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Das internas

Entries in sonho (4)

Domingo
fev062011

Londres, Paris, BMW (um sonho-roteiro)

Grande confusão na casa em Londres onde estava o vampiro. Forte impressão de que eu era vampiro ou, mais especificamente, acho que eu estava no papel de Catherine Deneuve no The Hunger / Fome de Viver mas, para minha tranquilidade, o David Bowie não estava ‘me pegando’ nessa hora (por outro lado, nada de Susan Sarandon na cama tampouco).

A casa era grande, vários andares, muita segurança. Eu consegui saí, estava tentando invadir (peculiar, já que antes eu estava dentro). Precisava resolver algo lá. Matar os vampiros? Eu era um agente vampiro anti-vampiro infiltrado? Pode ser.

Acabei resolvendo que o mais seguro era sair pela garagem, que estava aberta. Tinha um BMW ‘cool’, de pista, todo em cinza escuro com rodas enormes de competição. Entrei nele. Tinha uma garrafa de vinho, estava feliz por poder beber sem me preocupar com a Lei Seca e, com aquele motor, um carro que não era meu e um roteiro que era todo meu, eu podia fazer o diabo no trânsito de Londres sem me preocupar com os radares que infestam o Rio (vampiros, eles também - leiam um outro post polêmico sobre como estamos tentando encontrar a paz de espírito através de um estado orwelliano que vigia & pune todos o tempo todo).

Não quero sair do assunto, embora o sonho-roteiro jamais fosse se importar com ‘assunto’. O assunto de um sonho-roteiro é fazer algo divertido e seguir para a próxima cena. O foco narrativo é aquilo que você está vivendo, mas dura apenas até você chegar na próxima cena.

Londres a Paris foi mais rápido que atravessar a Linha Vermelha durante a semana. O melhor lugar para andar de carro fora dos jogos são mesmo os sonhos (inverte que a concordância fica mais fácil de entender).

Em Paris, deserta sem motivo, eu estava chateado porque não tinha levado minha máquina digital comigo - as fotos em papel de Paris já estão antigas, não ficam muito boas depois do scanner e eu sei que preciso ‘olhar de novo’ a cidade toda, apesar do tempo longo que passei lá, mas foi ‘na época’ - agora é outra época.

Ainda cruzando no meu BWM (“Speed Racer cruzando a cidade / a toda velocidade” - Fernanda Abreu), olhei para a ponte que vinha de Londres, ali do outro lado, muito perto, pessoas e carros num trem diferentão. Era sol e claro e fazia uma luz muito bela, a luz de outono na Europa que é quente, cheia de nuances e fotografa bem.

Os bistrôs todos estavam cobrando uma taxa incompreensível de cartão de crédito e havia avisos dizendo para tentar vários porque um deles viria sem taxa. Descobri com alguém que não vi - não me lembro de ter visto ninguém depois que saí de Londres mas, como em um bom sonho-roteiro, não quer dizer que Paris estivesse abandonada tampouco - as pessoas estavam só fora da cena, fora da câmera. Descobri que eu podia ligar para um dos números anunciados em pequenos elevadores em cima dos caixas dos bistrôs e alguém viria passar um cartão para mim, porque as pessoas que trabalhavam nos bistrôs não pagavam a tal taxa.

Estava achando aquilo muito peculiar e completamente sem sentido. Meu BMW era conversível, o dia ainda era sol e eu estava feliz circulando por muitas ruas, passando pelo Beaubourg convenientemente recolocado em frente ao Sena.

A última coisa que este sonho me mostrou foi a Rua du Chat qui Pêche (procura no Google Maps, está no meu próximo romance e foi bem conveniente que eu tenha podido ir lá tão rápido). Uma pequena quase-travessa fascinante, medieval, com um anúncio de hotel no meio, ali por Saint Michel / Saint Germain, no Quay, entrando apenas um quarteirão curto. Mas é justamente onde eu penso que minha cena aconteceria.

Bom dia.

Segunda-feira
nov222010

O Sonho (da civilização submarina) - parte 2

[prometi que ia publicar a segunda parte em 3 dias mas o movimento está realmente bom, então segurei mais um pouco para que as pessoas tivessem tempo de ler as duas coisas com calma]

Claro que a próxima questão é: sim, Cérebro; eu estou pensando no que você está pensando, mas como peixes criam máquinas

Boa pergunta, porque a tal civilização não poderia ser detectada por Humanos mas O Sonho queria que ela fosse altamente avançada. Como se cria uma civilização, portanto, literalmente debaixo de nossos olhos, sem que soubéssemos?

