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Das internas

Entries in poesia (10)

Sábado
out302010

poesia a seco

[produzido em 2000; prazo de validade indeterminado]

te deixei entrar,
ainda quando soubera
que trouxeste na língua
veneno que me mataria.

coloquei-me exposto em vitrine
para que levasses o que fosse
porquanto já seria mesmo teu:
pelo contrato, registrado
em ofício de notas, seria minha
contrapartida por jus e de direito
deixar-te estar comigo
sem prazos ou revogação.

tempo passado,
mudanças de continente
ponte em escombros
recebo no presente
teu silêncio e descaso:

não, nada; hora alguma.
passe depois, talvez?

daria meus restos aos cães
se me livrassem da irritação de viver
mas se foram contigo, eles também,
farejando no ar uma alegria
que não soubera lhes dar.

Sexta-feira
out292010

dislexia

em vários momentos você
é toda amor e compreensão e
próxima, me diz palavras me faz
sentir coisas parece
que algo na vida fez
click
novamente um sentido, aqui,
e por instantes ou horas
sou feliz.

entretanto
ser não é, ser está:

passa uma sombra
algo que nem sei
apontar mas ao meu lado
agora
um verbo intransigente
você é algo frio que nunca
reconheci como meu e

não sei o que faço
qualquer som é
pedra no poço sem fundo eu
me calo eu
falo minutos de besteiras sem nexo
mas dentro
me pergunto:

quem é você e
o que foi mesmo
que viemos fazer aqui?

Quinta-feira
out212010

jurisconsorte

eu te quero tanto mas por vezes me fogem formas para te dizer; ou por mais que tente passar além do silêncio manipulando frágeis palavras eu serei apenas poesia, talvez muita paixão

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Domingo
out102010

breve poema sobre 'solidão'

já há  tantos
este precisa ser telegráfico:

a solidão de estar só
é uma coisa;
estar sozinho a dois
é coisa pior.

Segunda-feira
set272010

fragmentos de um amor discursivo

2293050120_75397c6f57 longing [tags] Paula_x

 

pensei em te dizer tanta coisa mas no fim
é sempre o tempo que nos mata, nos cala,
e fica apenas
esse desejo espesso que pode ser sentido no ar vítreo
de dias quentes como hoje;
fica apenas esse
silêncio na caixa-forte eu
perdi a combinação nos escombros do corpo.

 

[crédito da foto: Paula Anddrade [1] ]

pensei em te dizer isso, aquelas outras coisas todas,
o ano que passamos em Marienbad; comentar um trecho
falar sobre os noticiários coisas que tenho composto
todo um jornal nacional a colocar no ar exceto que
momentos adequados não vieram não me encontraram em casa
as três mensagens perdidas no celular aquela carta perdida no México –
passaram anjos esparsos e, de resto,
teus seios colados ao meu rosto, horizonte de eventos.

acaba sendo tudo tão rápido quando é intenso
e no tempo – 45 minutos, 3 meses, 26 anos (quantidades distintas) –
só há sentido quando podemos senti-lo quando
quase pára
gruda nas escamas do ser
ondas de sal de mar abatendo
nossa consciência;

acaba tudo tão rápido, clarão tragado por escuridão
e todo o demasiado intenso comprime
o sangue adensa a eletricidade interneural e
borrado distante vertigem eu
sou espectador do filme que, no entanto, dirijo.

das coisas a dizer nada fôra muito importante
nada fôra nada não nada houvera senão te olhar:
teus seios: meu rosto: cabelos recobrem; você tem
um corpo de universo com gosto de luz bem clara, então
estar junto em nós é tão simples que inventamos essa
infernália complicada para que soe maior, do contrário seria o quê?

(desejo de compartilhar: meus olhos
entrelágrimas de sorrisos.)

reclamo ainda assim de algumas conversas surdomudo que travamos,
canais fechados freqüências assonantes
discrepâncias pragmático-discursivas.
talvez eu, preso nas urgências de minha cotidianidade imprompta,
tarefas prazos ligações contratos – já foi;
talvez você, procurando sei lá que distanciamento silente em outra
que não si mesma
(o que você quer, de fato? me diz, anda, faz, vai,
mas não empata a foda porque é isso que fode, tudo)

em meio aos sobrinhos abusivamente barulhentos
àquele meio de mato meio de nada onde você estava;
isso e o maldito telecom que não está não está lamento ela partiu.
reclamo assim agora aqui sabendo que nada será / foi
daquele jeito d’outrora e, sim,
tudo que foi teve que ser, daquela exata forma,
daquela exata forma: era nossa única, a possível.

nada impede sacodir a varinha mágica
balbuciar alguma besteira e
pronto!, teremos mudado por inteiro o estado de tudo.
(a realidade é tão somente uma rede de desejos, não me enche com trivia,
reconfigura e procede, o universo segue, tudo se segue daí)

e meu desejo agora é interromper isso
partir deixando abaixo outro texto que escrevi
não só para você mas
também para você, pouco depois.
feche a cortina;
apague a luz;
mexa-se na cadeira e – silêncio –
o primeiro
personagem acaba de entrar.

SEGUNDO ATO

 

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[1] Para ver as belas fotos da Paula Anddrade, sugiro visitar a página dela no Flickr.

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