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Sexta-feira
jul312009

profissão: escritor

o cara muito oficial do outro lado do balcão olhou para o formulário, olhou para mim, tentou usar a visão de Raios-X mas lembrou que não tinha, olhou de novo para o formulário, tentou uma primeira expressão perplexa, resolveu-se:

- o senhor diz aqui que sua profissão é escritor.

- correto.

- você é jornalista?

- não, jornalistas também escrevem, mas são coisas muito diferentes: sou escritor.

- mas você trabalha para um jornal ou revista?

- não, veja, esses são os jornalistas.

o homem encontrou uma nova expressão de perplexidade em seu âmago de funcionário muito oficial. eu estava sendo muito paciente, sobretudo porque eu era só um personagem de mim mesmo em um pequeno conto para um blog - é mais fácil ser paciente quando se é personagem.

- mas... então o senhor escreve o quê?

estávamos numa disputa de tênis de perplexidade. acabara de voltar para o meu campo.

- ué, escrevo ... textos, o que mais poderia escrever?

- sim, sim, textos, mas o senhor escreve para onde?

- ah, entendo! não, lugar nenhum.

- lugar nenhum? como? não escreve para ninguém?

- alguém, claro. tenho leitores, todos os 10 ou 15 que sobraram, os que ainda conseguem acompanhar meus escritos.

- sim, mas tem que escrever... não sei, livros, algo assim. publicar, vender. é uma profissão, ora!

- claro, claro, mas não é como feira, digo, para alguns é, mas não para mim. podem ser livros, podem ser e-mails, eu posso estar anotando coisas em um caderno ... não importa muito.

- então o senhor fica escrevendo o dia inteiro. em guardanapos. e não trabalha?

por que eu não transformava aquela conversa em um roteiro e mandava para a TV? estava perdendo uma excelente oportunidade de anotar aquilo tudo. mas eu precisava do carimbo, não de mais um conto. expliquei de novo.

- veja: meu trabalho é escrever. e acho muito difícil, porque não tem formulário para isso com os campos indicados – disse meu personagem, dando uma de esperto para cima do oficial. ainda assim, precisava daquele carimbo, não queria que o homem ficasse irritado. o funcionário estava na terceira encarnação de sua expressão de perplexidade.

- o senhor é estabelecido em...

- em casa?

- vou colocar aqui "doméstico".

- mas não sou empregado doméstico!, eu sou um autônomo! (nada contra os domésticos, claro – ninguém tem nada contra nada, atualmente.)

- não importa. se é em casa, este campo aqui deve ser preenchido como "doméstico". e o senhor trabalha em casa, de qualquer forma.

- algumas vezes. posso sair, tomar café. um pão de queijo com o café. posso até escrever na rua, bolas.

- como assim? leva um bloco e escreve andando? ou abre um laptop na praia?

- se eu abrisse um laptop na praia, a máquina ia ficar toda suja enquanto não fosse roubada! que idéia... não: nós, escritores, aprendemos com o tempo a escrever na cabeça.

- sem papel? sem computador?

- é. por exemplo: estou em um engarrafamento, vindo para cá, e penso em um trecho para um livro ou algo novo para o site.

- e aí anota?

- mentalmente.

- e como faz para lembrar disso?

- muito sinceramente, não sei. acho que é um dom. ou uma deficiência mental.

- me soa meio maluco. e como se ganha dinheiro nisso?

- o quê? escrevendo?

- é, o senhor diz que é profissão, mas acho que isso é coisa de vagabundo.

- o senhor diz, "vagabundo" como surfar ou jogar videogames, por exemplo.

- isso! - disse o homem, feliz por ter encontrado algo que ele conhecesse por ter visto na TV ou lido em algum jornal - os surfistas e essa molecada que joga também não fazem nada!

 - o senhor já parou para pensar em quão difícil é encarar uma onda de 10 metros?

- não, sei lá, parece fácil, tem a prancha e tudo.

- o senhor já viu o estrago que uma onda faz quando o surfista sai errado de um tubo? a onda pode quebrar a prancha e/ou matar o cara! muita gente já se quebrou feio assim.

- hum. não tinha pensado nisso.

- surfe é sério, camarada. e escrever é igualmente perigoso.

- como assim, perigoso? o teclado vai atacar o senhor? - acrescentou, com sarcasmo.

- não, mas podem ameaçar você de morte, por exemplo. é perigoso porque escritores colocam a cara no mundo e têm que falar o que pensam. um pouco pior, na verdade: temos que inventar personagens e toda uma situação em volta só para dizer o que pensamos sobre, por exemplo, escrever.

