Imagens & Tópicos
Das internas
Quinta-feira
jul292010

Como escrever [sem ser óbvio]

a primeira coisa é definir que não há regras: por exemplo, criar uma regra dizendo que não há regras e começar com isso.

pensando um pouco, você pode notar que paradoxos também funcionam bem: se eu fosse escrever uma série de artigos sobre “como escrever”, sabendo que eu não gosto de regras nem do que é óbvio, poderia tentar um paradoxo: chamar a série de “Como escrever”, e acrescentar “[sem ser óbvio]”.

os paradoxos muitas vezes são uma saída fácil e tola. gosto quando é possível usá-los com ironia, sobretudo quando é possível criar uma (suposta) auto-referencialidade ou extrapolar isso e dizer que sua (pretensa) auto-referencialidade é uma meta-referencialidade.

você fecha esta parte do assunto sem explicar mais nada, você muda completamente de tópico e, sem nunca perder de vista a escrita em si, diz:

eu estava fugindo hoje do segundo engarrafamento sucessivo quando, já tendo entrado na terceira rota alternativa, notei que estava em um canto tão estranho da cidade que a melhor definição seria dizer que, lá, o álcool (quem diabos sobrecorrigiu o nome para “etanol”?) custava quase 40 centavos a menos que em qualquer posto da cidade.

você tem idéia de quão longe está de qualquer centro quando sua melhor referência é notar que o etanol está 40 centavos mais barato? e onde fica a coragem para colocar isso motor adentro, sabendo bem o custo das peças se tiver entrado água no etanol barato?

é o que posso dizer de melhor e talvez tenha sido a coisa mais interessante que pensei hoje, embora as muitas pessoas com quem interagi (foi um dia interativo, devo dizer) possam ter achado mais relevantes os meus comentários sobre a bomba d’água de auto-sucção que atormenta o prédio (era algo assim, eu sou recém-síndico, me dêem uma chance, na praia de hidráulica sempre fiquei na areia que, ainda assim, evito por ser metáfora óbvia).

o que eu pensei em seguida? bem, se você escreve hoje sobre etanol e 40 centavos, e ninguém vai saber o preço do etanol e quão significativos esses 40 centavos são, nem em 5 anos nem em qualquer lugar fora daqui, como eu uso uma imagem que é ao mesmo tempo interessante – ela diz tudo sem ter nenhuma relação com o que expressa, de onde a força; aliás, estou quase retomando o Manifesto do Surrealismo, aqui; mas é provavelmente por isso que eu digo que toda a Arte Moderna vem do Surrealismo, sem o qual estaríamos presos ao automatismo da objetividade (oops!, nós estamos presos a twittar o automatismo da objetividade da rede) //

// como eu uso uma imagem que é ao mesmo tempo interessante mas também me parece facilmente incompreensível.

isso é um pensamento em andamento, eu só queria abrir, não fechar.

http://www.doppelganger.com.br/improbabilidades/sobre-a-escrita-um-divertimento.html

http://www.doppelganger.com.br/improbabilidades/como-escrever-um-inicio.html

http://www.doppelganger.com.br/improbabilidades/como-escrever-ndash-todos-os-finais-possiacuteveis-parte-2-o.html

http://www.doppelganger.com.br/improbabilidades/dada-dadaismo-no-e-gaga.html

 

Terça-feira
jul272010

O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam

PS – O título da (provavelmente excelente) tradução de Davi Arrigucci Jr. para a Companhia das Letras é “O Jardim de Veredas que se Bifurcam”. Nada contra, nem poderia. É só que eu costumo enveredar por caminhos mais vezes do que caminho por veredas, então ‘ouço’ o título como “caminhos que se bifurcam”. Além disso, por conta do que o texto de Borges diz e de como interpreto o jogo de sentidos, não posso pensar em ‘veredas’ - mas continuar discutindo isso seria uma bifurcação do rumo original.

