Imagens & Tópicos
Das internas
Quarta-feira
ago122009

Alba, 930 / 008

ela vivia no meu celular. as fotos, as poesias, as mensagens. tudo lá.

tínhamos nos conhecido em algum filme, um passado, um hotel europeu com um corredor de lajotas em branco e preto, portas verdes, uma clarabóia no teto filtrando luz de um dia cinzento, mais portas verdes (muitas delas, como se todas as saídas um labirinto dessem ali, e depois caminhar até o final do corredor para a última porta, fechada, a que nunca abrimos).

tínhamos nos conhecido em outro tempo, quando havia guerra, 930, ela era espiã e me seduzia, eu estava em outra vida, era correspondente de jornal, não lembro, eu escrevia à máquina e ela sentada em uma cadeira perto do aquecedor – como um gato, só que com ela eu trepava –, vestindo um corselete rendado, preto, pelo que lembro, cadeiras de encosto de veludo (verde), ela segurava uma das pernas dobrada e pousada na cadeira, as pernas longas de recorte suave, eu parava de vez em quando para pegar meu cachimbo, dava baforadas, tentava pensar em como continuar uma frase – uma outra, mas seria como esta –, olhava para ela, as pernas e o pingente de diamantes descendo entre os seios, presente de algum militar de alta patente ou ministro, quanto menos eu soubesse melhor.

havia um rolo denso de nuvens de tempestade sobre a cidade quando saímos naquela noite. parecia gerado por computador, perfeito demais, adequado demais, convergindo no horizonte mas teríamos chuva. entramos no carro e fomos para o Cyberia, já era novamente esta vida, não éramos mais espiões mas ela continuava misteriosa, fazendo algo pouco comum e talvez proibido, e eu tinha me tornado o que sou. sorria com um batom forte a pele artificialmente bronzeada e óculos grudados ao rosto, sem armação, refletindo meu rosto cansado pálido exausto, só queria umas pílulas – qualquer coisa – me perder na música e talvez jogar fractais.

mais tarde iria me perder no corpo dela, mas ainda era cedo.

Terça-feira
ago112009

Segunda-feira
ago032009

Firefox – Vampiro de RAM

acho que todo mundo gosta do Firefox, em grande parte porque ele nos livrou do Internet Explorer – que até melhorou desde "a época", porque passou a ter concorrência –, em grande parte porque, com o modelo aberto (Jobs: dica: "aberto", tipo "outros) de plug-ins, foram desenvolvidas algumas coisas úteis, legais, bacanas, piradas, altamente genéricas ou completamente específicas – se você precisa fazer algo com um browser, Firefox provavelmente tem um plug-in para isso.

usamos e vimos que era bom.

então veio o Opera. continuo achando o browser mais bem pensado do mundo, mas a cada nova versão eles resolvem bugs da anterior e criam vários novos. há coisas que simplesmente não rodam (como o site do meu banco), então desisti do Opera até ele se mostrar viável novamente.

claro, sempre houve o Safari, para os Seguidores do Jobs. o Safari foi inicialmente portado para PCs muito porcamente. já melhorou (ó, concorrência...), mas é um browser estranho no PC onde ele não faz nada melhor que ninguém. não entendo por que o Safari existe no ecossistema de um PC. funciona muito bem no iPhone e estou feliz com ele por lá.

e aí veio Chrome. já retomo.

Firefox, como todos sabem, permite que você abra muitas janelas. e guarde sessões e reabra as sessões depois. algumas vezes, quando estou metido em duas pesquisas sobre um tema qualquer e ainda tenho minhas tabs normais de trabalho abertas, acabo com três janelas de Firefox e 30 e poucas tabs. (parece que chamam "tabs" de "guias" por aqui, mas alguém ainda tem que convencer meu lado Tradutor de que isso é minimamente sensato – claro que também usam "printar" e "atachar", mas isso é outro post...)

o que é ótimo. com um único problema: até a versão 3.0.x (não atualizei para a 3.5 ainda) o programa é um vampiro de memória. ele gosta, ele drena, ele quer mais.

devo dizer também que ele nem sempre é gentil o bastante para devolver a memória que ele usa. se o sol nascer e a máquina hibernar, na volta só piora. mesmo com os 3GB de RAM que XP / Vista de 32 bits permitem, alguma hora a coisa vai ficar feia.

abrir uma ou mais "guias" (onde está meu cão-guia ou meu guia de alpinismo?) de YouTube no Firefox é suicídio: aquela memória realmente some e talvez o sistema leve 15 minutos para "dar por si" depois de sua quinta ou sexta hibernação. talvez nunca mais volte. reconheço que é simplista reclamar do Firefox em si quando o assunto é hibernação – XP tem muita culpa em qualquer assunto que diga respeito a alocação de memória. mas vamos dizer que ele "não ajuda".