- e daí?

- não tem "e" nada, é só isso. depois as pessoas vão ler os textos, os livros – qualquer um pode ler, é público, está impresso ou na web, tanto faz – e vão ficar interpretando. o senhor já foi interpretado?

- não sei nem o que é isso...

- o senhor é muito feliz, sabia? as pessoas vêm aqui, pegam um carimbo com o senhor, que já sabe até onde fica o carimbo (eu nunca sei onde ficam as personagens, nem muito menos quando é para acabar um conto, o que só piora se for um romance) e ninguém fica tecendo teorias esquisitonas sobre a profunda relação de divergência que o senhor tem com a realidade supostamente concreta, nem pegam seu personagem e falam que aquilo ali – que é só texto, funciona para ser texto e nada mais, e todo escritor sabe disso, mas parece que o resto do povo não sabe, sobretudo não o povo crítico – .... e os caras falam que seu personagem representa uma "masculinidade bruta sublimada no seu ego de intelectual". você acorda de manhã e isso está no jornal. que tal?

- como assim?

- exato, é o que me pergunto: como assim? porque tudo o que fiz, ou o que meu autor fez ao me criar, foi gerar um personagem que pudesse cumprir sua função. não tem essa história de "sublimar" nada, isso é psicologia de botequim e não seria nem um botequim muito bem freqüentado. mas, ainda assim, invariavelmente você vai acordar pela manhã com interpretações. se der azar, publicam um livro inteiro com "ensaios" analisando sua obra. me dá medo só de pensar.

 - então ... o senhor não veio aqui pegar o carimbo para .... como é, "subliminar" nada?

- não. quero só o carimbo. para ter o documento. e dar entrada no restante dos papéis.

- ah. agora entendi. mas só tem um problema...

- o que é?

- aqui onde diz "profissão", o senhor colocou "escritor".

Sábado
jul182009

iPhone: melhor gizmo ever: péssimo telefone

mais um post sobre iPhone. não que isso ultrapasse a visão platônica da Filosofia da Linguagem, para mim, ou sequer que eu tenha lido mais a respeito do que li Wittgenstein, me atendo ao assunto supra-citado.

é que o iPhone e eu estamos em uma relação de simbiose: ele morre se eu não o colocar para carregar, eu fico me sentindo muito solitário se não estiver com ele por perto (a não ser que eu esteja acompanhado, de preferência por minha esposa).

desde que eu vi um amigo soprando no microfone para usar o iPhone como ocarina (que é uma flauta realmente simples, algumas vezes feita com uma concha e várias vezes com um som puro e singelo) .... desde então eu, que sou da "Seita dos que acham Jobs um gênio, só que egomaníaco e chato pacas", eu me converti a Seita do iPhone.

quando me dão um Nokia, atualmente - aqueles top, seja lá o que for top quando alguém estiver lendo isso - eu acho bizarro. o menu é estranho, a idéia de ter menu é estranha, os que rodam Windows Mobile me fazem chorar porque WME é incrivelmente tosco, ruim, burro, esquisito, ineficaz ... e estou esperando um futuro encontro com a geração dos Samsung "touch", que parecem ter um bom design.

tentaram me fazer usar um Sony no outro dia e eu devolvi, dizendo que no máximo usaria aquilo para discar, mas que o OS era surtado.

o iPhone é um excelente mídia player: tem um iPod Touch lá dentro. é um PDA e um gizmo de acessar a web e mandar SMS's - na recente expedição de Carolus Linnaeus, já disponível nos melhores sites de conteúdo sério com o título "Sobre a Origem das Peruas", bom, eu fui para a expedição com o iPhone e, no frio cão que faz em Gramado no inverno - Seattle é inifinitamente mais quente, e recomendo a leitura do artigo de Bob Charles que esteve lá há pouco, inaugurando um novo TecnoAshram da Seita do Nono Bit - ... eu me vi, em plena Rua Coberta (isso lá é nome de rua?) resolvendo um frete dos EUA com o iPhone, fotografando espécies locais de Peruas com o iPhone (a câmera do Nokia é reconhecidamente melhor - a Apple estava economizando despesas quando enfiou essa lente de plástico desfocada na toisinha deles), resolvendo o que resolver sobre o frete com um amigo em SP via SMS e só não estava ouvindo música porque é um fato que ouvir música na rua deixa as pessoas com tinnitus bem rápido.