Segue, a título de rápido exemplo de que preciso para continuar o que já pensei mas ainda não escrevi, o trecho central do conto de Borges. Em espanhol. Que é essencialmente o mesmo que português, basta ler sem pensar que não é!   ~;0)

Antes de exhumar esta carta, yo me había preguntado de qué manera un libro puede ser infinito. No conjeturé otro procedimiento que el de un volumen cíclico, circular. Un volumen cuya última página fuera idéntica a la primera, con posibilidad de continuar indefinidamente. Recordé también esa noche que está en el centro de las 1001 Noches, cuando la reina Shahrazad (por una mágica distracción del copista) se pone a referir textualmente la historia de las 1001 Noches, con riesgo de llegar otra vez a la noche en que la refiere, y así hasta lo infinito. Imaginé también una obra platónica, hereditaria, trasmitida de padre a hijo, en la que cada nuevo individuo agregara un capítulo o corrigiera con piadoso cuidado la página de los mayores. Esas conjeturas me distrajeron; pero ninguna parecía corresponder, siquiera de un modo remoto, a los contradictorios capítulos de Ts’ui Pên. En esa perplejidad, me remitieron de Oxford el manuscrito que usted ha examinado. Me detuve, como es natural, en la frase: Dejo a los varios porvenires (no a todos) mi jardín de senderos que se bifurcan. Casi en el acto comprendí; el jardín de senderos que se bifurcan era la novela caótica; la frase varios porvenires (no a todos) me sugirió la imagen de la bifurcación en el tiempo, no en el espacio. La relectura general de la obra confirmó esa teoría. En todas las ficciones, cada vez que un hombre se enfrenta con diversas alternativas, opta por una y elimina las otras; en la del casi inextricable Ts’ui Pên, opta — simultáneamente — por todas. Crea, así, diversos porvenires, diversos tiempos, que también proliferan y se bifurcan. De ahí las contradicciones de la novela. Fang, digamos, tiene un secreto; un desconocido llama a su puerta; Fang resuelve matarlo. Naturalmente, hay varios desenlaces posibles: Fang puede matar al intruso, el intruso puede matar a Fang, ambos pueden salvarse, ambos pueden morir, etcétera. En la obra de Ts’ui Pên, todos los desenlaces ocurren; cada uno es el punto de partida de otras bifurcaciones. [1]

Retomo, altero: em todas as ficções, cada vez que um autor se depara com diferentes alternativas, opta por uma delas e elimina todas as outras. Na obra de Ts’ui Pên, contudo, todos os desfechos ocorrem; cada um é o ponto de partida de outras bifurcações.

Que isso tenha dado origem à Mecânica Quântica, é inquestionável. Heisenberg, von Neumann, Einstein, Böhr e meu querido Schrödinger, entre outros (tá, inclui o Hilbert, um cara legal) estavam discutindo o assunto em 1920 e poucos. Claro que prenunciaram a obra de Borges, que materializaria o conceito de quântica em sua ficção uns anos mais tarde.

Que este conto seja citado de forma muito clara no brilhante (mas quase ninguém concorda comigo e minha esposa e cancelaram) seriado estadunidense FlashForward … bom, a premissa do livro (de Robert J. Sawyer) que deu origem à série poderia muito bem ser resumida ao conto de Borges, numa versão um pouco diferente, ampliada, em outro contexto, com uma premissa muito melhor do que, chutando, 80% do que se produz em TV. Perdeu-se, já era, bifurcamos, vamos adiante.

Minha questão é outra. Minha questão é o que você faz quando acredita – e acredita como autor, não só como físico – … o que você faz quando acredita que é preciso, mesmo, dar conta de todas as possibilidades a cada vez que, num texto, há uma bifurcação? Você elimina as outras, como é costume fazer para tornar uma história “coerente”? Você escreve um livro circular? Você escreve um romance no qual o último capítulo é igual ao primeiro, porém diferente, e tudo que vem no meio pode ser lido como meta-referências ao próprio livro que o leitor lê? Você inventa uma escrita hipertextual em 1940?

