a lógica perversa do capital: 'o dinheiro fala, ninguém sai'
estou trabalhando em três projetos. talvez quatro. dois são ‘secretos’, na área editorial; um é um retorno a meus tempos de “executivo”; o quarto eu fico em dúvida se não é só falta de sono.
(os projetos exaustivos explicam por que tenho escrito muito pouco; não escrever é um incômodo físico para mim, mas faz parte, como o cansaço. depois passa.)
este business como executivo começou porque, no meio de uma confusão para receber meu pagamento por uma revisão (longa) de textos, notei que era melhor eu intervir nas negociações entre o americano - que vocês podem chamar de “fonte pagadora” - e o comprador - que vocês podem chamar de “infindável burocracia governamental” - e um intermediário, que, até eu limpar a área, vocês podiam chamar de “picareta”. agora tem uma S/A séria no lugar onde já deveria estar há mais de um ano.
este é o contexto. agora o texto.
El Gringo tem um longo passado (empresário de grandes figuras da música rock / pop norte-americana) e conta muitas histórias. algumas delas eu talvez escreva, um dia, quando der. ele também tem muitos ditados. é um cara inteligente e muito articulado (raramente digo que alguém é muito articulado; mas ele não só é muito articulado como também fala mais que meu filho de quase 8 anos, coisa que eu julgava impossível).
um dos ditados favoritos dele é “money talks, nobody walks”. uma tradução correta seria “o dinheiro fala, ninguém vai embora”. contudo, para rimar, em inglês tiraram o “away” que viria depois do “walk” - “walk away”, ir embora. o que ficou escrito, literalmente, é “o dinheiro fala, ninguém anda”.
próximo? suponho que sim. mas, depois de meses vendo coisas paradas e pessoas aprisionadas em situações chatas, comecei a pensar que esse ditado tem um ‘dark side’, um lado negativo: enquanto estamos pensando apenas no lucro, não conseguimos sair do lugar.
minha outra versão para este ditado seria “o dinheiro paralisa”.
estou cansado dessa paralisia e de passar horas desfazendo besteiras que outros fazem ou lidando com a pasmaceira gerada pela excessiva burocracia do Estado no Brasil. ontem estava escrevendo um mail denso, complicado e importante para tentar sair da paralisia em que o projeto me colocou - sair fora.
acordei, hoje, e fui reler este mail antes de enviá-lo. (JAMAIS mande mails importantes sem ‘dormir em cima’ e ler no dia seguinte, é a Primeira Diretriz da ‘comunicação empresarial do Carlos’; vale para a vida como um todo.) notei que o mail estava claro, reclamava das coisas que precisam mudar, abordava assuntos diversos, pedia uma mudança de valor em um pagamento MAS terminava sem dizer claramente o que eu queria: “walk away”, sair fora.
não amanhã - sou responsável -, mas quando aquilo que me contrataram para resolver estiver resolvido.
então por que não disse isso claramente? porque sei que tem mais dinheiro depois. preciso de dinheiro? sim, tenho contas, todos temos. preciso deste dinheiro? não. este não é meu trabalho, é um ‘bico’. bem pago, como bico, se não fosse a irritação enorme e o tempo despendido. mas é um bico.
tem um filósofo que gosto muito de citar, junto com Nike. é o Johnnie Walker. ele diz uma coisa séria: “keep walking” - eu devo seguir em frente, o dinheiro virá de outros lugares.
acordei pela manhã, reli o mail e pensei: “keep walking”. tenho que ser honesto comigo mais vezes.
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PS - no dia em que as pessoas pararem de olhar para slogans de marketing dentro da pasmaceira de ‘lifestyle marketing’ para a qual supostamente os slogans se destinam e pensarem que funcionam como filosofias de vida condensadas, vai ser uma revolução. o “just do it” - pare de enrolar! - da Nike sempre me coloca para pensar.