[TO BE CONTINUED]

Sábado
jul182009

the ultimate Alpha Male is gay

está assim no notepad do celular onde rabisco rapidamente as idéias que me surgem durante o dia, na rua, em qualquer lugar (menos no chuveiro, onde o celular teria problemas).

dizem que escritores são capazes de se lembrar de tudo de cor, sem anotar nada, mas é óbvio que quem inventou isso nunca escreveu nada.

caso em ponto: essa anotação aí, título do post.

quem escreveu isso?

no campo seguinte tem anotado: "o que os gorilas realmente temem à noite!"

fiquei pensando na relação entre os dois enunciados. não tenho contexto, não me deram pistas, não tem mais nada escrito. sei que o é um Macho Alfa - o livro que estou traduzindo tem uma passagem hilária a respeito e o Christopher Moore não para de falar em "macho beta". mas o que isso me diz sobre gorilas? o que eles temem à noite? cobras? quem vive numa floresta deve ter medo de cobras, ora bolas (e isso não é uma metáfora, se algum crítico estiver lendo o texto).

não acho que sejam cobras. pensei em uma coisa "muito vasco", como diria um velho amigo, significando "grossa ao extremo" (agora pode ser uma metáfora ou ter duplo sentido, como quiserem), mas não acho que eu fosse anotar isso para escrever um post em um blogue que tem, digamos, um mínimo de falta de seriedade combinada com respeito genérico aos costumes, à minha moral "móvel" (como a definiu muito bem uma amiga, séculos atrás, no dia em que veio me explicar por que devíamos transar apesar dela ser casada e porque, ainda assim, permanecia sendo um ato perfeitamente moral) e... bom, ser Surrealista não significa ser vasco, então me soa estranho.

 

se eu alguma hora lembrar do que eu queria dizer, escrevo. se não lembrar, bolas, lá se foi outra boa idéa perdida em algum engarrafamento.

Quarta-feira
jun242009

Masters of the Air - um livro sobre os B17 na 2a Guerra

O subtítulo sério, em inglês, é “America’s Bomber Boys who Fought the Air War against Nazi Germany”. Editorialmente, acho que bastava algo como “Life Stories of America’s Bomber Boys”, mas editorialmente não me perguntaram nada.

Para quem não sabe, do meu “período Revell” (não sei o que vão ser essas crianças de hoje sem montar aviões da Revell, a Humanidade está perdida etc etc), ficou uma paixão por bombardeiros. Que isso seja uma incoerência profunda em alguém que é pacifista (enquanto possível), é, pode ser, mas sou amante de aviões de guerra: Spitfires, Mustangs, P47 Thunderbolts, P38 Lightnings, Zeros e Messerschmitts exercem um fascínio sobre mim, seja pela aventura humana (demasiado humana) que foi criar belas e complexas máquinas com o objetivo único de matar e/ou destruir, seja porque há uma estética nelas, em suas formas bem resolvidas, na conjunção de funcionalidade, restrições e recursos mínimos do início da aviação de guerra.

Quando tive oportunidade, trouxe um livro sério sobre os B17, as Fortalezas Voadoras. O livro tem 670 páginas de texto puro. Retire-se disso 140 páginas (que não vou ler) de Notas, Referências e Índice. É mais do que uma tese e é mais aprofundado do que a maioria das teses que passam por mim. O autor, Donald L. Miller, é professor de história e, embora não tenha parado para ver a Google Life dele, suspeito que parte dos outros 8 livros que publicou seja sobre a 2a Guerra. Ele claramente sabe do que está falando e passou muito tempo pesquisando.

O livro não é ruim, mas está longe de ser “bom”. Mr. Miller precisava de um editor, uma figura cada vez mais rara em um mercado editorial que vive “com pressa”, como se os livros fossem se desmanchar. Há mil trechos interessantes, mas está longe de ser o que chamo de “um livro” - algo com um projeto claro, uma intenção definida e uma organização ou conceito. Como está, é uma “reunião de escritos sobre um tema”.

Entre relatos detalhados sobre as condições de produção industrial, os objetivos militares do bombardeio tático, a vida e as missões dos que combateram em Fortalezas Voadoras …. algo se perde. É impossível achar um trecho no livro (tentei, para este post, e desisti bem rápido) e constamente o leitor é jogado de um relato de missão para um panorama da política militar dos Aliados. Confuso.

