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Quarta-feira
jun232010

Regências bizarras no jornal 

A manchete d’O Globo de hoje é: “Aumenta a dependência do Brasil ao capital estrangeiro”. Eu paro na cozinha, perplexo, e fico pensando: como alguém depende ao alguma coisa?

Não pode. Não sou gramático, sou sensato - o que talvez me torne meio cruel, às vezes, porque acho que a semântica - ou a “lógica dos sentidos” daquilo que falamos e escrevemos - vem antes de qualquer regra obscura que alguém possa invocar para publicar uma manchete dessas.

Se você diz “dependência ao”, do jeito que está lá, então poderia dizer “estou muito dependente ao cigarro”, “acabei me tornando dependente à Coca-Cola”. Alguém diz isso? Pois é.

Se diziam em maio de 1935 e foi parar na edição não revista e não atualizada de algum dicionário raquítico de Regência Nominal, eu lamento. Em 2010, temos os usos válidos em 2010 e não há motivo para publicar um ‘toiso’ desses na primeira página.

Minha próxima pergunta é: como resolver o problema. Óbvio que não dá para dizer “Aumenta a dependência do Brasil do capital estrangeiro”. Fica ambíguo.

Não escrevo manchetes de jornal, eu sou sensato. Teria dito “Brasil depende cada vez mais do capital estrangeiro”, o que teria evitado os dois problemas.

Pessoas sensatas têm problemas insanos.

E este é um post curto só para manifestar minha dependência “à” lógica no idioma português (e nos outros também).

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    Response: gov.uk
    Regências bizarras no jornal - Improbabilidades - Doppelgänger

Reader Comments (1)

Os jornais estão cheios de questões como essa. O engraçado é q tudo soa bem escrito lá, então os erros se disfarçam de uso gramatical e passam aos olhares desatentos. Me lembro de dar uma aula sobre o uso da crase (numa outra vida, vc sabe) e ter feito 3 páginas de exercícios só com recortes de notícias, manchetes e quadrinhos do JB e d'O Globo, na época. As revisões de sistema, então, deixam passar a grafia mas são incapazes de olhar a semântica. Aliás, sistemas e pessoas também.
Particularmente, o exemplo que vc destacou é mais sutil. Mas há erros feios, principalmente em propagandas. Um bem básico: "entrega a domicílio" (ou, ainda pior, com o uso do acento grave no "a"...me diz, crase onde?).
Há uma música de q até gosto muito, da Marina q diz: "Q q há COM NÓS/q q há com nós dois, amor?". Tá, é a Marina, eu entendi q ela interrompeu a frase e depois a repetiu de forma completa. Mas dói. E banaliza.
Não se pode engessar a língua, ela é mutante pq é um elemento vivo. Mas uma coisa é acolher as variáveis, outra banalizar os erros. Quem tá na mídia tem q cuidar com carinho e compromisso dessa questão.

d.C. 2010/1 | Unregistered CommenterAna Lúcia

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