Bem, talvez você não consiga escrever, porque o Infinito, assim como as idéias infinitamente interessantes, são inerentemente paralisantes para um autor. Então, frente ao conceito da Biblioteca de Babel, à idéia das ruínas circulares – uma metáfora linda sobre o ato de escrever, mas é um conto chato, medíocre - talvez você fique a tal ponto preso nas múltiplas possibilidades que o tecido da escrita não possa se adensar.

Naturalmente, há vários desfechos possíveis. E um deles é retomar o tema sucessivamente em vários contos: Pierre Menard, ‘Tlön, Uqbarm Orbis Tertius’, As Ruínas Circulares, A Biblioteca de Babel …. todos ‘dentro’ do Jardim de Borges. Certamente a idéia contida na “coleção de idéias” do Jardim de Caminhos que se Bifurcam é uma das coisas mais formidáveis produzidas em literatura no século 20. A questão é que, embora isso faça de Borges um gênio, um homem com idéias muito adiante de seu tempo, muito peculiarmente isso não faz dele um bom escritor – pelo contrário, me parece que é justamente isso que impede que a escrita de Borges deixe seu eterno devir [2] para que suas idéias se concretizem, não em um Jardim, mas em uma escrita.

É hora de bifurcar, também, até porque acho que é preciso falar de Fernando Pessoa quando se fala de Borges e de ficções da escrita.

File / Save / Close. I’m out there.

[1] Jorge Luis Borges, Ficciones, “El jardin de senderos que se bifurcan”, 1941.

[2] “Devir”, aqui, como o campo de potenciais quânticos que podem se realizar, mas talvez nunca se realizem de fato; e ficção não é uma equação matemática a ser lida como uma função de onda probabilística, o que seria bem interessante, contudo.

Terça-feira
jul272010

Borges e Calvino, PUC, ca. 1990

Eu passei a faculdade de letras com dois grandes traumas: Borges e Calvino. “Todo mundo” em volta não parava de me dizer quão genial era esse ou aquele texto de Borges e como “Se um viajante numa noite de inverno” era o mais fantástico dos livros.

Eu, que nunca tive ‘dificuldade’ em ler ninguém e sequer concebia o conceito de ‘autor difícil’, eu, que achava bonito e sonoro ler “Galáxias”, do Haroldo de Campos (é semi-incompreensível boa parte do tempo, mas é um dos livros mais belos que conheço), eu achava que eu tinha algum “problema” porque não conseguia passar do início do “Viajante” – na época, esgotadíssimo, mas eu tinha conseguido um exemplar emprestado [aliás, Adriana, ainda está comigo; se você passar no site, esteja onde estiver, eu devolvo, é só mandar um mail – e desculpas pelo atraso de 20 anos, mas você sabe como são as coisas …] – e Borges…. sei lá. Eu lia, achava as idéias geniais, aí acabava o texto e eu voltava para meus amigos e perguntava: tá, mas o cara não escreve.

Me insultavam horrores, mas Letras, na PUC, em 1990, entre meus amigos  e as muitas amigas e “amigas” (uma amiga trabalhou comigo no Gênesis, anos mais tarde, e um dia me disse que eu dividia as mulheres em “amigas” e amigas – ela fazia as aspas com as mãos e eu morria de rir; mas esta Márcia nunca teve aspas, devo dizer logo, antes que o então-já-marido dela me mate) ….

Me insultavam horrores, mas Letras, na PUC, em 1990, era um grande calvinbol literário e nos divertíamos muito, entre os amigos que faziam Lit. Inglesa e xingavam até a morte o (aparentemente intragável, não sei, fiquei com medo e nunca li) Chaucer de “A Trolha Crescida” [Troilus and … pois é], os que citavam trechos de ópera em alemão (ou italiano ou o que fosse) e em meio a todas as discussões sobre “as gavetas universo”, que ainda não virou um conto porque eu nunca encontrei um final (e Soninha também não estava em condições de explicar o final da teoria, no dia; no dia seguinte, o fato de eu ou qualquer outro dos presentes sequer nos lembrarmos do enunciado básico já era enorme prova de memória).

