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Das internas

Entries in escritos (14)

Sexta-feira
mai202011

amantes + hotel (em construção)

o texto começa assim:

“nos encontramos num quarto de hotel. amantes, velhos amigos; almas geminadas em outra encarnação (eu era escravo numa fazenda da Georgia, ela era branca; morri enforcado).

nos conhecemos pela internet. somos casados. nunca nos encontramos.

fazemos de conta que nos conhecemos pela internet porque somos casados: um com o outro, mas isso seria tão óbvio depois de um tempo que resolvemos nos tornar amantes. e se ela for minha esposa de fato se passando por outra, por mail, para me seduzir de novo? ou sou eu quem está fazendo isso?

e, sim: contamos (a respeito do caso) um para o outro agora - e estragamos a surpresa - ou decidimos ser infiéis quando nos encontrarmos, finalmente, no hotel em Praga, e então descobrirmos que o outro somos nós mesmos?

só nos conhecemos pela internet mas fazemos de conta que somos casados porque torna tudo mais simples, inclusive o imposto de renda. vamos nos encontrar no hotel, em Praga, Budapeste ou, talvez, Fortaleza. 

iremos falar da vida, das coisas que não temos tempo para dizer porque o tempo corre mais que todos, o tempo nos deixa longe de nós mesmos; iremos falar do que o tempo nos roubou, como amantes não teremos pressa não teremos as contas e a empregada e as compras e uma casa e duas empresas.

nunca estive com ela pessoalmente. convivo todos os dias. todos os dias convivo pessoalmente com alguém que não conheço. não conheço alguém com quem os dias convivem.

na escrita os lugares são muito permutáveis e é permitida uma ambiguidade enorme: eu, escritor, mudo aqui o que quero, e posso até sobrepor os hotéis de Paris, Nova Iorque, São Paulo - são um hotel só onde as imagens-personagens sobrepostas da esposa & amante & amiga vão ser, também, uma coisa-pessoa só, que vai chegar no quarto (não sei qual o dia, contudo; nós marcamos na agenda da casa?) e o que eu escrever a partir daqui transcorrerá. 

[cont.]

Quarta-feira
mar092011

nessa outra vida

nessa outra vida eu tenho tempo, sempre; e dinheiro no banco para aproveitar o tempo, embora comprar nunca seja importante.

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Domingo
fev062011

Londres, Paris, BMW (um sonho-roteiro)

Grande confusão na casa em Londres onde estava o vampiro. Forte impressão de que eu era vampiro ou, mais especificamente, acho que eu estava no papel de Catherine Deneuve no The Hunger / Fome de Viver mas, para minha tranquilidade, o David Bowie não estava ‘me pegando’ nessa hora (por outro lado, nada de Susan Sarandon na cama tampouco).

A casa era grande, vários andares, muita segurança. Eu consegui saí, estava tentando invadir (peculiar, já que antes eu estava dentro). Precisava resolver algo lá. Matar os vampiros? Eu era um agente vampiro anti-vampiro infiltrado? Pode ser.

Acabei resolvendo que o mais seguro era sair pela garagem, que estava aberta. Tinha um BMW ‘cool’, de pista, todo em cinza escuro com rodas enormes de competição. Entrei nele. Tinha uma garrafa de vinho, estava feliz por poder beber sem me preocupar com a Lei Seca e, com aquele motor, um carro que não era meu e um roteiro que era todo meu, eu podia fazer o diabo no trânsito de Londres sem me preocupar com os radares que infestam o Rio (vampiros, eles também - leiam um outro post polêmico sobre como estamos tentando encontrar a paz de espírito através de um estado orwelliano que vigia & pune todos o tempo todo).

Não quero sair do assunto, embora o sonho-roteiro jamais fosse se importar com ‘assunto’. O assunto de um sonho-roteiro é fazer algo divertido e seguir para a próxima cena. O foco narrativo é aquilo que você está vivendo, mas dura apenas até você chegar na próxima cena.

Londres a Paris foi mais rápido que atravessar a Linha Vermelha durante a semana. O melhor lugar para andar de carro fora dos jogos são mesmo os sonhos (inverte que a concordância fica mais fácil de entender).

Em Paris, deserta sem motivo, eu estava chateado porque não tinha levado minha máquina digital comigo - as fotos em papel de Paris já estão antigas, não ficam muito boas depois do scanner e eu sei que preciso ‘olhar de novo’ a cidade toda, apesar do tempo longo que passei lá, mas foi ‘na época’ - agora é outra época.

Ainda cruzando no meu BWM (“Speed Racer cruzando a cidade / a toda velocidade” - Fernanda Abreu), olhei para a ponte que vinha de Londres, ali do outro lado, muito perto, pessoas e carros num trem diferentão. Era sol e claro e fazia uma luz muito bela, a luz de outono na Europa que é quente, cheia de nuances e fotografa bem.

Os bistrôs todos estavam cobrando uma taxa incompreensível de cartão de crédito e havia avisos dizendo para tentar vários porque um deles viria sem taxa. Descobri com alguém que não vi - não me lembro de ter visto ninguém depois que saí de Londres mas, como em um bom sonho-roteiro, não quer dizer que Paris estivesse abandonada tampouco - as pessoas estavam só fora da cena, fora da câmera. Descobri que eu podia ligar para um dos números anunciados em pequenos elevadores em cima dos caixas dos bistrôs e alguém viria passar um cartão para mim, porque as pessoas que trabalhavam nos bistrôs não pagavam a tal taxa.

