The Days the Music Died – Quando a música morreu: intro

É melhor eu começar explicando meu título e o que pretendo com isso. Sou (entre outras coisas) um ex-produtor musical, ex-engenheiro de gravação e continuo sendo um sujeito que ama música (apaixonadamente), amigo de músicos, com uma vasta memória e vasta biblioteca musical e, por último mas não menos importante, mesmo depois de ter desfeito a sociedade do estúdio de gravação que um dia tive, mantenho um estúdio ‘caseiro’ com um rack de sintetizadores e efeitos, algumas placas de processamento digital de áudio no computador e os respectivos algoritmos, além das caixas de som ‘de referência’ e dois headphones considerados, como um todo, ‘incrivelmente bons’.
Em outros artigos-ensaios aqui no site já disse também que me coloco na posição de ‘pensador da cultura’, que é um jeito de não sair fazendo Filosofia em lugar onde não acho que se deva falar de Filosofia e também um jeito de poder falar de coisas que, a meu ver, têm sido excluídas de um certo pensamento mais formal e mais aprofundado, não-jornalístico, que muitos diriam ‘acadêmico’, mas não sei se o termo (ainda) faz sentido, ou se importa.
Pensar importa. E tentar pensar mais a fundo sempre importa.
A série de artigos (quase tese, na verdade) que resolvi chamar de “The Days the Music Died” é uma óbvia referência ao clássico “American Pie”, de Don McLean, sobre o qual espero escrever mais à frente. Don McLean falou sobre UM dia no qual a música morreu – o dia em que Buddy Holly e sua banda morreram num acidente de avião, em 1959 – mas eu preciso falar sobre vários dias, de onde meu plural no título.
Não quero falar sobre Don McLean, embora tenha descoberto, fazendo pesquisa nos últimos meses, que a quantidade de teorias e interpretações e a importância cultural de “American Pie” são maiores do que eu pensava. Ouvi várias vezes American Pie, passei engarrafamentos inteiros pensando neste assunto (e ouvindo American Pie), ouvi até mesmo a paródia hilária do Weird Al Yankovic (“The saga begins”) que estava no YouTube [1].
O que acho que precisa ser pensado, hoje, é o que aconteceu com a música depois que ela morreu. Em seguida, como nada que seja importante (‘essencial’, eu diria) consegue permanecer morto por muito tempo, eu gostaria de pensar sobre onde ainda há música e em que condições ela pode ‘renascer’.
Acho que tudo o que eu tenho a dizer é altamente polêmico – notando que eu não sou polêmico, mas minhas idéias são. Todo mundo que acha que a “DJ culture” é uma cultura, de fato, e não um mero fenômeno mercadológico passageiro deve tentar bater em minhas idéias tão forte quanto puder. Se isso acontecer, vou ficar feliz, porque quer dizer que (a) estou falando sobre algo que toca as pessoas e (b) críticas permitem pensar mais à fundo, mais à frente.
O resumo do que eu tenho a dizer (e o final desta introdução) é o seguinte:
Desde que as Grandes Gravadoras quebraram, por sua ganância, completa burrice e, dizem elas, pela ‘inevitabilidade’ da distribuição gratuita e ilegal de música pelas redes P2P, ficou muito difícil estruturar financeiramente uma carreira. Ficou difícil produzir discos numa estrutura qualquer que não seja o que eu chamo de ‘eu, eu e mim mesmo’. Que é necessariamente uma droga, se aplicada a toda a produção mundial. Estúdios quebraram, produtores, engenheiros e músicos foram plantar galinhas, equipamento de áudio de alta qualidade foi substituído por coisas muito baratas (“acessível” é bom; “muito barato” é o que você compra em um camelô musical e não é mais tão bom). Toda uma cultura de como fazer música e como interagir para fazer música se perdeu.
Um pouco pior, além da catástrofe sônica que já estava em andamento com o aumento radical do volume médio das músicas nos CDs, veio a Grande Peste Musical do Mp3. Que piorou ainda mais com o YouTube que, enquanto a largura de banda dos usuários médios de Internet não melhorar muito, tem mantido boa parte das coisas em MONO, embora, ao longo de 2010, eu esteja vendo surgir cada vez mais áudio estéreo de qualidade ‘quase igual a um Mp3 decente’.
O resultado desses dois parágrafos um pouco ultra-simplificadores aí em cima é aquilo que estou chamando de “morte da música”.
Agora tenho vários artigos-ensaios pela frente para desenvolver o assunto, então peço a paciência de todos. Prometo que vai ser uma montanha russa de pensamentos muito ‘radical’. ~;0)
[1] A música do Yankovic continua lá, mas o YouTube virou cadela das Corporações, então, por “questões de direitos intelectuais”, o excelente vídeo foi removido, as 100 e poucas mil pessoas que voltaram a conhecer e gostar do Weird Al Yankovic vão perder algo imperdível e, em vez de poder se divertir com o vídeo genial, é preciso se chatear com um monte de slide shows idiotas. (Die, YouTube, die! – seus burros!, vocês não entenderam nada do que aconteceu desde que a internet foi criada até agora?)

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