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Das internas

Entries in poesia (10)

Sábado
out222011

do começo

nunca teve um. começo.

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Domingo
jul242011

poesia, noir:

aquilo que sobra quando tudo se cala é o mundo
a seco: o mesmo que sobra
depois que a Glock interrompe o silêncio,
o mesmo que sobra quando a Glock
tira os ruídos de um corpo.
fica um olhar branco que não te olha de volta:
é assim que o mundo te vê, olhando em branco
sem saber que você está aí.
é o mais próximo que dá para chegar dele.

sem retorno.

Sábado
jul162011

Passa um longo tempo

; como escrevo sobre as coisas que deixei de dizer, como meço as horas mortas?
o que é, em palavras, a experiência da dor real, ou
a experiência redobrada: o real da dor real?

é seco e corta; vou repetir:
(quantas vezes alguém se repete durante toda uma vida ou, colocando ao reverso,
quantas vezes algo em nós é realmente novo?)
são secas e cortam, palavras, horas, ou quando movo a pena sobre o papel -
milímetros entre deixar um traço sensível e rasgar fino o papel com a pena-estilete.

se alguém me perguntasse a moral da história, de qualquer história,
contaria a versão dos ratos: os que morrem, sem saber por que, para que outros vivam mais;
alguém pergunta se é preciso viver mais ou se isso é melhor que não-isso ou
apenas fazemos porque, em algum lugar, é parte de nosso código?

se alguém me perguntasse o que seria uma vida melhor haveria uma resposta a cada dia:
hoje, sete palmos sob a terra, em silêncio;
hoje, a conversa madrugada adentro no quarto de hotel de SP, olhando a madrugada respirar luzes na atmosfera poluída sabendo que ali estava meu livro, depois seria só questão de tempo;
hoje, não ter que enfrentar a cegueira do sol da manhã seguinte;
hoje, de volta em Veneza andando pelo Guggenheim olhando esculturas no outono italiano;
hoje.

se pudesse ter um “instant replay” como no meu jogo, que me retorna no tempo me permite
refazer a curva que errei (quando me destrocei no muro, fragmentos a 200 e poucos por hora)
retomaria o percurso / trajetória lá atrás (quando? mais fácil perguntar que responder, sempre)
e poderia ver de fora,
escolhendo a câmera, para saber onde-quando fiz coisas estranhas que então eu mudaria:
frear, escolher outro rumo, não ultrapassar em momentos ruins, não colidir, fazer uma breve pausa:
a lista de gestos recusados é sempre muito maior que as coisas realizadas de fato.

(em outro momento)
retomo.
recomeço.
reescrevo.

Quarta-feira
mai112011

a distância infernalmente tranquila entre nós [poesia]

ela me diz “não poderá passar impune” quando eu digo

“a distância infernalmente tranquila entre nós”

e respondo com um conto, respondo improvisando à noite ao piano,

entre paredes nuas, intervalos harmônicos soturnos

iluminados esparsamente pelas luzes da rua

a fumaça sobe do cinzeiro pousado ao lado, vodca,

no improviso eu digo “me beija, e nada terá passado impune”.

 

mas o beijo se perderá na distância infernal,

a tranquilidade forçada dos dias se manterá

nossas vidas assombradas por desejos

(estes, muito próximos, e me acordam à noite)

passaremos outra tarde esperando a noite depois daquela

dando vida às Musas com nossas paixões

exceto que Musas não beijam;

 

escritores, músicos, podem fazer surgir dos dedos

desejo universo dos infinitos caminhos

(ficcional é aquilo que bifurca os percursos do real)

mas escritores, frente à telateclado

ao final do último ponto se deparam

com a mesma distância infernalmente

vazia.

Terça-feira
fev222011

Ikkyu: 2

nuvens infindáveis nuvens ascendendo

nada pedir de palavras numa página 

 

clouds endless clouds climbing beyond

ask nothing from words on a page

 

 

trad. BR: Carlos Irineu;
versão US: Stephen Berg; 
in: “Crow with no mouth”