Tudo isso é fato – ou, pelo menos, “meus” fatos – mas eu estava falando sobre a questão com Borges e Calvino.

Até hoje não li o “Viajante” e sei que, se eu escrevesse isso, um monte de gente ia mandar mails ou comentários dizendo: como é que você não leu o Viajante?

Eu ia ter que explicar que li outros livros do Calvino, que amo, enormemente, as “Seis Propostas para o Próximo Milênio” (embora jamais tenha passado da primeira) e que acho interessante “O Visconde Partido ao Meio” (esse eu terminei, essencialmente porque era fino).

Sou apaixonado pelas “Cidades Imaginárias”, um livro que eu amaria ter escrito, a tal ponto que é como chamo as “Cidades Invisíveis”, título real do livro do Calvino. Que nunca li, óbvio, porque o conceito é tão genial, e o potencial é tão incrível, e o que imagino que o livro possa ser é tão fantasticamente bom que morro de medo de ler e me decepcionar. Então, assim como muitas vezes é melhor você não transar com aquela mulher for-mi-dá-vel que você conheceu (quando as expectativas são altíssimas, cair na real é muito pior), por vezes é bom deixar o PDF fechado no disco rígido. (Tá, tá, eu tenho uma cópia impressa, mas prometi dar para alguém legal quando desativar a Biblioteca Física de Babel na próxima mudança, que é este ano!)

Calvino é, para mim, o escritor que mais se aproxima da minha idéia dos “Livros de Próspero”, o que é outra história engraçada porque eu não acho que meu conceito dos Livros de Próspero tenha a ver com Shakespeare.

Mas eu prometi que meus textos não iam passar muito de uma página, então deixo para falar de Borges antes, ou depois, dependendo completamente de onde você entrar no Jardim dos Caminhos que se Bifurcam.

Segunda-feira
jul192010

O Globo, 18 de junho: 1 manchete, 100 milhões de ofendidos

No Rio, se você quer ler um jornal que dê conta, digamos, da vida cultural da cidade, pode escolher entre O Globo e O Globo. No Rio, fico triste pela pobreza cultural que nos reduziu a um jornal. No Rio, por incompetência, descaso, descuido, circunstâncias - não sei – perdemos o JB e jamais tivemos uma Folha ou um Estadão.

Vivemos no Fantástico Mundo d’O Globo que tem uma lógica só dele e muita retórica. Informação e seriedade? Os Classificados me parecem bem cuidados.

Não posso dizer, contudo, que o jornal não seja criativo e democrático.

A criatividade pode ser vista na manchete dos “100 milhões de brasileiros” que “vivem com dinheiro público”. Como assim “vivem com dinheiro público”? Sem fazer nada? Fantástico!, quero ir morar nesse país também, porque aqui, no Mundo Real, dou um duro enorme – e nem recebo o tal dinheiro do Governo, sou “iniciativa privada”, tudo o que sei é que pago um monte de impostos.

Quem são esses 100 milhões, “ou metade da população do país”? Talvez me falte clareza, mas, escrevendo agora, me parece que os 100 milhões são médicos; professores; pesquisadores universitários; as pessoas que trabalham duro em órgãos diversos do Governo. Talvez também a polícia, talvez bombeiros, quem sabe o exército? - não sou perito em contas públicas, lamento.

Sei que a conta envolve também os aposentados, pessoas que trabalharam a vida toda, pagando impostos e INSS, para, já velhos, verem sucessivos governos cortando seus benefícios. Ainda assim, devo crer, pela manchete, que “vivem com dinheiro público”, como se fosse algo que o Governo distribui livremente. E, sim, umas pessoas que recebem a Bolsa Família – pessoas afortunadas, claro, cuja renda é tão baixa que passariam fome se o Governo não as auxiliasse.