Claro que a próxima questão é: o que você entende por “civilização”, e como você pensa nisso no que diz respeito a criaturas submarinas cujos requisitos podem ser ‘alienígenas’, já que o mundo deles é bastante alienígena para nossos parâmetros?

Foi quando O Sonho modulou a coisa e respondeu: peixes não precisam de mecânica nem ferramentas, peixes precisam apenas armazenar, manipular e transmitir informações - essa seria uma civilização em outros moldes.

O Imaginário achou que O Sonho estava indo por um bom caminho e pediu um reforço tanto à base de dados sobre a Realidade quanto um pouco mais de esforço do Racional, que estava reclamando muito dessa barulheira toda num momento em que ele (e o Corpo) tentavam continuar dormindo mais um pouco.

Mas eis o que Sonho pensou:

Os peixes, liderados por baleias e golfinhos, duas espécies capazes de se comunicar a longas distâncias, capazes de usar sonar e mergulhar muito fundo (baleias) ou trabalhar em grupos (mais os golfinhos, suponho) …. os peixes, mamíferos ou não (“peixe” sendo tudo o que ‘nada debaixo d’água’, e dane-se essa frescura dos biólogos com as classificações das espécies!), desenvolveram uma tecnologia de codificação de informações por …. (aqui entra a música de suspense e emoção) …. cadeias de proteínas ou aminoácidos. 

Mas o que você usa como banco de dados e computador biológico no fundo do mar? A resposta é óbvia: o lugar ideal para armazenar e manipular dados seriam os corais, que podem ser percorridos como uma matriz 3D por uma série de “leitores” de informação como as estrelas do mar, por exemplo.

Aí O Sonho começou a pensar que seria interessante se, cheias da exploração predatória dos oceanos, baleias e golfinhos mandassem um ultimato para os Humanos dizendo que algumas coisas (como a pesca de baleias e golfinhos, por exemplo) teriam que cessar. O Sonho começou a imaginar possíveis ações terroristas subaquáticas, como cortar nossos cabos de comunicação submarinos ou atacar plataformas de petróleo pela base.

Acabei acordando bastante cansado, mas a história ficou quase pronta. A última pergunta interna de que me lembro era um pedido sério de consulta ao Cérebro Todo (bom título, aliás - “Isso que chamo de Cérebro”, algo assim) para definir como é que os golfinhos iriam interagir com as outras espécies, já que ninguém “fala” nada em comum lá embaixo.

Como eles organizam as forças de ataque dos tubarões e orcas, por exemplo?

Qual o papel dos pinguins nisso tudo, e que Segredo terrível o Vaticano esconde no Pólo?

Mais importante ainda: como criar uma interface entre os cabos de dados e os golfinhos? Alguma criatura marinha teria que injetar sinal nas fibras óticas para se comunicar com os Humanos, e nesse ponto me perco um pouco, mas acho que ainda dá para resolver.

Por vezes acho que preciso passar mais tempo dormindo.

Sábado
nov132010

O Sonho e a Avançada Civilização Submarina de Golfinhos e Baleias [uma viagem]

[22 nov 2010: título corrigido; revisão ortográfica e pequenas alterações no texto]

Acordei lentamente da minha “soneca da tarde” numa quinta. Odeio dormir à tarde, mas estava sendo uma semana difícil. Tive um daqueles sonhos quando já se está quase acordado mas, como estava muito (muito) cansado, não conseguia levantar e meu cérebro quase-consciente resolveu se meter no sonho e discutir assuntos. Foi divertido – e mostra um pouco por que alguns dentre nós têm a opção de escrever ou escrever ou enlouquecer.  ~;0)

Formalmente, para quem se interessar, é um texto sobre as relações entre as premissas dos textos ficcionais e o desenvolvimento de uma trama. Mas é também uma viagem completa – vocês, leitores, decidem o que querem tirar daqui. Eu estava só sonhando as coisas que sonho.

O Cérebro pegou um roteiro de filme de ação já interessante (meu sonho imediatamente anterior) e criou novos elementos em cima disso.

