Reader, tenho um Kindle DX. “Preto e branco” sempre foi um problema. Não ter backlight (como um LCD) sempre foi ruim. O iPad resolve tudo e o software é bom, é belo e é flexível: tamanho das fontes e contraste podem ser alterados.
A Amazon deu um tiro na cabeça quando lançou o Kindle for PC e o Kindle for iPhone. Escrevo sobre o “estado das coisas” outra hora, mas, se você tem Kindle para iPad - como tem, e é melhor que o do iPhone, por que diabos você vai pagar para ter um Kindle DX se o iPad faz muito mais, e faz melhor?
‘Jeff’ jamais deveria ter se metido com hardware, acho que foi uma profunda incompreensão dele sobre um monte de coisas. [Isso continua mais tarde, é uma longa questão, para mim.]
Filmes …. não há o que dizer. Esquece DVD e, sobretudo, como eu já disse antes, BluRay como formato *físico* nasceu MORTO. Não vai rolar, não vai vender, é LIXO. Estamos todos comprando e baixando arquivos HD pela Apple Store ou pelo Netflix ou _whatever_.
A tela do iPad não é apenas “boa”. Ela é, junto com a tela do iMac, o monitor mais impressionante que eu conheço. E eu conheço literalmente muitas dezes deles.
O que nos leva ao assunto “quadrinhos”, um formato que está sendo reinventado e que está finalmente livre da grande porcaria que sempre foi “imprimir a cores em papel a um preço relativamente barato”. CHEGA DE PAPEL VELHO EM CASA!, vou detonar minha coleção de quadrinhos e serei feliz sabendo que tenho tudo com contraste de LCD, cores de LCD e, sobretudo, sem mofo.
O iPad vale o que custa apenas pelo que pode ser como ‘leitor’. E, novamente, a Amazon está com problemas sérios com sua plataforma do Kindle, subitamente restrita a um mercado de nicho e precisando *muito* ser repensada e mudar de preço.
E ainda tem a parte de música. Não a parte de ouvir música, que funciona como qualquer iPod / iPhone funcionaria e, apesar de boa porque permite ao usuário ter ‘um som’ enquanto lê ou faz outras coisas, bom, música tem que ser portátil e o iPod tem um mercado enorme que continua existindo.
Estou falando de fazer música e controlar aplicativos maiores de música usando o iPad. É genial.
Os aplicativos de música, que custariam tipicamente $200 ~ $300 para um PC / Mac, passaram todos a custar $9.99 ~ $24.99. Além do iElectribe - uma ‘groove box’, como uma bateria eletrônica porém com mais recursos -, há o AC-7, para controlar diversos programas profissionais de gravação de áudio que qualquer músico usa e, para os que gostam de criar música se divertindo e sem muitas pretensões ‘técnicas’, tem a versão maior e melhor do GrooveMaker, da IK Multimedia, que permite criar música eletrônica (dance, trance, club, house - há vários estilos) com base em loops. É genial e é uma das melhores interfaces que conheço para mexer com áudio.
Por si só, isso valeria o preço do iPad para quem mexe com música.
Ainda não falei nos jogos, nos periódicos, no acesso à web, na possibilidade de ler e escrever mails, na praga que é poder usar o Twitter e o OmniFacebook em mais um gizmo …
Não posso abrir mão do meu desktop - bastante grande e cheio de hardware específico de que preciso. Mas espero abrir mão do Kindle e do meu laptop bacana de 12”, que, se tanto, vai virar um netbook.
O iPad mudou as regras de vários jogos. Entender as novas regras, e entender a relação de poder que está sendo forjada (na base de muitas brigas simultâneas) entre as três grandes corporações globais de hoje (Apple, Amazon e Google; a Microsoft se tornou um apêndice gigante, mas irrelevante, como a IBM) é o que importa agora.
CDC
Reader Comments (4)
Cara, se o Steve Jobs conseguir tranformar você em "putinha" da Apple com o seu iPad eu peço para soltarem os créditos, porque, certamente, o mundo terá acabado.
Achei o comentário meio 'grosso', Leandro - ainda mais vindo de um conhecido - e, se o 'putinha' teve a ver com o meu título, a referência era para os Irmãos Marx (e, sei lá, o Queen), "A Night at the Opera", não para ... "putinha".
O que me impressiona mais é que eu dizer algo positivo sobre uma empresa que definitivamente não é "meu lance" possa deixar alguém irritado a ponto de dizer um troço desses.
Não vou nem apagar ...
Amigo, infelizmente nao consigo aceitar essa tendencia de mercado. Talvez pelo motivo que sempre julguei correto que era de ter certa liberdade enquanto programador. A Apple faz um hardware de excelente qualidade isso nao deixa duvidas. Mas faz isso ao custo de criar um OLIGOPOLIO digital onde ela controla as ferramentas de desenvolvimento, o hardware, o software e a distribuicao. O pior pode julgar se seu aplicativo merece ou nao ser rodado no OSX. O Steve Jobs deu um banho no Bill Gates pois conseguiu trazer implantar o modo BORG na coletividade.
Acho muito bacana o OSX, os Mac Mini, Ipod, Iphone... Mas existe uma verticalizacao draconiana nesse processo.
Max, você não é o único que entende o processo atual como uma verticalização draconiana. O que deixei indicado no meu curto artigo e que me parece ser preciso questionar - e só não o fiz ainda porque não é trivial e estou em meio a um projeto 'denso' - é que há três tentativas de 'verticalização draconiana': a da Apple, a da Amazon e a da Google.
Não me parece que a da Apple seja a pior e isso é um asunto que merece discussão, sem nem mesmo entrar na questão mais ampla do 'open source', democracia, possibilidade de inovação e, no limite, a possibilidade do mercado de pensar diferente.
Concordo ainda que é peculiar que a empresa que diz 'pensem diferente' seja a empresa Borg, como você bem colocou, que impõe um pensamento rígido e cultua um sentimento de 'religiosidade' de seus usuários, como se tudo-Mac tivesse sempre que ser 'muito bom' e acima de críticas.
Parece que não aprendemos nada com a IBM e depois não aprendemos nada com a Microsoft e, em particular, com a tomada de poder na Guerra dos Browsers que levou à queda da Netscape.
Contudo, para mim o assunto tem um lado histórico, sobre o funcionamento de mercados e deste mercado em particular. No momento, eu queria apenas dizer, aqui, que, com todas as verticalizações em andamento no planeta, prefiro as que produzem um iPad do que as que produzem Android(es) ou Sistemas Kindle de Produção.
Prometo retomar o assunto em breve e agradeço o comentário.