Não sei se vou largar o livro: estou na página 170, li coisas interessantes que desconhecia completamente. Uma coisa mudou dentro de mim, contudo: achava que os combates em terra tinham sido terríveis e que o Marine Corps tinha sofrido as piores baixas. Não é verdade. O livro deixa claro que, apesar de ser uma “fortaleza”, o B17 era algo bem próximo de um caixão voador com bombas.

As perdas humanas e materiais foram enormes e, se a campanha de bombardeios estratégicos diurnos teve sucesso, isso deveu-se mais a enormidade da máquina militar americana funcionando a todo vapor contra os limites da insanidade do Reich de querer lutar contra todos em toda parte ao mesmo tempo.

Fica minha admiração (e gratidão) frente àqueles que, por motivos diversos, se dispuseram a subir num bombardeiro muito impressionante, em termos de construção, mas muito indefeso contra os caças da Luftwaffe e o massacre da artilharia de solo até que a predominância dos Aliados na Guerra começasse a mudar as coisas.

PS - Continuo pensando que jogar coisas que explodem na cabeça dos outros é uma idéia insana mas, naqueles anos cruéis, era uma necessidade, até porque “o outro lado” também estava explodindo tudo o que podia, no ar, na terra e na água.
“Quem venceu” talvez importe para nós, descendentes dos vencedores e crédulos na possibilidade conceitual de uma “democracia”.
A resposta à outra pergunta, “quem estava moralmente justificado”, contudo, me parece ser “ninguém”, e foi ruim para (quase) todo mundo.

CDC

Terça-feira
jun162009

Para onde vão os Pokemons?

Pokemons se tornaram a última “grande onda” aqui em casa - sobretudo para o público-alvo masculino na faixa etária de 5 a 6 anos.

Fiquei tentando me lembrar como se acentua “Pokemons” (está na web - quem tiver curiosidade procura, eu tenho que escrever este post). Ontem à noite, em uma investigação profunda da alma, eu estava lembrando que, há uns 10 anos, antes dos filhos e do casamento, uma amiga que tinha um filho na época com uns 5 anos (“cronologia pessoal” é uma grande zorra inventada - que alguém confie nisso para estabelecer “fatos” sobre o Imperio Romano, por exemplo, me espanta), tentou me explicar “o Pokesistema”, na época em moda e, desde sempre, rendendo muito por conta da venda de Pokecards e Pokebonequinhos, acho eu.

A favor de minha sanidade, devo dizer que nunca fui torturado com o PokeLongaMetragem - um amigo classificou, quase chorando, como “o pior filme que já teve que assistir” em toda a vida. Para estabelecer um parâmetro científico de credibilidade, perguntei o que ele achava dos Power Rangers (febre anterior à febre anterior de Mario Kart). Ele respondeu que Power Rangers “até que é divertido”. Parâmetros estabelecidos, vou fugir do Pokefilme.

Hoje temos várias implementações de Pokejogos (Nintendo DS e Wii, com certeza; deve ter para PC mas prefiro não saber: “pausible deniability” é importante) e, se você for insano e digitar só “Pokemon” no Google vai receber, no total de resultados, mais de 65 milhões de sites.

Lutar com Pokemons é simples e o jogo do Wii vem com um help. Qualquer um que tenha a RAM-Neural tão livre quando a de uma criança de 5 anos decora rapidamente a matriz de 250 Pokemons, cada qual com uns 4 golpes, cada golpe tendo uma eficácia diferente de acordo com o tipo do golpe (terra, veneno, elétrico, psíquico etc etc) e como isso funciona contra o tipo exato do Pokemon oponente. O Help do jogo não explica tudo isso, claro, mas diz que é algo que você deve saber. Está na web.

Graças a hipocrisia do Correto Pensar (vide Orwell), Pokemons que ficam sem energia na batalha não “morrem”, eles “desmaiam” e voltam para a Pokebola. Como é que até 6 Pokemons em cada Pokecard de um Poketreinador cabem naquela Pokebola mínima eu não entendo - é uma Densidade Paralela, eles são reduzidos por um Pokeraio, a bola é uma Garagem Hermética de Moebius e tem dimensões internas infinitas??

Como Estrategista Militar de Jogos (Chief Military Game Strategist em português), minha visão atual sobre a Pokepancadaria retoma a tese do renomado filosofo grego Niké: “just do it”: você vai lá e joga. Se for tentar entender como um Dig pode responder a outro Dig que você tenha feito para se precaver contra um Yawn… bom, você está com sérios problemas de tempo e/ou de prioridades na sua vida, sei lá).

CDC

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