Imagens & Tópicos
Das internas
Segunda-feira
fev212011

sobre Escritores

ocorre-me que é preciso dizer tantas coisas sobre esse-isso que nos faz o que somos: escritores, em tempo integral, quer estejamos ou não com teclados e canetas à mão, quer notemos ou não que estamos gravando muitas pequenas cenas em torno de nós para delas depois nos lembrarmos - a Musa no café, hoje, será um capítulo, uma poesia ou farei dela um micro-conto?

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Domingo
fev062011

Londres, Paris, BMW (um sonho-roteiro)

Grande confusão na casa em Londres onde estava o vampiro. Forte impressão de que eu era vampiro ou, mais especificamente, acho que eu estava no papel de Catherine Deneuve no The Hunger / Fome de Viver mas, para minha tranquilidade, o David Bowie não estava ‘me pegando’ nessa hora (por outro lado, nada de Susan Sarandon na cama tampouco).

A casa era grande, vários andares, muita segurança. Eu consegui saí, estava tentando invadir (peculiar, já que antes eu estava dentro). Precisava resolver algo lá. Matar os vampiros? Eu era um agente vampiro anti-vampiro infiltrado? Pode ser.

Acabei resolvendo que o mais seguro era sair pela garagem, que estava aberta. Tinha um BMW ‘cool’, de pista, todo em cinza escuro com rodas enormes de competição. Entrei nele. Tinha uma garrafa de vinho, estava feliz por poder beber sem me preocupar com a Lei Seca e, com aquele motor, um carro que não era meu e um roteiro que era todo meu, eu podia fazer o diabo no trânsito de Londres sem me preocupar com os radares que infestam o Rio (vampiros, eles também - leiam um outro post polêmico sobre como estamos tentando encontrar a paz de espírito através de um estado orwelliano que vigia & pune todos o tempo todo).

Não quero sair do assunto, embora o sonho-roteiro jamais fosse se importar com ‘assunto’. O assunto de um sonho-roteiro é fazer algo divertido e seguir para a próxima cena. O foco narrativo é aquilo que você está vivendo, mas dura apenas até você chegar na próxima cena.

Londres a Paris foi mais rápido que atravessar a Linha Vermelha durante a semana. O melhor lugar para andar de carro fora dos jogos são mesmo os sonhos (inverte que a concordância fica mais fácil de entender).

Em Paris, deserta sem motivo, eu estava chateado porque não tinha levado minha máquina digital comigo - as fotos em papel de Paris já estão antigas, não ficam muito boas depois do scanner e eu sei que preciso ‘olhar de novo’ a cidade toda, apesar do tempo longo que passei lá, mas foi ‘na época’ - agora é outra época.

Ainda cruzando no meu BWM (“Speed Racer cruzando a cidade / a toda velocidade” - Fernanda Abreu), olhei para a ponte que vinha de Londres, ali do outro lado, muito perto, pessoas e carros num trem diferentão. Era sol e claro e fazia uma luz muito bela, a luz de outono na Europa que é quente, cheia de nuances e fotografa bem.

Os bistrôs todos estavam cobrando uma taxa incompreensível de cartão de crédito e havia avisos dizendo para tentar vários porque um deles viria sem taxa. Descobri com alguém que não vi - não me lembro de ter visto ninguém depois que saí de Londres mas, como em um bom sonho-roteiro, não quer dizer que Paris estivesse abandonada tampouco - as pessoas estavam só fora da cena, fora da câmera. Descobri que eu podia ligar para um dos números anunciados em pequenos elevadores em cima dos caixas dos bistrôs e alguém viria passar um cartão para mim, porque as pessoas que trabalhavam nos bistrôs não pagavam a tal taxa.

Estava achando aquilo muito peculiar e completamente sem sentido. Meu BMW era conversível, o dia ainda era sol e eu estava feliz circulando por muitas ruas, passando pelo Beaubourg convenientemente recolocado em frente ao Sena.

A última coisa que este sonho me mostrou foi a Rua du Chat qui Pêche (procura no Google Maps, está no meu próximo romance e foi bem conveniente que eu tenha podido ir lá tão rápido). Uma pequena quase-travessa fascinante, medieval, com um anúncio de hotel no meio, ali por Saint Michel / Saint Germain, no Quay, entrando apenas um quarteirão curto. Mas é justamente onde eu penso que minha cena aconteceria.

Bom dia.

Sábado
jan292011

Ikkyu: 1

vá escrevendo tuas questões profundas adormecido

quando acordar mesmo você terá partido


trad. BR: Carlos Irineu;
a partir da versão US de Stephen Berg,
in: “Crow with no mouth” 

Sábado
jan292011

Cartagena (um postal)

recebo um postal de Cartagena. me sinto (sinceramente) honrado, alguém lembrou de mim (em Cartagena). 