Estava achando aquilo muito peculiar e completamente sem sentido. Meu BMW era conversível, o dia ainda era sol e eu estava feliz circulando por muitas ruas, passando pelo Beaubourg convenientemente recolocado em frente ao Sena.

A última coisa que este sonho me mostrou foi a Rua du Chat qui Pêche (procura no Google Maps, está no meu próximo romance e foi bem conveniente que eu tenha podido ir lá tão rápido). Uma pequena quase-travessa fascinante, medieval, com um anúncio de hotel no meio, ali por Saint Michel / Saint Germain, no Quay, entrando apenas um quarteirão curto. Mas é justamente onde eu penso que minha cena aconteceria.

Bom dia.

Sábado
jan292011

Ikkyu: 1

vá escrevendo tuas questões profundas adormecido

quando acordar mesmo você terá partido


trad. BR: Carlos Irineu;
a partir da versão US de Stephen Berg,
in: “Crow with no mouth” 

Sábado
nov132010

O Sonho e a Avançada Civilização Submarina de Golfinhos e Baleias [uma viagem]

[22 nov 2010: título corrigido; revisão ortográfica e pequenas alterações no texto]

Acordei lentamente da minha “soneca da tarde” numa quinta. Odeio dormir à tarde, mas estava sendo uma semana difícil. Tive um daqueles sonhos quando já se está quase acordado mas, como estava muito (muito) cansado, não conseguia levantar e meu cérebro quase-consciente resolveu se meter no sonho e discutir assuntos. Foi divertido – e mostra um pouco por que alguns dentre nós têm a opção de escrever ou escrever ou enlouquecer.  ~;0)

Formalmente, para quem se interessar, é um texto sobre as relações entre as premissas dos textos ficcionais e o desenvolvimento de uma trama. Mas é também uma viagem completa – vocês, leitores, decidem o que querem tirar daqui. Eu estava só sonhando as coisas que sonho.

O Cérebro pegou um roteiro de filme de ação já interessante (meu sonho imediatamente anterior) e criou novos elementos em cima disso.

No primeiro sonho, o planeta todo era monitorado por computadores, satélites e câmeras, mas as corporações, os governos e as máquinas precisavam de pessoas especiais, sobre-humanas, munidas de implantes de GPS e câmeras de visão ampliada, para conseguir “ver” em lugares ou situações difíceis: nuvens atrapalhando os satélites, tempestades de neve e ainda aquelas vezes em que é preciso entrar dentro de cavernas ou mergulhar em mar revolto, por exemplo. Diria que parte disso pode ser feito por aviões-robô, e foi quando eu comecei a discutir comigo sobre essa premissa ter problemas de desenvolvimento.

Eu tinha criado um personagem que seria um “superagente” (bleargh de recauchutagem ortográfica!), equipado com um bote “inafundável”, e que ia se meter numa tempestade marítma para ver algo que os satélites não conseguiam ver – descobrir o que estava havendo com um plataforma de petróleo no Mar do Norte, por exemplo.

Claro que a próxima questão é: mas e se o bote inafundável for atacado por uma orca, a baleia assassina que não é baleia?

O Sonho passou um tempo pensando nisso. Nem discutiu se há orcas no Mar do Norte ou não, mas é uma questão importante. O problema d’O Sonho era se ele poderia criar um material e uma construção que uma orca, tendo aqueles dentes de orca e mandíbulas de orca, não conseguisse detonar nem destruir dando aquelas pancadas de orca com o corpo.

Foi quando O Sonho teve outra idéia legal, porque o Cérebro obviamente começou a se encher de pensar sobre como construir “botes à prova de orca” (a baleia assassina que não é baleia, acho que já mencionei), embora a indústria de plataformas de petróleo do Mar do Norte talvez gostasse de saber das conclusões a que cheguei. (Eu talvez ainda desenvolva a idéia como conto, porque gosto de um ser humano ‘no limite’ que sirva para fazer aquilo que, hoje, desejamos que as máquinas façam. É uma boa inversão de idéias, merece ser explorada.)

O Sonho resolveu então se lançar sobre uma nova hipótese e teorizar sobre o que iria acontecer se, numa “Hipótese Gaia”, os seres marinhos desenvolvessem uma civilização. De forma ficcionalmente coerente, deveria ser completamente diferente da nossa, e lembrei da minha neurocientista predileta dizendo que nosso Imaginário é limitado por nosso conhecimento do Real, então resolvi (ainda sonhando) que puxaria a coisa até o ponto em que o Imaginário tivesse que extrapolar sobre o Real e, modulando parâmetros, tentasse chegar a algo plausível, mas não existente ainda.

Ao menos não ficaria óbvio, entendem? Não seria uma trama do tipo “Atlântida” ou “os golfinhos na verdade são extra-terrestres” (embora Douglas tenha se saído bem com isso, mas, claro, a intenção de Douglas era ser non-sense). Foi o que O Sonho pensou, ao menos.

Para onde foi tudo isso? Para não ficar enorme, respostas & uma grande trama para Hollywood dentro de um ou dois dias, aqui no site.