Embora os números bombásticos sejam “revelados” (o orçamento da União sendo, como todos sabem, um grande segredo) por um repórter, o Globo é democrático, não ‘diz’ nada e tira as conclusões que quer do estudo de um economista.

Números. Todos temos muitos números – talvez até corretos, sequer conheço o “estudo” que está sendo “revelado” para poder argumentar. Mas é estatisticamente notório que poucos conseguem dar bons significados aos números.

Pior ainda quando se trata de palavras.

Voltando. Há 48,8 milhões de brasileiros que - diz o jornal - “recebem este dinheiro” (“este dinheiro” é conhecido como salário, aposentadoria, bolsas). Como se chega a 100 milhões? Rá! Você usa a Retórica: troca o verbo “recebem” por “vivem”. Passa a levar em conta “um núcleo familiar básico de duas pessoas” e pronto: agora há 100 milhões de brasileiros [que] vivem com dinheiro público.

(E o jornal nem serve mais para embrulhar peixe… O que faço com ele?)

Acho uma façanha que os 16,2 milhões de beneficiados do INSS que recebem apenas um salário mínimo (pág.3) consigam pagar as contas de duas pessoas básicas. Nada é dito a respeito, mas vou supor que a segunda pessoa do “núcleo familiar básico” não trabalhe. Por certo alguém examinou atentamente os dados para afirmar que, no conjunto inicial de 48,8 milhões, não há casais – do contrário a multiplicação por dois perde o sentido, não é?

Ainda na primeira página. Abaixo do texto há uma foto profissional de uma obra não acabada no Rio. Nada a ver com o INSS nem com os cem milhões de brasileiros, mas parece estar lá para compondo as informações díspares: “100 milhões”, “Governo”, “obras não acabadas”: que desperdício…

É Fantástico porque, na página 3, sob o título “Dinheiro público, herança em votos?” (concluo que todos se aposentaram neste Governo, concluo que nos governos anteriores não havia servidores públicos) entrevistaram uns 4 doutores. Cada um ficou com uma frase solta e fora de contexto e, ao final, não sei o que foi dito. Sei que, nesta página 3, defino minha interpretação do que o jornal diz enquanto se ausenta de dizer: o Governo está comprando votos.

E eu achando que o aumento de 50 reais que meu tio-avó de 84 anos recebeu na aposentadoria era reposição por conta da inflação dos últimos anos. Ingênuo, eu! Agora está clara a malícia do Governo, tentando comprar os votos desse cidadão que, como muitos aposentados, NÃO VOTA MAIS!

Duas últimas coisas antes que eu deixe o jornal ser reciclado em paz.

Primeiro, se reclamam de “ganho eleitoral” por conta do Bolsa Família (ainda pág.3, ipsis literis), por que, na pág. 4, o título da matéria é “PT quer votos de beneficiados por programas sociais de Lula” – com o subtítulo perspicaz: “Estratégia é neutralizar promessa de Serra de duplicar Bolsa Família”. Devo supor que a promessa de duplicação da Bolsa feita por Serra (“segundo fontes”, diria um jornal) não visa um ganho eleitoral?

Segundo, acho que O Globo pode apoiar quem quiser. A briga entre jornais e governo ou jornais e oposição ou jornais e oposição que agora é situação, bom, isso é velho. Mas eu ficaria mais tranquilo se respeitassem a Lógica, um mínimo de coerência no pensamento, a inteligência dos leitores e, sobretudo, acho realmente peculiar que um órgão supostamente a serviço do público desrespeite tão violentamente seu público, incluído nesses 48,8 ~ 100 milhões de brasileiros. Briguem com o Governo, mas deixem os aposentados e trabalhadores em paz.

Já chega.