(supostamente) diz algo como:

estou te escrevendo de Cartagena, uma cidade linda que tenho certeza que voce ia adorar, cheia de charme, história; uma cultura muito rica… fui visitar a casa do Gabriel Garcia Marques em tua homenagem. as luzes aqui são âmbar, há um clima romântico, nostálgico. se tiver a oportunidade venha, tenho certeza que voce se inspiraria muito aqui. daria um ótimo livro, há imagens em toda parte. a água do mar é cristalina, profusão de peixes coloridos, frutas coloridas …

bom ver as cores de Cartagena pelos olhos de outro. respondo por mail, longo demais para um postal (e não tenho cores, agora).

você deve ter ido visitar a casa do GGM, mas não foi de fato em minha homenagem, foi?

meu sonho seria beber um mojito no bar que Hemingway freqüentava, em Cuba. curioso, porque só li o clássico-e-obrigatório “The Old Man and the Sea”, séculos atrás; achei ótimo, não lembro do livro, não li outro dele além deste; mas Hemingway é, para mim, a essência do Escritor: um cara que gosta de touradas (sangue e violência), tem um jeito meio “rude” mas é hábil com as sutilezas das palavras; vai para Cuba (outra época) para ficar longe de quase tudo. se mata com uma espingarda. (sabe, o importante aqui é: and so it ends, not with a whimp, but with a bang; Eliot entendeu isso errado.)

longa conversa, um dia: te explicar por que acho isso “o máximo”. mesmo a espingarda.

meu outro ídolo é Bukowski, bêbado, tarado e com uma herança da qual nunca falava; amante: de corridas de cavalo, de mulheres e de bebida. sou mais próximo de Bukowski: cavalos, mulheres, alguma bebida; amante.

e novamente mulheres, o desejo é incessante, mas acho que dessa parte você já sabe, ao menos um pouco.

Bukowski me ensinou o ritmo (“como um 38, só que mais barulhento”): se tenho uma “influência”, é ele.
Machado, W.Benjamin, A.Abelaira, R.Piglia, F.Pessoa, muitos outros me ensinaram a pensar a escrita.
Bukowski me mostrou o que é “tempo”; “ritmo”; “pulsação”.

escrevi isso do nada no mail porque tinha um vídeo aberto na outra tela e me deu vontade de dizer outras coisas, coisas sobre mídia e Lady Gaga. escrevi um ensaio sobre pop e McLuhan e M-Manson e L-Gaga entre uma linha e outra do que te escrevo agora. (mas eu te escrevi de fato tudo isso?)

de qualquer forma, Wish I Was There, com você, vendo as cores (“vendo as cores de teus olhos vendo”, diria Charles). mas tenho dúvidas se me inspiraria, no clima ‘techno-noir’ que cultivo em textos recentes.

esquece o fato de que produzo bem em Corrêas, bucólica e adequadamente fechado em um confortável chalé (me encontra lá um dia? adoraria conversar em meio às montanhas). na maior parte das vezes o fundo do que escrevo é o que vejo de um quarto de hotel, alto, uma noite insone em São Paulo. tenho uma foto, não vou mandar agora. ou ontem à noite, em torno de 18h23, o enquadramento perfeito da antena em contraluz da lua, o alto de um prédio de escritórios espelhado, apagado; um único andar acesso, luzes da sala, fechando logo abaixo no vermelho forte do sinal e a fila de carros.

esse sou eu, aqui é minha cidade.

e tenho que ir, mas sempre volto: meu texto sobre Lady Gaga assume isso completamente. achei engraçada a piada para mim mesmo, quando comecei dizendo que já tinha dito tudo no título, e depois digo algo completamente diferente, mas que é o centro da coisa, e finalmente escrevo o que ia dizer, não exatamente porque me importe, como A-Abelaira não se importava, como D-Adams não se importava - McLuhan me importa, a paranóia da mídia por si mesma me importa – Lady Gaga eram as imagens no monitor secundário.

e você ressurgirá em mail alguma hora, de Cartagena ou já de volta, não sei; espero, te espero sempre, desde que te conheci.

ah: isso também: Cartagena, para mim, se pronuncia “Cartáguena” com o sotaque do Latim que me ensinaram. e a frase exata é “delenda Cartagena” (Alexandre, o Grande: “Cartagena deve cair”). por algum motivo que já esqueci, a frase era muito importante para ensinar algo que não aprendi totalmente nas aulas de Latim.

era, claro, outra Cartagena.

e teu postal meu mail isso aqui se tornam agora um doppelgänger: como dizer o quanto foi verdade ou não?

eu volto.

Sábado
jan222011

o que nos torna aquilo que somos

o que nos torna aquilo que somos
desde sempre um mesmo
(em nossa individualidade indissoluta)
alheios a escolas
alheios ao mundo
porque em nós já é o mundo
jamais podemos deixá-lo, esquecê-lo
mesmo negá-lo
(pouco importam as máscaras
sob as quais apagamos
nossas personas)
já somos o mundo que precisa
se dizer
por pura angústia
exausto mas retirado da cama
em Roma ou qualquer outro
lugar fim de madrugada
fome, olhos semicerrados
ainda escuro
mas a escritangústia
que compõe poesias
se coloca além disso
nos acorda
(sem opções)
pois sabemos (indefesos)
que algo precisa ser
dito, algo que as Musas
nos ditam e
Musas nunca souberam
esperar.

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