No primeiro sonho, o planeta todo era monitorado por computadores, satélites e câmeras, mas as corporações, os governos e as máquinas precisavam de pessoas especiais, sobre-humanas, munidas de implantes de GPS e câmeras de visão ampliada, para conseguir “ver” em lugares ou situações difíceis: nuvens atrapalhando os satélites, tempestades de neve e ainda aquelas vezes em que é preciso entrar dentro de cavernas ou mergulhar em mar revolto, por exemplo. Diria que parte disso pode ser feito por aviões-robô, e foi quando eu comecei a discutir comigo sobre essa premissa ter problemas de desenvolvimento.

Eu tinha criado um personagem que seria um “superagente” (bleargh de recauchutagem ortográfica!), equipado com um bote “inafundável”, e que ia se meter numa tempestade marítma para ver algo que os satélites não conseguiam ver – descobrir o que estava havendo com um plataforma de petróleo no Mar do Norte, por exemplo.

Claro que a próxima questão é: mas e se o bote inafundável for atacado por uma orca, a baleia assassina que não é baleia?

O Sonho passou um tempo pensando nisso. Nem discutiu se há orcas no Mar do Norte ou não, mas é uma questão importante. O problema d’O Sonho era se ele poderia criar um material e uma construção que uma orca, tendo aqueles dentes de orca e mandíbulas de orca, não conseguisse detonar nem destruir dando aquelas pancadas de orca com o corpo.

Foi quando O Sonho teve outra idéia legal, porque o Cérebro obviamente começou a se encher de pensar sobre como construir “botes à prova de orca” (a baleia assassina que não é baleia, acho que já mencionei), embora a indústria de plataformas de petróleo do Mar do Norte talvez gostasse de saber das conclusões a que cheguei. (Eu talvez ainda desenvolva a idéia como conto, porque gosto de um ser humano ‘no limite’ que sirva para fazer aquilo que, hoje, desejamos que as máquinas façam. É uma boa inversão de idéias, merece ser explorada.)

O Sonho resolveu então se lançar sobre uma nova hipótese e teorizar sobre o que iria acontecer se, numa “Hipótese Gaia”, os seres marinhos desenvolvessem uma civilização. De forma ficcionalmente coerente, deveria ser completamente diferente da nossa, e lembrei da minha neurocientista predileta dizendo que nosso Imaginário é limitado por nosso conhecimento do Real, então resolvi (ainda sonhando) que puxaria a coisa até o ponto em que o Imaginário tivesse que extrapolar sobre o Real e, modulando parâmetros, tentasse chegar a algo plausível, mas não existente ainda.

Ao menos não ficaria óbvio, entendem? Não seria uma trama do tipo “Atlântida” ou “os golfinhos na verdade são extra-terrestres” (embora Douglas tenha se saído bem com isso, mas, claro, a intenção de Douglas era ser non-sense). Foi o que O Sonho pensou, ao menos.

Para onde foi tudo isso? Para não ficar enorme, respostas & uma grande trama para Hollywood dentro de um ou dois dias, aqui no site.

Domingo
jun132010

“Eu tenho um sonho…” (e isso pode mudar tudo)

Acordei de um sonho particularmente profundo esta noite. Acordar não foi fácil, porque eu me lembro de muito daquilo que sonho; porque sonho de forma muito intensa; porque aquilo que sonha em mim tem acesso pleno a meus desejos, meus medos e a coisas que, em “estado de vigília”, não me permito pensar. Ênfase na palavra “medo”. Sobre os sentidos de “vigília” [1], basta dizer que vigília e vigiar têm uma raiz comum:

Vigília é o que fazemos durante o dia, vigiando as coisas e vigiando a nós mesmos para não correr riscos.

Sonhar é exatamente o contrário.

Quando escrevo isso, fico me perguntando por que a insistência do Budismo sobre a realidade – a vida da maioria de nós – ser “maya”, um sonho, do qual devemos despertar pela Iluminação.

E se disséssemos que o problema é o contrário?

Se disséssemos que nossa realidade é aquilo com o que sonhamos e que o problema é que nos falta a percepção de que, toda vez que nossa realidade se afasta demais de nossos sonhos, toda vez que não vivemos o sonho [2], perdemos algo, deixamos um pedaço de nossas vidas para trás (vivemos menos, vivemos menor) e algo em nós morre.