agora há pouco eu estava como Cooliris aberto. para quem não conhece, recomendo: é a forma mais elegante e bacana e bodosa de ver fotos no browser. acho que Jobs criou um também, mas não sei quem roubou de quem nesse universo elegante de corporações gentis e sempre éticas.

o Cooliris foi fechado, porque eu estava reclamando dos 600 e poucos MB que o Firefox estava ocupando e, quando fiz isso, liberei 300 MB. "sua milhagem pode variar", como se diria em tupiniquim, mas o Cooiris é caro em termos de RAM.

o que fiz em seguida foi passar todas as janelas que tinha no Firefox – muito poucas hoje, apenas 8 – para o Chrome, o relativamente novo browser da Google World Domination Inc.

por questões de religião, eu gostaria muito de não me tornar Seguidor do Chrome, mas, apesar da esperteza de dividir o processo em vários sub-processos (o que me dá alguma esperança que o Processo-Mor consiga liberar RAM quando uma guia de turismo for fechada), tenho que admitir que o Chrome gastou apenas 150 MB de RAM para fazer o que o Firefox fazia em 350 MB.

isso não é um teste sério, isso não é um benchmark; isso só foi escrito porque não é a primeira vez que fico irritado com o comportamento "All Your RAM Are Belong To Us" – me passa sua RAM, playboy! – do Firefox. e talvez o Chrome seja uma alternativa, então deixo indicado.

Bob Charles, Califórnia, julho quase agosto de 2009

Segunda-feira
ago032009

Playboy: o Real e as mulheres hiperreais

suponho que deva ter um post em algum outro lugar deste site explicando aos leigos em Teoria Estética Avançada de Revistas Masculinas a diferença entre a Playboy e a Penthouse, porque colocar as duas juntas é mais ou menos o mesmo que dizer "o Globo e a Folha de São Paulo": os dois são jornais, as duas acima são revistas. todos os quatro imprimem coisas. algumas vezes fotos, outras textos.

as semelhanças acabam aí.

mas, como disse é um outro post. assim como é um outro post narrar minha teoria sobre a Estética Estática da Planetarização do Corpo Feminino como Objeto da Plástica, coisa que me coloca para pensar um bom tempo e requer amplas análises.

ao contrário de tantos outros posts debochados, esse aqui é incrivelmente sério. e eu sei que algumas pessoas começam a ranger entredentes a palavra "machista" quando menciono o assunto, mas, curiosamente, eu sou um feminista radical (ou um "existencialista", não sei) pelos meus pontos de vista a respeito disso tudo. é preciso prestar atenção nos detalhes.

Playboy e Penthouse têm padrões. fortes. e seus padrões ditam padrões de muitas coisas, desde como as pessoas aparecem sem fantasias no famoso outdoor de corpos que é o Mercado Público de Carnes do Rio até que tipo de lipoplasticoesculturaaspirada estará na revista Moda & Cirurgia Plástica ao longo dos meses (e quanto as clínicas de Plástica e Cirurgia Financeira vão lucrar com isso).

há um mercado em torno do que a Playboy resolve sobre pelos pubianos. há um mercado em torno das praias que a Playboy elege para as fotos mais importantes – notando que é absolutamente irrelevante "onde" eles fotografam e nunca entendi, como teórico, por que levar alguém à Grécia se (a) como público consumidor, quero consumir o corpo do mês, não o lugar e (b) mesmo que eu quisesse ver o lugar (bolas, teria comprado a revista de viagens e turismo se quisesse ver Santorini!), NÃO DÁ, porque estão vendendo a mulher e, no máximo, vejo umas casas gregas brancas ao longe.

com tanto processamento em cima das fotos, por que não incluir digitalmente 5% do que está longe e atrás e não têm a menor importância?

(tem um outro assunto aqui: por que contratam "cenógrafos" para certos ensaios, que tipo de ensaios são feitos – porque são poucos – e por que não mudam as poses cristalizadas que já encheram o saco de todo o mundo?)

qualquer um que tenha passado tempo examinando & analisando as séries de fotos de Playboys ao longo dos anos (chama-se "estudo diacrônico", na Academia, e chamo você de "um cara esperto" se conseguir transformar isso em projeto de pesquisa; o que é curioso porque, seriamente, estudar a representação do corpo feminino nas Playboys fornece muito mais insights sobre nossa cultura e o Imaginário & Imagética planetários do que quase qualquer outra coisa em que eu pense) ...

qualquer um que tenha passado tempo analisando as fotos chega a várias conclusões. como a maquiagem mudou, e como os anos 80 têm que ser apagados da Linha do Tempo porque era realmente cafona e "over". como a iluminação mudou. como o olhar sobre a mulher mudou – e não me importa se dizem que é sempre "mercadoria", o olhar, ou talvez a forma de vender o que se vende, mudou; não entender isso é não entender nada. como a existência ou não dos pelos pubianos vai se alterando.