Carlos Irineu da Costa, 19 de julho de 2010

Terça-feira
jul132010

Os Números Idiotas

Vou confessar que, apesar de ter que me aturar todos os dias, o dia inteiro - eu até me lembro dos meus sonhos, então nem à noite tenho paz de mim! - tem horas em que ser ‘eu’ é divertido, quase surreal.

Eu ia escrever sobre um assunto que surgiu com meu colega Doppelganger: Yuri. Outro que flui pela web recolhendo coisas, misturando Aqui Dentro e Lá Fora. Yuri, de origem russa, me falava sobre Prypiat, uma cidade abandonada próxima a Chernobyl onde, hoje, já é possível andar durante algum tempo, com um medidor Geyger, porque o nível de radiação já se tornou suportável.

Mas não posso escrever sobre Prypiat sem mencionar Hashima, a ilha fantasma próxima a Nagasaki (não, nada a ver com a Bomba), porque foi em Hashima que o assunto começou.

Escrever sobre Hashima me lembra de uma coisa boa, que é o “Dead Cities”, um dos melhores albuns do Future Sound of London, por sua vez um dos meus grupos prediletos de música eletrônica.

Mas escrever sobre “Dead Cities”, apesar de divertido, vai me levar para longe de Hashima e Prypiat, e nesses dois lugares em que estou agora - browsers, os três monitores, Google Earth e, sobretudo, ‘meu ser’. Não dá para escrever sobre algo sem colocar o ‘seu ser’ neste lugar.

Finalmente começo a escrever sobre Hashima, como vocês poderão ler assim que este artigo também for ao ar. Exceto que, no meio do artigo, me pego tendo que ler a ‘ekka’ obvióide que se tornou a Wikipedia, o que é outro artigo - um mais longo e mais sério - que se junta a uma série de coisas que tenho pensado nos engarrafamentos (o carro, com música, e quieto, é um dos meus lugares prediletos para pensar, porque fico livre de qualquer outra obrigação ou distração, inclusive do celular), sobre os “idiotas da objetividade” que, claro, me levam a falar sobre Nelson Rodrigues.

Eu tenho um Módulo Editorial dentro de mim que fica dando broncas no meu Escritor Interno. O Escritor Interno, obviamente, está se divertindo com essa pletora de assuntos e não está nem aí para saber se vai ou não terminar de escrever tudo hoje, ou mesmo este ano. O Módulo Editor, contudo, reclama da ‘objetividade’, então os dois começam a discutir e chegam a um acordo: resolvem que este artigo aqui será escrito.

Como eu disse, é divertido (e movimentado) aqui.

Até porque o assunto principal eram os Números Idiotas, que são um acréscimo meu à Matemática. Está ficando longo, então deixo os Números Idiotas para outro artigo.

Por hora basta dizer que é perfeitamente possível ser ultra-objetivo e completamente idiota, por isso criei os Números Idiotas. Um bom exemplo está no artigo sobre Hashima, onde cito a “densidade populacional média” da Terra. Com quase 7 bilhões de habitantes, é só dividir pela extensão territorial do planeta e descobrir que dá algo como 50 pessoas por Km2 (ppk2, no Sistema Carlos). Mas, como a Wikipedia ainda é capaz de notar (vão remover isso em breve por não ser um ‘dado objetivo’):

Considering that over half of the Earth’s land mass consists of areas inhospitable to human inhabitation, such as deserts and high mountains, and that population tends to cluster around seaports and fresh water sources, this number by itself does not give any meaningful measurement of human population density.

“Considerando que mais da metade da massa de terra do planeta [da,da,de,do…inferno resolver isso nas traduções!!] é constituída por zonas inóspitas para a habitação humana, tais como desertos e altas montanhas, e que a população tende a se agrupar em torno de portos marítimos e fontes de água doce, este número, por si só, não dá qualquer medida significativa da densidade da população humana.” [Wikipedia, in Wikipedia: mudei a página e não vou voltar para procurar o link, mas está lá.]

Um fato objetivo é que os Números Idiotas proliferam, e não só na Wikipedia.