Londres, Paris, BMW (um sonho-roteiro)
Grande confusão na casa em Londres onde estava o vampiro. Forte impressão de que eu era vampiro ou, mais especificamente, acho que eu estava no papel de Catherine Deneuve no The Hunger / Fome de Viver mas, para minha tranquilidade, o David Bowie não estava ‘me pegando’ nessa hora (por outro lado, nada de Susan Sarandon na cama tampouco).
A casa era grande, vários andares, muita segurança. Eu consegui saí, estava tentando invadir (peculiar, já que antes eu estava dentro). Precisava resolver algo lá. Matar os vampiros? Eu era um agente vampiro anti-vampiro infiltrado? Pode ser.
Acabei resolvendo que o mais seguro era sair pela garagem, que estava aberta. Tinha um BMW ‘cool’, de pista, todo em cinza escuro com rodas enormes de competição. Entrei nele. Tinha uma garrafa de vinho, estava feliz por poder beber sem me preocupar com a Lei Seca e, com aquele motor, um carro que não era meu e um roteiro que era todo meu, eu podia fazer o diabo no trânsito de Londres sem me preocupar com os radares que infestam o Rio (vampiros, eles também - leiam um outro post polêmico sobre como estamos tentando encontrar a paz de espírito através de um estado orwelliano que vigia & pune todos o tempo todo).
Não quero sair do assunto, embora o sonho-roteiro jamais fosse se importar com ‘assunto’. O assunto de um sonho-roteiro é fazer algo divertido e seguir para a próxima cena. O foco narrativo é aquilo que você está vivendo, mas dura apenas até você chegar na próxima cena.
Londres a Paris foi mais rápido que atravessar a Linha Vermelha durante a semana. O melhor lugar para andar de carro fora dos jogos são mesmo os sonhos (inverte que a concordância fica mais fácil de entender).
Em Paris, deserta sem motivo, eu estava chateado porque não tinha levado minha máquina digital comigo - as fotos em papel de Paris já estão antigas, não ficam muito boas depois do scanner e eu sei que preciso ‘olhar de novo’ a cidade toda, apesar do tempo longo que passei lá, mas foi ‘na época’ - agora é outra época.
Ainda cruzando no meu BWM (“Speed Racer cruzando a cidade / a toda velocidade” - Fernanda Abreu), olhei para a ponte que vinha de Londres, ali do outro lado, muito perto, pessoas e carros num trem diferentão. Era sol e claro e fazia uma luz muito bela, a luz de outono na Europa que é quente, cheia de nuances e fotografa bem.
Os bistrôs todos estavam cobrando uma taxa incompreensível de cartão de crédito e havia avisos dizendo para tentar vários porque um deles viria sem taxa. Descobri com alguém que não vi - não me lembro de ter visto ninguém depois que saí de Londres mas, como em um bom sonho-roteiro, não quer dizer que Paris estivesse abandonada tampouco - as pessoas estavam só fora da cena, fora da câmera. Descobri que eu podia ligar para um dos números anunciados em pequenos elevadores em cima dos caixas dos bistrôs e alguém viria passar um cartão para mim, porque as pessoas que trabalhavam nos bistrôs não pagavam a tal taxa.
Estava achando aquilo muito peculiar e completamente sem sentido. Meu BMW era conversível, o dia ainda era sol e eu estava feliz circulando por muitas ruas, passando pelo Beaubourg convenientemente recolocado em frente ao Sena.
A última coisa que este sonho me mostrou foi a Rua du Chat qui Pêche (procura no Google Maps, está no meu próximo romance e foi bem conveniente que eu tenha podido ir lá tão rápido). Uma pequena quase-travessa fascinante, medieval, com um anúncio de hotel no meio, ali por Saint Michel / Saint Germain, no Quay, entrando apenas um quarteirão curto. Mas é justamente onde eu penso que minha cena aconteceria.
Bom dia.