as maiores alterações topológicas (sim, há uma topologia do corpo e o corpo também é um topoi – um "lugar" no sistema macro-econômico-sócio-cultural) são notadas, contudo, quando notamos que as primeiras "playmates" (economiza digitar "mulheres fotografadas pela Playboy") eram mulheres normais. fotografadas com o que as técnicas da época permitiam e com o que era considerado "de bom gosto" (sem nus frontais!, proibido!!) mas eram mulheres normais.

em algum momento o "culto ao corpo" (do qual falam muito e continuam falando sem examinar as Playboys, não entendo) cria o conceito de ginástica como algo fundamental, talvez porque nos tornamos muito sedentários (deus criou o chocolate, mas foi o diabo que inventou a geladeira). os corpos mudam e são conformados pela evolução da ginástica, que vai se especializando em "localizar" gorduras e vai cuidando de inventar torturas (pagas) para resolver as tais gorduras que nunca foram um problema até então.

esse é o "momento um", uma primeira mudança no zeitgeist, na gestalt e em outros termos alemães bacanas de usar nessas horas (sobretudo quando eles têm sentido mas podem ser objeto de galhofa crítica ao mesmo tempo).

o que a ginástica não resolvia passou a ser resolvido com a crescente criatividade de toda a equipe de produção – e Playboy se destaca pelo alto nível de produção que ela atingiu, com tudo o que isso tem de bom e de perverso – que começou a usar fitas adesivas e acessórios e ângulos para disfarçar imperfeições.

a Playboy deixou de ser WYSIWYG – se você saísse do estúdio com a moça que entrou lá, você não estaria mais com a mesma moça: existem as fotos e existe a pessoa real. as fotos passaram para um outro Domínio (formalmente, para os colegas formais, continuam sendo Reais, não podem deixar de ser, mas é um "Supra Realismo").

apesar de tudo, ainda era "mais ou menos a mesma coisa", no sentido que era uma boa ilusão de ótica mas era só isso, ótica, percepção, produção. como em uma sessão de fotos para conseguir o melhor ângulo de um político e usar nas fotos de campanha, por exemplo, e guardadas as devidas proporções e lembrando sempre que a Playboy é completamente honesta quanto ao que vende. os políticos vivem de vender a honestidade em sucessivos leilões fechados. (o que é outro post, e um que vai ser mal visto nesses tempos de democracia muito questionável, ainda quando a idéia de democracia seja mais um post, também muito questionável).

agora eu digo que "acabou". andaram falando no "fim da História" uns tempos atrás -

 

(se uma mulher está numa revista como "corpo", é para vender o corpo e o desejo que este corpo provoca; qual exatamente a discussão sobre isso – ponto passivo – e qual a questão "feminista" se é exatamente o mesmo processo que ocorre com atletas e, hoje, sobretudo jogadores de futebol, que são como os caríssimos cavalos de corrida? tem algum "movimento masculinista" protestando contra a "coisificação" dos jogadores? contra o fato de que eles são explorados ao extremo, ficam ricos – bem mais do que a maioria das atrizes-modelos-moças-que-posam para revistas ficam – e depois, em muitos casos, têm problemas com bebidas, com bebidas e mulheres, com bebidas mulheres e drogas, com isso tudo e violência ... não é nada fácil)

Sexta-feira
jul312009

Concorde: Paris, Charles de Gaule

Charles K. me escreve de Paris.

 

“Concorde. colocado em meio às pistas de trânsito interno do infindável aeroporto de Charles de Gaulle.
fica ali, suspenso em concreto, como uma enorme (e cara) escultura futurista em um museu improvável.
monumento a uma engenharia cujo tempo passou, um tempo que admitia coisas que não admitimos mais hoje.
memória de um futuro que não foi: mais veloz, mais aerodinâmico, mais caro.
na época do Concorde não se otimizava operações e companhias aéreas serviam mais do que uma porção de amendoins no jantar.
os homens sonhavam com outras coisas. tentavam superar limites.
penso nos artefatos que foram, em seu tempo, revolucionários, radicais, o ápice de uma engenharia, de um processo de construção, a soma de conhecimentos de muitos estudiosos.

como o Mecanismo de Antikythera. 

Concorde. veículo por excelência, máquina de velocidade, agora um objeto estático. paradoxo gritante.

por algum motivo não nos serve mais e, não fosse o fato de que somos muitos, hoje, e temos meios para preservar quase tudo, hoje, com o tempo ele acabaria reduzido a um monte de lata sem nexo que algum arqueólogo futuro teria que tentar modelar, repensar, entender e, muito perplexo, descobriria que nós, futuros neandertais do século 20, sabíamos construir aviões supersônicos de passageiros.

mas, assim como aconteceu com o Mecanismo de Antikythera, nossa civilização julgou que não precisava daquilo, não mais. deixou um ou dois exemplares soltos por aí, jogados como esculturas ornamentando as pistas de algum aeroporto, testemunhos de um tempo em que nossas crenças tecnóides eram outras.”

 

Charles K., Paris, outubro de 2008