Este parece ser um escrito teórico ou acadêmico, mas não é. Só começa com:
Defendi minha tese na quinta. (Tenho outras duas – uma puramente pragmática; é tese? – pela frente ao longo dos próximos anos.) Eu falava sobre Augusto Abelaira e Bolor, um livro que é uma ficção de diário.
A banca perguntou algo relacionado às mudanças da primeira pessoa: quem diz “eu” ao longo dos séculos e como isso muda? Mudou muito.
Parte da minha resposta dizia que, hoje, “só tem” essa primeira pessoa, um “eu” glorificado e midiatizado que diz … não sei o que diz, ele diz qualquer coisa, contanto que possa dizer. O eu está superexposto (anunciado e vendido, até) e, como numa foto, essa superexposição torna a imagem meio sem contraste, meio apagada. A ironia que nossa época está gerando é que este “eu” pode ser qualquer coisa, contando que siga exatamente as prescrições do Ministério da Propaganda e compre aquilo que precisa comprar.
Abelaira, em 1970 e poucos, brincou com Descartes dizendo: “X funciona, logo Y existe”. Algo assim. Corrijo quando abrir o livro e procurar a citação – não gosto de citações, acho que os livros (e a internet) já estão aí para quem quiser os fatos.
Blogs (e a coisa nociva e xem noxaum dos Reality Shows) são produto dessa época. Twitter é SMS transportado para blogs e transformado em quase nada. O blog ainda dizia “eu li o último livro da Stephanie e achei ____”. Um tweet nem se chama mais post, é isso, “tuít”, perto de “tuí” e “tuim”, que a maioria de nós conhece como “periquito”.
Retomo: tweet é a lógica do periquito. Faz barulho – tuít, tuít. Significa? Não sei se significa algo. Nunca foi a idéia.
Penso que as pessoas são muito criativas sempre que saem da frente da tela do Big Brother (os que estão atrás, deixa pra lá). Pessoas criam bons usos para tecnologias xem noxaum. “Sigo” (seguidores, como num culto? pode ser, mas antes eram só os da Apple) pessoas no Twitter que dizem coisas interessantes, produzem canais de “RSS humano inteligente” e enviam tuíts dizendo que há um post interessante, que há um site bacana. A maioria, contudo, diz algo como “acordei com dor de cabeça”, “bebi demais e agora veio a ressaca”, o que for.
E o que é não me importa, neste caso, porque eu não quero saber o “status” atualizado duas ou três vezes por dia dos meus amigos, conhecidos, co-passageiros de navegação e dos animais de estimação desse povo todo.
Quero mais silêncio. Quero paz para poder pensar. Quero o monitor como tela em branco onde posso escrever algo que seja uma tentativa de criar. Quero tempo para ler os poucos blogs onde outros pensam (supondo que eu pense, mas não me cabe julgar isso).
Não posso fazer (nem quero que) o tuít se cale mas posso escrever e dizer que precisamos pensar o tempo todo como toda forma de tecnologia é também uma mudança em nossas formas de vida e comunicação.
Estamos nos tornando passivos demais. E definitivamente estaríamos melhor sem Fazendas, Big Brother e a Casa da Siliconadas.
PS – Falei sobre três tópicos completamente diferentes neste ensaio-post-texto. Desmembro os três mais à frente, o Big Brother na Casa de Fazenda das Loiras Siliconadas é bizarro o suficiente para merecer um texto à parte.
Peace, out.