Acordei pensando nas coisas difíceis que eu disse ontem numa conversa íntima e pessoal. O que eu disse me incomodou a tal ponto que tive um sonho duro, cruel e incrivelmente lúcido sobre minha vida. Fiquei profundamente feliz e agradecido por este sonho-quase-pesadelo porque, entre algumas dezenas de coisas difíceis de sentir sobre meu passado, presente e futuro que estavam neste sonho, eu estava me dizendo duas coisas muito claras.

A primeira é que não basta sonhar: é preciso viver o sonho.

Viver um sonho de certa forma é “sonhar acordado” ou, melhor dizendo, é ter a coragem de enfrentar a Resistência (interna e externa) e viver os sonhos.

A segunda coisa que entendi, observando o sonho – não pensando sobre o sonho, mas observando o sonho, ou meditando sobre o sonho – foi que, para mim, escritor resistindo à própria escrita, uma tarefa importante é ultrapassar minha resistência quanto a ser um “ficcionista sério” para falar sobre “sonhos”. Não de forma completamente ficcional, complexa e combinada com elementos “literários”, mas como aquilo que eles representam para mim e como influenciam minha vida.

Preciso deixar algo claro, desde o início: nunca “conversei com Deus”. Nenhum anjo encostou em mim, tirando todas as mulheres que amei e aquela que escolhi amar mais que todas as outras. Não “vi a verdade”, eu tenho muitas dúvidas. Não sou guru nem profeta e a única coisa que “prego” é que as pessoas deixem de ter muitas certezas e aceitem suas dúvidas como uma forma plena de viver. Nada caiu sobre minha cabeça, nunca estive próximo da morte, não ‘vejo pessoas mortas’  e não converso com espíritos. Não sou “guru” de nada – a não ser Informática, se tanto, e ainda assim como uma grande brincadeira - e não tenho uma “profunda visão espiritual”.

O que eu tenho é uma vida rica em angústia, dúvidas, tentativas, pensamento. Tenho desejos, sonhos, idéias. Passo um tempo enorme pensando e aceito pensar sobre quase qualquer coisa, o que enche o saco de algumas pessoas que gostariam que eu pensasse sobre uma única coisa e diverte as pessoas que podem compartilhar de meus pensamentos mais estranhos (como quem lê este site, por exemplo). 

Devo a mim mesmo escrever um livro sobre os sonhos, sobre o sonhar, sobre o reino de Sandman; sobre as dúvidas, sobre como viver com a angústia sem se tornar um Filósofo Existencialista (o que pode ser bom, mas não é para todo mundo). E devo fazer tudo isso ainda que tenha um medo profundo de que termine se parecendo com um livro de auto-ajuda porque, na verdade, seja como for que eu consiga escrevê-lo, será exatamente isso.

A imagem mental seguinte é muito significativa e vou terminar o texto com ela: ouvi uma parte de mim dizer: “É como Martin Luther King, não é? Você tem uma idéia para mudar o Mundo, mesmo que essa mudança possa ser apenas com mudar a si mesmo, e em seguida você estará liderando milhões de pessoas e fazendo um discurso começando com “I have a dream…” - eu tenho um sonho” … e todos sabemos o que eu me disse em seguida, não é? Martin Luther King foi assassinado por muitos motivos, mas podemos sempre resumir e dizer que ele foi assassinado porque escolheu viver seus sonhos. “A Resistência” [3] não gosta disso, melhor silenciá-lo.

A outra coisa que eu me ouvi dizer é que Jesus Cristo também foi um grande sonhador. E, claro, foi parar na cruz. Apesar do final de “A Vida de Brian”, do Monty Python, em que os Brian & os crucificados cantam e assobiam “veja sempre o lado alegre da vida”, todos sabemos que ser crucificado é tão ruim que virou expressão corrente para servir de Cristo ou, mais coloquialmente, “ser detonado”.

Apesar destes dois avisos fúnebres, cortesia do meu lado vigilante, resolvi seguir em frente com meu sonho, com todas as dificuldades que sei que ele contém. O que estou fazendo agora, ao escrever o meu livro – e ao decidir que irei terminá-lo de fato, e entregá-lo de fato para que seja publicado de fato – é começar a viver meu sonho.

PS – Sobre as [NTs] deste artigo e outras coisas que não deu para escrever aqui, leia “Um artigo cheio de pós-escritos” – está tudo lá, exceto o que eu tiver esquecido.